"A tia Julia e o escrevedor", Mario Vargas Llosa
Este livro morava há algum tempo na minha estante aguardando o momento certo. Mario Vargas Llosa ganhou o Prémio Nobel em 2010 e este romance data de 1977. É uma história fantástica, divertida e autobiográfica. A história do jovem Marito mistura-se e confunde-se com as histórias escritas pelo escrevedor, Pedro Camacho, autor de sucesso de radionovelas. Marito procurava o seu caminho na vida entre o trabalho numa estação de rádio e o curso de Direito que nunca chegou a terminar. Reencontra a tia Julia, divorciada, irmã da mulher do seu tio, por quem se apaixona apesar da diferença de idade e da oposição da família. Através dos capítulos acompanhamos todas as peripécias desta atribulada relação. Ao mesmo tempo, Mario Vargas Llosa conhece Pedro Camacho, que escreve guiões para radionovelas de modo quase compulsivo. Pedro Camacho torna-se, para Mario Vargas Llosa, um exemplo de dedicação à escrita. As delirantes histórias de Pedro Camacho vão aparecendo, naturalmente, no meio dos capítulos autobiográficos tornando-se difícil seguir o fio à meada. Típico de alguns autores sul-americanos...
"Os amores com a tia Julia continuavam de vento em popa, mas as coisas iam-se complicando porque se tornava difícil manter a clandestinidade. De comum acordo, para não provocar suspeitas na família, tinha reduzido drasticamente as minhas visitas a casa do tio Lucho. Só continuava a ir com pontualidade ao almoço das quintas-feiras. Para o cinema à noite inventávamos várias artimanhas."
"Não eram instruções o que lhes distribuía, pelo menos no sentido prosaico de indicações concretas sobre como dizer as suas deixas - com mesura ou exagero, devagar ou depressas -, mas sim, segundo era o seu costume, pontificando, nobre e olímpico, sobre profundidades estéticas e filosóficas."