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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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"O livro dos homens sem luz" de João Tordo

Charneca em flor, 05.06.11

 

Ultimamente tenho-me dedicado aos autores portugueses. No caso de João Tordo, primeiro li os livros mais recentes (um deles foi Prémio Literário José Saramago em 2008, "As Três Vidas" ) e depois fui procurar os mais antigos. Esta obra foi publicada, pela primeira vez, em 2004 e foi publicada a 2ª edição agora em 2011. Foi esta 2ª edição, ainda por cima autografada pelo autor, que eu acabei de ler há alguns dias. João Tordo é, na minha modesta opinião, um escritor brilhante. As situações que ele desenvolve e a maneira como resolve os impasses é admirável. Situações tão inverossímeis mas que ele torna perfeitamente possível. Este "O livro dos homens sem luz" está organizado como se tratassem de pequenas histórias que tem um fio condutor, a personagem principal é sempre um homem e todos eles vivem, de algum modo, na escuridão, escuridão da alma e mesmo escuridão física. Algumas situações são duras já que as descrições são muito "reais" e "palpáveis", a leitura destas histórias nem sempre foi fácil mas valeu a pena. João Tordo consegue escrever estas histórias tão diferentes mas que se encadeiam de maneira divinal. João Tordo é um nome a fixar, sem sombra de dúvida.

 

"A última vez que o vi caminhava até ao portão. Ao olhar para trás teve por certo a miragem de uma sombra sentada na cadeira de balouço, rodeada de fantasmas, antes de seguir o seu caminho. Quanto a mim, ainda estou aqui, mas julgo que por pouco tempo. Escrevo estas palavras num mês incerto de 1959, e faz muito frio esta noite. O vento corre de quarto em quarto, largando sons, movendo coisas de que não recordo a existência. A guerra terminou há anos, o mundo é um lugar diferente, e todos aqueles que amei desapareceram. Vejo-lhes o rosto, no entanto, em cada uma das estrelas cadentes que se abatem sobre a neve e, ao contar os raios de luz que atravessam o céu, como vestígios de coisas passadas, sei que sempre vivi na escuridão"