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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Festival ao largo 2014

Charneca em flor, 28.06.14

 

Começou, ontem, um dos melhores programas culturais de Verão dos últimos anos, o Festival ao Largo. A cultura saí à rua no Largo de São Carlos. A ópera, a música clássica ou o bailado deixam de estar confinadas ao interior das salas e invadem o belíssimo largo em frente do Teatro de São Carlos. Assim a cultura mais erudita fica ao acesso de todos, gratuitamente. Já tenho ido várias vezes e vale sempre a pena. O espectáculo de ontem foi transmitido pela RTP 2 naquilo que eu considero ser um verdadeiro sérviço público. Se tiverem subscrito daqueles serviços de televisão em que dá para ir ver os programas que já deram, não deixem escapar a oportunidade. 

O festival decorre até ao final do mês de Julho. Esperemos que as noites aqueçam para se tornar mais agradável ir até ao Largo de São Carlos se bem que, como costuma estar sempre cheio, não se deve sentir muito frio.

Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa

Charneca em flor, 27.06.14

 

 

 

Hoje assinala-se os 800 anos da Língua Portuguesa tendo como base o mais antigo documento régio escrito em português, o testamento do terceiro rei de Portugal, Afonso II. Para celebrar esta data foi lançado o "Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa", iniciativa que junta individualidades dos países da Lusofonia como por exemplo, deputados portgueses, como o Ribeiro e Castro e a Inês de Medeiros, o Presidente da epública de Cabo Verde, um professor de Língua Portuguesa numa universidade brasileira, diplomatas de alguns dos países que falam português, músicos como o Rui Reininho, escritores como o Pepetela e o Jacinto Lucas Pires, enfim, pessoas que reconhecem a importância da nossa língua. 

 

"A língua que falamos não é apenas comunicação ou forma de fazer um negócio. Também é. Mas é muito mais.

É uma forma de sentir e de lembrar; um registo, arca de muitas memórias; um modo de pensar, uma maneira de ser – e de dizer. É espaço de cultura, mar de muitas culturas, um traço de união, uma ligação. É passado e é futuro; é história. É poesia e discurso, sussurro e murmúrios, segredos, gritaria, declamação, conversa, bate-papo, discussão e debate, palestra, comércio, conto e romance, imagem, filosofia, ensaio, ciência, oração, música e canção, até silêncio. É um abraço. É raiz e é caminho. É horizonte, passado e destino."

 

Não tive oportunidade de subscrever fisicamente este manifesto quando tal foi possível na Feira do Livro mas deixo aqui a minha subscrição virtual. O Manifesto completo pode ser lido aqui

 

Esta tarde, no Padrão dos Descobrimentos, o Manifesto vai ser apresentado oficialmente. Também haverá a apresentação de poemas dos vários países de Língua Portuguesa, espectáculos musicais e lançamento de 800 balões. Para além disso, decorrerão mais iniciativas para celebrar esta efeméride até 10 de Junho de 2015. 

 

Muitos parabéns aos promotores deste Manifesto, tudo o que se possa fazer pela Língua Portuguesa é de valorizar. E muitos parabéns à Língua Portuguesa.

Romaria das Festas de Santa Eulália

Charneca em flor, 25.06.14

Aqui há dias assisti a um concerto ao vivo de António Zambujo no qual ele tinha alguns convidados. Um dos convidados era o Miguel Araújo. Uma das músicas que eles tocaram foi esta "Romaria das Festas de Santa Eulália". A letra é do Miguel Araújo e ele revelou que a inspiração desta letra veio de um conto de Miguel Torga, "A Festa", integrante da sua obra "Novos Contos da Montanha". Para mim, que gosto muito de todas as formas de utilização da palavra, acho importante esta ligação entre a literatura e a música. Quantos poemas portugueses só são conhecidos do grande público porque alguém, algum dia, se lembrou de os musicar? Não me lembro de conhecer outra música baseada numa obra literária em prosa. 

Aqui fica a música e a letra. Espero que gostem.

 

 

 

 

Em dia de romaria
Desfila o meu vilarejo
Ainda o galo canta o dia 
Já vai na rua o cortejo

O meu pai já está de saída
Vai juntar-se aquele povo 
Tem velhas contas com a vida
A saldar com vinho novo

Por mais duro o serviço
Que a terra peça da gente
Eu não sei por que feitiço
Temos sempre novo alento

A minha mãe, acompanhada
De promessas por pagar
Vai voltar de alma lavada 
E joelhos a sangrar

A minha irmã quis ir sozinha
Saiu mais cedo de casa
Vai voltar de manhãzinha
Com o coração em brasa

Por mais duro o serviço
Que a terra peça da gente
Eu não sei por que feitiço
Temos sempre novo alento

A noite desce o seu pano
No alto deste valado
O sagrado e o profano
Vão dançando lado a lado

Não sou de grandes folias
Não encontrei alma gémea
Há-de haver mais romarias
Das festas de Santa de Eufémia

Aquele Verão na Toscana de Domenica de Rosa

Charneca em flor, 21.06.14

De vez em quando, há livros que se intrometem no meio da leitura de outros. Andava eu a saborear "A Viagem à Índia" de que falei aqui quando encontrei, num site de um grupo editorial, uma série de ebooks em promoção. Tropecei neste

 

Assim deixei o Bloom conversando com um francês em Paris e embarquei num passeio pelas deliciosas paisagens da Toscana. A história gira à volta de um curso de escrita criativa realizado num castelo da Toscana. Tudo o que eu sempre sonhei ;)
Durante esse curso muita coisa acontece, desenham-se romances entre os participantes como não podia deixer de ser. Os participantes descobrem-se a si próprios e percebem as suas reais capacidades, ou a falta delas, e enfrentam fantasmas do passado. Para além disso, Domenica de Rosa transporta-nos para aquele cenário espectacular, leva-nos a Roma e a Siena, e faz-nos salivar com as descrições dos pratos que o Chef do Castelo prepara para os hóspedes. Um livro leve que se lê de uma assentada e ideal para o Verão. Uma história que distrai e faz sonhar. Não é essa uma das funções da literatura?!! Fazer-nos viajar sem sairmos da poltrona.
"O Castello della Luna está construído na encosta de uma montanha. De frente parece baixo e atarracado, demasiado pequeno para a impressionante entrada ladesda por pinheiros-mansos. Mas nas traseiras estende-se colina abaixo, com inúmeros terraçoa a transbordarem de buganvílias, hera e rosas selvagens. É um castelo genuíno, construído no século XIII  e restaurado no século XIX. Os anteriores donos acrescentaram dez das quinze casas de banhos existentes e construíram uma piscina no último terraço (...) O caminho que desce até à piscina está inundado por lavanda. Distraídamente, Patrícia esmaga uma flor entre o polegar e o indicador e inspira o inebriante e condimentado odor. Nos respectivos quartos, os hóspedes irão encontrar lavanda fresca nas gavetas e uma única flor delicadamente pousada sobre o conjunto de boas-vindas."

Um "inspira-me" fora de tempo

Charneca em flor, 19.06.14
A revista LER, da qual sou assinante, passou a ser publicada trimestralmente. Até aqui não há problema de maior até porque, muitas vezes, eu não tinha tempo de acabar de ler a revista anterior antes de chegar a edição seguinte. A publicação trimestral traz consigo a inevitável desactualização. O que dizer do anúncio alusivo à Feira do Livro, que terminou no dia 15 de junho, numa revista que me chegou às mãos no dia 17 do mesmo mês?! Por outro lado, quando me deparei com o dito anúncio atrasadíssimo, lembrei-me que ainda não tinha feito o post "inspira-me" sobre a Feira do Livro. Ora se a revista LER  pôde publicar um anúncio fora de horas, eu ainda vou a tempo de mostrar as minhas aquisições deste ano. A primeira surpresa (até para mim) é ter sido tão comedida com as compras.
 
Aproveitei o facto de "Uma viagem à Índia" ser livro do dia no dia que lá fui para me estrear na leitura de Gonçalo M. Tavares. E também tive a oportunidade de autografar o livro e conversar uns minutos com o autor que foi muito simpático. Adoro conversar com os autores dos livros. Quando vou à Feira do Livro e encontro algum autor que me interessa, compro sempre um livro escrito por esse autor para ter a oportunidade de trocar meia dúzia de palavras com o dito escritor. Já comecei a ler. É um livro que não se pode ler de "empreitada", tem que se ler devagar, digerindo cada passo desta viagem.
No dia em que fui à Feira, a Gabriela Ruivo Trindade também estava por lá, não só para sessão de autógrafos, mas também para receber o Prémio Leya 2013 de que ela foi vencedora. Também conversei com ela e lá trouxe mais um autógrafo. Nunca consigo resistir a um livro português que mencione, mesmo que vagamente, esse Alentejo onde estão as minhas raízes. Também achei a Gabriela simpática embora mais tímida do que o Conçalo M. Tavares, o que é natural já que é uma estreante.
Também comprei este livro do Pe José Tolentino Mendonça de quem já ouvi falar muito mas também nunca tinha lido nada dele. Há alturas na vida em que temos que nos encontrar com o nosso lado mais espiritual. E a oração do Pai Nosso é tão rica que há sempre mais qualquer coisa para descobrir sobre ela.
Ficaram por comprar estes dois:
Tanbém eram livro do dia e uma excelente oportunidade de compra mas, no caso do Fernando Pessoa, a fila de pagamento era enorme e a tarde já ia longa. No caso do segundo esqueci-me aonde estava à venda. Fica para outra vez.
Agora é só haver tempo para pôr as leituras em dia.

Ler, hoje, o "Memorial do Convento"

Charneca em flor, 02.06.14

Li, algures, que a Porto Editora vai reeditar os livros de José Saramago com um novo grafismo. Hoje, durante o almoço, comentei este facto e perguntaram-me se alguém ainda comprava os livros dele. Imagino que ainda se compre e muito. E porquê, se o autor já morreu há vários anos? Porque as suas obras, as suas histórias e o seu enquadramento são tão actuais como eram no momento em que foram escritas. Nas últimas semanas tenho andado a ler o brilhante "Memorial do Convento". Já muito deve ter sido escrito sobre este livro mas cada leitor sente a obra à sua maneira, com as suas vivências e com o seu olhar sobre o mundo que o rodeia. Como qualquer outro livro de Saramago é preciso ler o "Memorial" com muita dedicação já que ele escrevia como se estivesse a conversar entre amigos. As várias partes da história encadeiam-se de tal forma que nos dão aquela sensação que o povo descreve com a expressão "as conversas são como as cerejas". Fica sempre a dúvida se o Convento é a personagem principal ou se é apenas cenário para uma das mais belas histórias de amor da literatura portuguesa. Para mim, toda a obra gira à volta dos sonhos e dos desejos dos homens sejam eles quem forem, D. João V, Baltasar, Blimunda ou o Padre Bartolomeu. O desejo de um filho leva o rei a gastar fortunas para construir um convento grandioso como pagamento de uma promessa. O desejo carnal une, de modo especial, Baltasar e Blimunda. E os sonhos do Padre Bartolomeu deram sentido à sua vida mas também o levaram à perdição. Com qual destas personagens é que cada um de nós se pode identificar? Os desejos e os sonhos dão sentido à nossa vida e comandam os nossos passos, ou pelo menos, deveriam comandar. Para além disso é impossível ler as passagens que fazem referência às conversas entre D. João V e o seu guarda-livros sem nos lembrarmos de todas as obras megalómanas que se foram fazendo ao longo do tempo em Portugal. Já vem de longe, os portugueses meterem-se em trabalhos para realizarem obras grandiosas. No entanto, sem um bocadinho dessa imprudência económica, não teríamos descoberto novos mundos, não teríamos o espectacular Palácio e Convento de Mafra ou, muito mais recentemente, não teríamos realizado acontecimentos marcantes como a Expo98 ou Euro2004. Em todos os momentos da História tem, sempre, que existir alguma loucura. Como disse outro grande autor português "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". Na minha opinião, José Saramago foi um génio, ou melhor, é um génio porque autores como ele nunca morrem, renascem de cada vez que alguém pega e lê um dos seus livros.

 

"Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, está calado, apenas olha fixamente Blimunda, e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago, porque olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou verde, ou brancos brilhantes como lascado carvão de pedra. Veio a esta casa não porque lhe dissessem que viesse, mas Blimunda perguntara-lhe que nome tinha e ele respondera, não era neessária melhor razão."  

 

"Nunca perguntamos se haverá juízo na loucura, mas vamos dizendo que de louco todos temos um pouco. São maneiras de nos segurarmos do lado de cá, imagine-se, darem os doidos como pretexto para exigir igualdades no mundo dos sensatos, só loucos um pouco, o mínimo juízo que conservem, salvaguardarem a própria vida..."