Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

E como vão as leituras?!

Charneca em flor, 27.01.19

Tenho falado por aqui da minha vontade de ler mais. Assim sem dar por isso já li um livro este mês e o outro já vai a mais de meio. Em termos de ebooks, até fui mais acelerada. Tenho estado a ler a série "A pousada de Sunset Harbour" de Sophie Love na app Livros da Google. Só tem o defeito de ser em português do Brasil. Não é uma obra-prima da literatura mas é uma história de superação dos obstáculos e das dores do passado e uma linda história de amor. Quem não gosta?! Já li 5 livros da série mas agora tenho que esperar que apareçam os restantes traduzidos em português.

O livro que estou a ler agora foi Prémio Leya em 2015. Passa-se durante os últimos anos da nossa ditadura, numa aldeia beirã. O autor utiliza inúmeras palavras que desconheço. Vou partilhar algumas por aqui.

Começando:

Lapúrdio - Na frase "Diz ela que havia três cavadores na aldeia, qual deles mais lapúrdio."

Procurando pelo significado não encontrei grande informação a não ser que lapúrdio quer dizer o mesmo que lapuz. Sendo que lapuz quer dizer " homem grosseiro, rude, labrego"

Encontrei um poema na rua

Charneca em flor, 21.01.19

Já há umas semanas que não deixo aqui uma citação. Ontem encontrei um poema inteiro numa parede. Ruy Belo nasceu em Rio Maior e morreu em Queluz com 45 anos. Apesar de ter morrido tão cedo é considerado um dos mais importantes poetas da segunda metade do séc. XX.

20190120_221644.jpg

Um dia passarão pelos meus versos
Como eu agora passo por diante destas esculturas
que não merecem mais que um apressado olhar
Mas na tua presença eu tenho de parar
dama desconhecida com certeza viva mais aqui
que no segundo século em Roma onde viveste
Moldaram-te esse rosto abriram-te esse olhar
decerto impressionante para que uns dezoito séculos mais tarde
te pudesse encontrar quem mais que tu morreu
mas te ama ó mulher perdidamente
Não mais te esquecerei hei-de sonhar contigo
sei que te conquistei e libertei
de qualquer compromisso que tivesses
Ninguém sabe quem eras nem eu próprio
não tens sequer um nome uns apelidos
nada se sabe acerca do teu estado civil
Sei mais que tudo isso porque sei
que atravessaste séculos na forma de escultura
só para um dia nós nos encontrarmos
Tenho mulher e filhos sou de longe
a lei é rígida e severa a sociedade
Não te importes mulher deixa-te estar
não penses não te mexas podes estar certa
de que me deste mais do que tudo o demais que me pudesses dar
pois para ser diferente de quem era
bastou-me ver teu rosto e mais que ver olhar

 

 

Laços de Família, Clarice Lispector

Charneca em flor, 15.01.19

Só conhecia Clarice Lispector das citações que aparecem um pouco por todo o lado. Nunca tinha lido nada dela. Já tinha pesquisado sobre ela e já sabia que ela não tinha nascido no Brasil mas sim na Ucrânia e que tinha tido uma vida muito complicada. Não sei se comecei pela obra mais indicada. O livro lê-se muito bem até porque são pequenos contos. Todos eles têm como protagonista, uma mulher e a sua relação com a família. Todas essas mulheres vivem situações limite a nível psicológico. Através destas histórias confrontamo-nos com os nossos próprios fantasmas anteriores. Assim que possível vou tentar ler outro livro dela.

"É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de Amor. Ela amava aquele explorador amarelo. Se soubesse falar e dissesse que o amava, ele inflaria de vaidade. Vaidade que diminuíria quando ela acrescentasse que também amava muito o anel do explorador e que amava muito a bota do explorador. E quando este desinchasse desapontado, Pequena Flor não compreenderia por quê. Pois, nem de longe, seu amor pelo explorador - pode-se mesmo dizer seu "profundo amor", porque, não tendo outros recursos, ela estava reduzida à profundeza - pois nem de longe seu profundo amor pelo explorador ficaria desvalorizado pelo fato de ela também amar a sua bota."

Centenário de Sophia

Charneca em flor, 14.01.19

21294287_zfYKN.jpeg

 

Este ano, Sophia de Mello Breyner Andersson faria 100 anos no dia 6 de Novembro. Por iniciativa da sua filha Maria Andresen de Sousa Tavares, durante todo o ano irão realizar-se inúmeras actividades para celebrar a sua vida e a sua obra. Desde colóquios, exposições, concertos entre outros eventos. O programa pode ser consultado aqui. Uma oportunidade para celebrarmos a literatura portuguesa celebrando a vida de um dos seus nomes maiores.

"No Centenário do seu nascimento, comemorar Sophia é comemorá-la, lembrá-la em comum. E é celebrar essa funda e desassombrada exaltação da vida, essa aguda e universal consciência do mundo de que a sua poesia dá testemunho para sempre.

(...)

Celebrar Sophia no Centenário do nascimento é ouvir a sua voz dizer os poemas por onde passam o mundo e a vontade de o tornar real, nítido e justo como são as palavras em que o disse."

                                Manifesto do Centenário de Sophia

Desafio literário, update

Charneca em flor, 09.01.19

Fui muito conservadora neste desafio que impus a mim mesma. Afinal, no espaço de 1 semana, já consegui ultrapassar as 50 páginas lidas. No livro físico vou na página 60. Os "Laços de Família" da Clarisse Lispector são pequenos contos e dá para ler, pelo menos 1 por dia. O ebook, da app Play Livros, "Para todo o sempre" já vai na página 124. Por isso já li 184 páginas. Assim o desafio para os próximos dias é ultrapassar as 200 páginas semanais. Vamos ver se consigo.

Guerra e Paz, Lev Tolstoi

Charneca em flor, 04.01.19

Quando se viaja para um país estrangeiro, há várias maneiras de o conhecer. Pelas paisagens, pelos monumentos, pela música, pela gastronomia, pelos mercados e supermercados para nos misturarmos com os locais ou pela literatura. Já por várias vezes que continuo a viajar através dos livros que leio. Quando voltei da Hungria, li "As velas ardem até ao fim" de Sandór Márai e quando voltei dos Balcãs li "A ponte sobre o Drina" do Prémio Nobel Ivo Andrić. No último Verão estive em São Petersburgo na Rússia. Quando voltei não descansei enquanto não comprei o clássico da literatura "Guerra e Paz". Meti-me numa grande empreitada que durou de Setembro até Dezembro. E ainda só li o primeiro volume. 

Para quem gosta de literatura era uma grande lacuna nunca ter lido nenhum clássico russo. 

Apesar de não ser uma obra fácil, gostei muito da experiência. O enquadramento histórico que serve de fundo às várias histórias está muito, muito bem feito. Acompanhamos as desventuras das tropas russas contra as investidas de Napoleão Bonaparte. O que é interessante é como a guerra fica distante da alta sociedade que continua a participar nos serões, nos bailes ou a assistir à ópera. Tolstoi faz um retrato impressionante da sociedade russa fazendo uma certa crítica social através de uma ironia refinada. Embora não se possam comparar génios, quase que me faz lembrar o nosso Eça de Queiroz embora Lev Tolstoi faça uma crítica mais "disfarçada", quase imperceptível mas acutilante. 

Como qualquer clássico, pode-se considerar uma história intemporal. Aliás, essa é a definição de clássico, não é verdade? Muitas das manias da sociedade russa da altura, são também as manias da sociedade actual principalmente no que diz respeito às desigualdades sociais. 

Uma obra que deve fazer parte da prateleira de qualquer amante da literatura.

20190104_083229.jpg