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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

A filha devolvida, Donatella di Pietrantonio

Charneca em flor, 29.09.19

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Li este livro em pouco mais de uma semana. Comprei-o por impulso. Não sei o que me chamou mais a atenção. Se foi o facto de se tratar de uma autora italiana (um dos meus países preferidos), se foi o título ou a foto escolhida para a capa. Os olhares destas duas jovens são verdadeiramente magnéticos. Seja qual tenha sido o motivo para ter pegado nele, valeu muito a pena. A história tem tanto de candura como de dureza. A articulação da história é cativante. Na primeira "cena" deste romance, escrito na primeira pessoa, encontramos uma adolescente de 13 anos que acabara de descobrir foi  criada por um casal que, afinal, não eram a sua verdadeira família. Em simultâneo, a jovem é devolvida à família biológica, alegamente, por solicitação desta. Logo nos primeiros momentos, a jovem percebe que isso não deve ser a verdadeira razão da sua devolução. Depois de 13 anos de uma vida confortável e privilegiada, vê-se no meio de uma família numerosa, pobre e que não parece desejá-la. A relação com Adriana, a irmã mais nova que a recebe com alegria, e com o irmão mais velho, Vincenzo, vão-lhe dar forças para aguentar aquele novo ambiente e para continuar a tentar descobrir qual é o seu lugar no mundo e a perceber a verdadeira história da sua vida.

Este romance só tem um defeito. Quando acabou, fiquei com vontade para continuar a acompanhar a vida da jovem narradora e da sua pequena, e voluntariosa, irmã Adriana.

"Imobilizámo-nos diante uma da outra, tão sós e próximas, eu mergulhada até ao peito, ela até ao pescoço. A minha irmã. Como uma flor improvável, que despontara num pequeno grumo de terra preso a uma rocha. Com ela, aprendi a resistência. Hoje, somos menos parecidas fisicamente, mas a nossa noção de termos sido atiradas para o mundo permanece igual. A cumplicidade salvou-nos."

 

P.S - Ao ler esta autora italiana, fiquei cheia de saudades das personagens da Elena Ferrante. Está a chegar a altura de ler o último volume da tetralogia d' "A amiga genial".

Ai, a Língua Portuguesa

Charneca em flor, 28.09.19

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Eu sou uma pessoa que aprecia a Língua Portuguesa. É por isso que gosto de ler e escrever. Gosto, particularmente, que a nossa Língua seja bem escrita e bem falada. Devido à minha participação no Desafio dos Pássaros, tenho-me apercebido que o meu vocabulário poderia ser mais extenso. Afinal, a Língua Portuguesa possuí milhares de palavras. Bem que eu podia utilizar muitas palavras do que aquelas que utilizo habitualmente.

Esta introdução serve para vos descrever uma cena caricata a que assisti há pouco. Eu estava a chegar a casa e assisto a um reencontro entre 2 jovens, provavelmente amigos. Um deles tinha chegado de carro acompanhado de um outro rapaz. Aquele que o esperava, depois dos cumprimentos iniciais (que incluiram a fórmula preferida dos jovens: "Então, puto?!"), diz para o que tinha chegado de carro, e referindo-se ao acompanhante:

- Ele fala tuga? Ou só inglês?

Fiquei estupefacta. Desde quando é que falar português passou a ser falar tuga?!

Desafio de escrita dos Pássaros tema#3

Alegria contida

Charneca em flor, 27.09.19

Esta semana, o desafio foi escrever sobre uma aventura ou um momento marcante. Para acompanharem todo o desafio, é só passarem por aqui. Aqui está o meu contributo.

 

Todos anos, em Setembro, recordo, com carinho, um dos momentos mais felizes da minha vida.
O Verão de 1992 foi, para mim, o mais longo de sempre. Durante esses meses esperei, ansiosamente, pelos resultados do concurso de acesso ao ensino superior. Todos aqueles que me eram próximos, família e amigos, davam-me força fazendo-me acreditar que o meu ingresso no ensino superior era quase certo mas, parte de mim, receava que eles não tivessem razão.
Nesse ano distante, a internet ainda não tinha sido democratizada. Aliás , a rede que comanda a nossa vida, pouco mais era que uma criança. Por isso, nos idos de 90, os candidatos a universitários tinham que se deslocar à sede do distrito e procurar o nome nas pautas de colocação.
Assim, no dia marcado pela manhã, eu e as minhas amigas lá fomos, alegremente, de autocarro até Santarém. Os resultados eram afixados no Instituto Politécnico. Era preciso andar um bom bocado a pé, e a subir, para lá chegar. A nossa excitação nem nos deixava sentir o cansaço. Lá chegadas, foi cada uma procurar o seu nome.
Ainda consigo sentir a mesma emoção que me invadiu naquele momento em que li a palavra “colocado" à frente do meu nome. Com o coração aos pulos, fui procurar as minhas amigas Infelizmente, só uma delas, a Catarina*, é que tinha entrado. Eu e ela nem sabíamos como agir. Afinal, nós queríamos extravasar a alegria por termos conseguido realizar o nosso sonho mas isso contrastava com a desilusão de quem não tinha alcançado esse objectivo. Nós tínhamos vontade de chorar de alegria mas havia outros rostos molhados com lágrimas de desgosto. Eu e a Catarina* tentámos controlar a nossa euforia para não as magoarmos.
A viagem de regresso pareceu mais demorada que o normal. Faltava a alegria despreocupada da manhã. Só quando chegámos à nossa terra, e conseguimos ficar sozinhas, é que demos largas à nossa felicidade. Corremos até à minha casa, que era mais perto para contarmos à minha mãe. Eu tive a ideia de lhe pregar uma partida dizendo que não tínhamos entrado. Ainda tentámos “mentir" mas, assim que chegámos à porta, desatámos a rir desalmadamente como só se consegue rir aos 18 anos. A minha mãe nem precisou de perguntar porque descobriu, facilmente, a resposta. E foi ali, na soleira da porta, que pudemos libertar a alegria que tinha estado contida durante todas aquelas horas.

*Nome fictício, personagem real

 

Desafio de escrita dos Pássaros #2

É só um estalo

Charneca em flor, 20.09.19

A minha história começou há alguns anos. Nunca fui muito namoradeira. Durante a adolescência preferia ficar a estudar ou a ler do que sair com as minhas amigas. Como era muito introvertida, tinha alguma dificuldade em conversar com os rapazes sem ficar corada. Na faculdade, tornei-me um pouco mais sociável. O ambiente académico fez com que eu me libertasse da minha timidez e até tive alguns namoros mas nunca tive muita experiência amorosa.
Quando comecei a trabalhar, conheci aquele que seria o meu marido. Eu tomava café sempre na mesma pastelaria. Ele também. A dada altura, os nossos olhares cruzaram-se. Nunca pensei que aquele homem lindo reparasse em mim. Mas, para minha surpresa, ele não só reparou em mim como me convidou para jantar. Ele era muito sedutor e eu apaixonei-me loucamente. Daí até começarmos a namorar e ele fazer o “pedido", passaram muito poucos meses. Eu estava encantada mas a minha família, e os meus amigos, achavam que eu estava enfeitiçada. Todos me aconselhavam em não embarcar num casamento tão depressa. Afinal, eu conhecia-o muito mal e não sabia nada do seu passado.
Umas semanas antes do casamento, durante uma discussão, ele deu-me um estalo. Eu não contava com aquela atitude e fiquei sem reacção. Mal eu sabia que aquilo era só o início. Com o casamento, tudo piorou. A pouco e pouco, ele conseguiu afastar-me da minha família e dos meus amigos. Ele insistia para que eu ficasse grávida. Como também tinha esse desejo, deixei de tomar a pílula. Na minha ingenuidade, acreditava que um filho o iria suavizar. Não podia estar mais enganada. As discussões e a violência foram crescendo. Mesmo durante a gravidez, ele não teve qualquer pejo em bater-me. Podem perguntar: “Mas porque é que não o deixaste?”. Não tenho uma resposta para essa pergunta. A verdade é que ele me fazia acreditar de que, de certa forma, eu era a culpada.
Quando ele bateu na nossa filha, fez-se luz. Aquilo não podia continuar. Resolvi deixá-lo mas ele apanhou-me a fazer as malas. Nesse momento, a minha vida acabou. Literalmente. Ele espancou-me até à morte.
Agora estou aqui, gelada, neste caixão rodeada pela minha família e pelos meus amigos. Queria pedir-lhes desculpa por não ter acreditado neles mas eles não me conseguem ouvir.
Tudo começou com aquele primeiro estalo que eu perdoei. Porque nunca é só um estalo. É por aí que tudo começa.

 

Aqui está a minha participação no Desafio de Escrita dos Pássaros. Num registo mais sério do que na semana passada.

Paolo Cognetti, "As oito montanhas"

Charneca em flor, 16.09.19

As-Oito-Montanhas.jpgNão me lembro quando é que comprei este livro. Possivelmente foi depois de alguma das minhas viagens à Itália, para matar saudades da cultura italiana. Neste romance há 3 personagens principais, no meu entender, Pietro, Bruno e a montanha. A acção desenrola-se desde a infância dos 2 homens, passando pela adolescência e até à vida adulta. Conhecem-se numa aldeia, no sopé do Monte Rosa, nos Alpes. Pietro vive com os pais em Milão. Os pais têm, ambos, paixão pela montanha que foi onde se conheceram e alugam uma casa na aldeia de Grana para passarem o Verão. E é assim que Pietro e Bruno se conhecem. Juntos exploram a montanha, ao longo dos vários verões que Pietro passa na aldeia e constroem uma relação fraternal, entre eles e com a montanha, que se estenderá pela vida fora, apesar de alguns anos de afastamento.

O próprio autor tem uma relação privilegiada com a montanha já se divide entre a cidade e uma casa a 2000 metros de altitude.

O livro "As oito montanhas" é uma obra bela e encantadora que não se consegue parar de ler. A linguagem, apesar de ser em prosa, é poética, de uma certa forma. As descrições de Paolo Cognetti transportam-nos para a montanha e sentimo-nos  também nós, a subir à montanha. Se te sentes fascinado pela imensidão, pela dureza, pela resistência da montanha e acreditas no poder da amizade, este é o livro indicado para ti.

"Talvez fosse verdade, como afirmava a minha mãe, que cada um de nós tem uma cota predileta na montanha, uma paisagem que lhe agrada mais e onde se sente bem. A sua era o bosque dos 1500 metros, de abetos e larícios, à sombra dos quais crescem o mirtilo, o zimbro e o rododendro e se escondem os cabritos-monteses. Eu era mais atraído pela montanha que vem a seguir: pradaria alpina, torrentes, turfeiras, ervas de altitude, animais no pasto. Mais acima a vegetação desaparece, a neve cobre tudo até ao começo do verão e a cor prevalecente é o cinzento da rocha, com veios de quartzo e tendo incrustado o amarelo dos líquenes. Ali começava o mundo do meu pai."

Que venha o próximo

Charneca em flor, 15.09.19

Ainda não consegui ler todos os textos do Desafio de escrita dos Pássaros mas estou encantada. É tão engraçado ver as várias formas de dar à volta ao tema "Problemas, só problemas". Uns foram pelo lado do humor, outros trataram o tema de forma mais séria. Há quem tenha dissertado sobre a dificuldade do tema, há quem tenha recuado às memórias da infância e até apareceu uma blogger que apresentou, efectivamente, 2 problemas matemáticos. Enfim, já dá para perceber que há muito talento por essa blogosfera fora. 

Eu, por mim, estou ansiosa para que chegue o próximo tema . Até lá pode-se seguir a publicação dos "Problemas, só problemas" aqui.

Desafio de escrita dos Pássaros #1

Antes os meus problemas do que os dos outros

Charneca em flor, 13.09.19

Sofia não conseguia adormecer. O dia tinha sido muito complicado. No emprego tinha tido uma grande discussão que tornara o ambiente pesado. Quando chegou ao carro, descobriu que alguém lhe tinha amolgado o pára-choques e nem se tinha dignado a deixar o contacto. O marido estava cada vez mais acomodado e as suas noites eram rotineiras e pouco românticas. Desabafara as suas mágoas no blogue e, agora, suspirava ao olhar para as vidas perfeitas do Instagram. Ela dava tudo para ter um quotidiano, assim, glamoroso.
De repente formou-se uma névoa à volta do seu telemóvel de onde surgiu um belo jovem, igualzinho ao Lourenço Ortigão.
- Boa noite. Eu sou o génio do Instagram. Estou aqui para realizar os teus desejos.
Sofia estava estupefacta. Olhou para o lado para ver se o marido tinha acordado mas ele dormia tão profundamente que até ressonava.
- Mas, mas… isto não pode estar a acontecer. Nunca ouvi falar de um génio do Instagram.
- Eu só apareço em situações especiais. Afinal, o que é que precisas para ser feliz?
Sofia ficou muito atrapalhada.
- O que eu mais desejo é viver uma vida como estas que aparecem no Instagram.
- Tens a certeza? Então assim seja.
Sofia acordou para um novo dia. O seu quarto estava perfeito, sem sinais da desarrumação habitual, O marido aparece com um tabuleiro. Quer dizer parece o marido dela, Gonçalo, mas está diferente, com um físico invejável.
- Então, dorminhoca? Estamos atrasados para o ginásio. Tens aqui a tua granola. Hoje temos um dia cheio.
Mas quem é este? O Gonçalo nunca pôs um pé num ginásio, pensou Sofia. Nem queria acreditar no que ouvia
Mas isto foi só o princípio. Sofia entrou numa roda-viva de treinos, encenação de stories para a sua página de Instagram, fotos e mais fotos em poses impossíveis para alimentar a ânsia voyeurista dos seus mais de 20 mil seguidores. Não sabia quanto tempo iria aguentar naquela montanha-russa.
- Acorda, Sofia. Estás a ter um pesadelo. – Sofia acordou com Gonçalo a abaná-la.
- O que aconteceu? – acendeu a luz e olhou em volta. Estava, novamente, no seu quarto de sempre.
Tinha sido um sonho, ou melhor, um pesadelo. Ainda bem. A vida de Instagram não era para ela. Mal por mal, preferia a sua vida anónima e verdadeira mesmo com problemas. E já não aguentava comer panquecas durante mais tempo.

 

No que é que me fui meter?!

Charneca em flor, 08.09.19

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Imagem daqui

Como tenho muito tempo livre , aderi ao Desafio dos Pássaros. Quando vejo um desafio, não consigo resistir. Tenho que me inscrever . Só percebi que o desafio se estendia por 17 loooongas semanas depois de me ter inscrito. Devo ter lido as regras na diagonal. Agora o mal já está feito . O Desafio dos Pássaros consiste num desafio de escrita. Todas as semanas será lançado um tema. Gosto muito de escrever mas, às vezes, falta-me a inspiração. Por isso este desafio é "ouro sobre azul". Os textos com que participarei no desafio serão publicados aqui no "Livros de Cabeceira e outras histórias" porque faz mais sentido do que no "O Voo da Garça"  Esta semana já escrevi um texto para explicar porque é que me inscrevi no desafio. 

Aqui está o primeiro andamento do desafio:

Quando comecei a ler e a escrever, abriu-se um novo mundo para mim. Foi assim que comecei a viajar, através das histórias que lia. Ler era, de longe, a minha actividade favorita.
Todas as horas que passei a ler ajudaram-me muito no meu desempenho escolar. Adorava quando tinha a tarefa de fazer uma composição. As minhas composições eram, frequentemente, elogiadas. Foi assim que fui adquirindo gosto pela escrita. Aliás, como era muito tímida, a escrita foi-se tornando um escape. Ainda devem existir, em casa da minha mãe, folhas e folhas com as minhas histórias e os meus poemas. Na adolescência foi surgindo, na minha cabeça, o sonho de me tornar escritora e publicar livros como aqueles que eu lia compulsivamente. Esse sonho levou a que me tivesse sentido indecisa entre as Letras e as Ciências quando surgiu a altura de decidir o meu futuro académico. As Ciências venceram este duelo quer porque também gostava muito dessa área quer por motivos bem prosaicos. Sempre me pareceu que a empregabilidade na área científica seria superior. Nunca me arrependi dessa escolha porque gostei muito do meu curso e sou muito feliz na minha profissão. No entanto, o sonho da escrita nunca se extinguiu por completo. Nesta fase da vida, já percebi que a minha escrita não tem qualidade suficiente para publicar um livro mas continuo a gostar muito de escrever.
Quando comecei a ouvir falar dos blogues vi aqui uma óptima oportunidade para dar largas à minha paixão pela escrita. Infelizmente, nem sempre tenho tempo para escrever tanto quanto gostaria. O stress do dia-a-dia acaba por afectar a minha imaginação e, ao longo do dia, lembro-me de temas interessantes sobre os quais escrever mas, quando estou perante a página em branco, a inspiração acaba por me fugir. Ora quando, nos meus passeios pela blogosfera, encontro algum desafio, fico logo entusiasmada. É uma oportunidade de me pôr à prova, de ultrapassar as minhas limitações, tentar dar o meu melhor e viver intensamente a minha paixão pela escrita.

A vida no campo vol II - Os anos da maturidade, Joel Neto

Charneca em flor, 01.09.19

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Antes de começar este post, fui consultar o arquivo do blogue para ver se tinha escrito sobre o 1o volume de "A vida no campo". Descobri 2 coisas. Primeiro descobri que não partilhei convosco as minhas impressões sobre esse livro mas descobri que as histórias de Joel Neto têm acompanhado as minhas férias desde 2017. Em Agosto de 2017 li "Arquipélago" e em Agosto de 2018 terminei de ler "Meridiano 28". Nestas férias que agora ter terminam li as maravilhosas crónicas de "A vida no campo". Curioso, não é? Joel Neto transporta-me para o encantador universo das ilhas açorianas. A minha primeira viagem de avião foi até aos Açores e foi uma viagem inesquecível.

"A vida no campo" reúne crónicas, originalmente publicadas no Diário de Notícias, sobre a vida de Joel Neto depois de voltar às origens, ou seja, depois de regressar à sua ilha natal. Em 2012, Joel Neto deixou a sua vida em Lisboa e foi viver, com a mulher, a tradutora Catarina Ferreira de Almeida, para a Ilha Terceira. As pessoas que vivem na sua aldeia, e que fazem parte das suas recordações, são a principal fonte de inspiração para as suas fantásticas crónicas. Mas também as suas conquistas no jardim que vai construindo com a ajuda dos amigos. E as pequenas coisas do dia-a-dia, uma fatia de pão de milho, as árvores, as flores, os passeios com os cães, todos são personagens dos pequenos episódios d' "A vida no campo". 

As histórias de Joel Neto são tão mais ricas quanto mais singelas. Transparecem uma felicidade que só é possível a quem ousa viver num contacto íntimo com a natureza mas também com os outros. As crónicas d' "A vida no campo" são pequeninas jóias da literatura.

"Lugar de Dois Caminhos

Sábado, 1 de Setembro

(...)

Uma figueira. Enorme e tentacular - suportada por estacas, já, nos seus ramos mais gordos e trémulos. Em quantas mesas de jantar terão estado os seus frutos, os dela e os das suas crias? A quantos aniversários terão assistido? E nascimentos? E casamentos? E divórcios? De quantos momentos de alegria esfuziante terão partilhado? De quantas tragédias? De quantos silêncios lentos e irreparáveis? Poderiam  as amoras das minhas amoreiras partilhar desses momentos? Poderia eu plantar uma figueira igual e ainda ir a tempo de subsistir dela?

Sempre deram boas parábolas, as figueiras - nem Jesus Cristo resistiu.

(...)"