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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

"Galveias", José Luís Peixoto

Charneca em flor, 28.02.15

 

17488927_l6akw.jpgTentando cumprir a resolução de ano novo, decidi ler este livro que estava em espera há algum tempo. José Luís Peixoto é um dos meus escritores preferidos. O primeiro lvro que li dele foi o romance anterior "Livro" e a partir desse fui à procura dos outros livros. José Luís Peixoto é uma figura cativante e intrigante. Não tem a imagem típica de escritor (será que isso existe?) com as suas tatuagens e piercings. Adoro as suas entrevistas na televisão e na rádio e é uma estrela nas sessões de autógrafos. A sua presença na Feira do Livro nunca passa despercebida. É muito, muito simpático e parece gostar de conversar com os leitores o que significa esperar uma eternidade por um autógrafo. Para além dessas qualidades, é da minha geração e cresceu numa terra, Galveias, muito perto da zona onde passei muitos dos verões da minha infância. Quando leio os seus livros mais rurais identifico-me com muito do que leio. Este seu romance não só é fantástico como me transportou 30 anos atrás. Voltei a correr pelas ruas quentes do "nosso" Alentejo. Voltei a ouvir as motorizadas dos meus tios ou do meu pai ao final da tarde. Revi os rostos queimados pelo sol dos  homens e mulheres que regressavam do trabalho ao fim do dia. Na minha opiniâo, é o seu melhor romance. As personagens são maravilhosas e as histórias interligam-se com mestria. Às vezes, escreve com um certa crueza, um realismo extremo que pode ser chocante para almas mais sensíveis. Percebo a necessidade que ele teve de escrever este romance especialmente depois de ter corrido mundo, viajado por países longínquos e improváveis como a Coreia do Norte. No fundo, ele ainda é "o filho do Peixoto da serração e da Alzira Pulguinhas".

A meu ver, "Galveias" é, também, uma forma de não deixar morrer a sua terra natal, neste tempo em que o interior está cada vez mais desertificado. Por isso ele termina assim:

 

"Galveias não pode morrer.

Por todas as crianças que deixaram a infância naquelas ruas,  por todos os namoros que começaram em bailes no salão da sociedade, por todas as promessas feitas aos velhos que se sentavam à porta nos serões de agosto, por todas as mães que criaram filhos naqueles poiais, por todas as histórias comentadas no terreiro, por todos os anos de trabalho e de pó naquela terra, por todas as fotografias esmaltadas nas campas do cemitério, por todas as horas anunciadas pelo sino da igreja, contra a morte, contra a morte, contra a morte, as pessoas seguiam aquele caminho.

Suspenso, o universo contemplava Galveias."