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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

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Sapos do Ano 2019

Fui nomeada

Charneca em flor, 28.10.19

Foi com grande orgulho que descobri que estou entre os nomeados para os Sapos do Ano na categoria Livros. Bem gostaria de partilhar aqui mais livros mas o tempo para ler é cada vez mais escasso. Nas últimas semanas até piorou muito por culpa desta aventura. Muito obrigada a quem nomeou. Com os pesos-pesados que me acompanham, não tenho, obviamente, hipóteses de estar nos 5 primeiros. Ter sido nomeada, e em excelente companhia, é já uma honra.

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Desafio de escrita dos Pássaros #7

Os benefícios da compota de abóbora

Charneca em flor, 25.10.19

As tardes são sempre calmas na loja de produtos naturais “A linhaça dourada" onde trabalho. Nesses momentos, aproveito para actualizar as redes sociais da loja. Naquele momento, tentava fazer uma publicação atractiva sobre o produto da semana, compota de abóbora com amêndoas. O dono da loja tinha comprado uma imensa quantidade daquele produto e eu não estava a conseguir escoá-lo. Entretida como estava, quase que não me apercebia da entrada de uma das mais habituais clientes d'“A linhaça dourada", a arrogante Sra. D. Constança. Esta senhora tem, sempre, uma ideia muito concreta sobre o que quer comprar. Convencê-la a adquirir qualquer coisa, para além da sua ideia inicial, é quase impossível.
- Sra. D. Constança, como tem passado? Já me tinha lembrado de si. Recebi um produto fantástico que acredito que a senhora vai gostar de experimentar.
- Oh, querida, não se canse. Sabe que eu detesto que me tentem impingir seja o que fôr. Vá-me buscar uma máscara capilar natural porque eu tenho o cabelo sequíssimo. Veja se é à base de manteiga de karité. E depressa que eu tenho pouco tempo.
- Não diga mais. Tenho o produto ideal para si – e nisto pego num frasco da maldita compota.
- Mas a menina está a brincar comigo? Então eu peço-lhe um produto para o cabelo e aparece-me com isso. Não pensa, certamente, que vou pôr isso no cabelo?!
- Não quero contrariá-la mas todas as influenciadoras digitais falam dos benefícios desta compota, não só para comer, mas também para aplicar no cabelo e na pele.
A Sra. D. Constança olha para mim já de sobrancelha levantada.
- Acho um verdadeiro disparate mas explique-se melhor. Quem sabe…
- A abóbora é rica em vitaminas e sais minerais, tem uma grande concentração em betacaroteno o que é excelente para o cabelo uma vez que ajuda a recuperar o seu brilho natural. O açúcar da compota fornece energia às células do couro cabeludo provocando a aceleração do crescimento do cabelo. E as amêndoas, então? São muito nutritivas. Esta compota vai substituir o óleo de coco como panaceia. Só não dá para fritar bifes.
- Pronto, convenceu-me. Levo 3 embalagens. E, já agora, um pacote de bolachas de espelta. Por via das dúvidas.
- Óptima escolha. Assim ainda lhe ofereço estas sementes de abóbora. São ricas em triptofano e por isso ajudam a manter o bom humor. – talvez precise, pensei eu.

 

Como sempre à sexta-feira, chega a minha participação no Desafio de escrita dos Pássaros. Para seguirem o Desafio é só passarem por aqui.

O que está aqui escrito é ficção. Não tentem usar compota de abóbora no cabelo que eu não me responsabilizo pelos resultados .  E se as sementes de abóbora, é só visitarem o Triptofano, um blogue que faz muito pelo nosso bom humor.

Desafio de escrita dos Pássaros #6

O Amor, uma cabana... e um frigorífico

Charneca em flor, 18.10.19

Lembram-se da Sofia e do seu marido Gonçalo? Queixava-se ela de que o marido se tornara um homem acomodado. Mas nem sempre fora assim. Quando começaram a namorar, Gonçalo era extremamente romântico. Os seus gestos carinhosos eram quase quotidianos. Mesmo assim, Sofia achava que faltava qualquer coisa para ser plenamente feliz. Esta insatisfação seria, talvez, provocada pelos romances cor-de-rosa que ela lia.

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Gonçalo percebia estes sentimentos na namorada e fazia de tudo para corresponder aos seus anseios. O primeiro aniversário da relação aproximava-se e o jovem queria proporcionar uma surpresa inesquecível a Sofia. O problema é que não lhe ocorria nenhuma ideia suficientemente boa.

Mas os deuses estavam do lado dele. Sofia esqueceu-se do livro que andava a ler no banco do automóvel. Gonçalo folheou o livro, leu algumas partes e descobriu uma excelente maneira de surpreender a namorada.

Primeiro conseguiu que ambos tivessem um fim-de-semana prolongado. De seguida, deslocou-se ao local escolhido. Era uma singela cabana, junto a um ribeiro. Já não era utilizada há muito tempo e precisou de muitas horas de trabalho para ficar digna da sua “princesa". A mãe de Sofia também ajudou à festa preparando um saco de viagem. Sofia permanecia na ignorância.

Na véspera do aniversário, o jovem foi buscá-la ao emprego e convenceu-a a deixar-se vendar. No porta-bagagem seguia, para além das malas, um cesto de piquenique recheado de iguarias para o jantar.

A cabana ficara encantadora e Sofia ficou absolutamente derretida com o cenário. Sentiu-se a viver uma história de amor igual às que lia nos seus queridos romances. Depois do delicioso jantar, regado com um vinho que parecia néctar dos deuses, viveram uma noite de paixão arrebatadora como nunca tinham vivido.

Na manhã seguinte, ainda sob o efeito da paixão escaldante, Gonçalo levou-lhe o pequeno-almoço à cama. Como não havia fogão, ele preparou café e torradas numa fogueira que fez junto ao ribeiro. As torradas foram acompanhadas com doce caseiro e, no tabuleiro, Gonçalo colocou flores silvestres. Sofia acordou com um beijo do seu príncipe e sorriu. Mas a refeição matinal deixou-a aborrecida:

- Mas, meu amor, eu bebo sempre leite quente e torradas com manteiga. Não vou conseguir comer isto.
- Peço desculpa, meu amor, mas a cabana não tem electricidade. Como não temos frigorífico, não pude trazer-te leite nem manteiga.

Nesse momento, Sofia percebeu que “Amor e uma cabana" não era suficiente. Ela nunca seria feliz sem um frigorífico.

 

Aqui está a minha participação no Desafio de escrita dos Pássaros. Se quiserem encontrar mais histórias de amor é só passar por aqui.

 

 

Desafio de escrita dos Pássaros #5

Mais diabólico que o próprio Diabo

Charneca em flor, 11.10.19

 

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O meu tempo sobre esta terra tinha chegado ao fim. Quando dei por mim estava na mais completa obscuridade. A pouco e pouco, os meus olhos foram-se habituando à escuridão e nessa altura reparei que andavam por ali outras almas. Eu chegara ao purgatório.
O movimento das almas foi-me encaminhando para a frente daquela massa em eterno movimento. Só aí é que vi que havia, lá bem no fundo, um feixe de luz iluminando alguém que jazia de joelhos no chão.
Fiquei estarrecida quando percebi quem era. A alma que ainda não tinha encontrado o eterno descanso já tinha deixado a terra há mais de 70 anos. Deus e o Diabo discutiam, de modo exaltado, o seu destino eterno. Quem desencadeava a exaltação era Adolf Hitler.
Como quem não quer a coisa, aproximei-me e meti-me na conversa:
- Peço desculpa. Eu compreendo que Deus não queira este cavalheiro no céu mas não consigo conceber que ele não tenha tido entrada directa no fogo do inferno.
O Diabo olhou-me com os olhos em brasa:
- Charneca em Flor, ao seu dispôr. Se não se importam, eu gostava de dar uma achega à vossa discussão. Como devem saber, as acções deste homem provocaram muita dor e sofrimento a toda a humanidade. Ele conseguiu criar um verdadeiro inferno sobre a terra. Milhões de pessoas conheceram a face do mal pela mão de Hitler.
Diz-me o Diabo:
- Por isso mesmo é que eu não quero do meu lado. Ele conseguiu ser mais diabólico do que eu.
- Não me diga que tem receio que ele lhe roube o lugar?! Olhe bem para ele. É uma fraca figura.
Ele só conseguiu provocar aquele terror porque se rodeou de indivíduos ainda mais cruéis do que ele. É verdade que ele possuía, para além de um grande carisma, um poder que não é de desprezar, o poder da palavra. Ele fez discursos inflamados que incendiaram multidões. Só assim é que permitiram a sua ascensão até Chanceler da Alemanha, desencadeasse uma guerra mundial e que escrevesse uma das páginas mais negras da História. Sem o poder da palavra, Adolf Hitler teria sido inofensivo.
- Olha deste uma ideia…
A última vez que vi o Führer, ele era arrastado pelo Diabo e tinha o olhar mais assustado que eu já alguma vez vira. Imagino que os judeus tiveram o mesmo olhar quando começaram a perceber para onde caminhavam.

 

 

Esta semana, o tema proposto foi este

"Estás na fila para o purgatório e Hitler está à tua frente. Ninguém o quer aceitar e a fila não anda. Escreve a tua intervenção para convencer um dos lados a aceitá-lo"

Para descobrir como é que os outros participantes deram a volta a este tema, é só passar por aqui.

Polémica no Prémio Camões

Bolsonaro, assina ou não assina?

Charneca em flor, 10.10.19

Como partilhei aqui, Chico Buarque ganhou o Prémio Camões 2019. Este prémio é atribuído pelos governos de Portugal e do Brasil. É suposto que o galardoado recebe um diploma assinado pelos Presidentes dos 2 países. Marcelo Rebelo de Sousa já o assinou mas Bolsonaro não promete assinar o documento. Aliás, questionado por um jornalista sobre se ia assinar, responde “É segredo” (...) “Até 31 de Dezembro de 2026, eu assino.”

A polémica está lançada. Chico Buarque é apoiante do PT, esteve ao lado de Fernando Haddad nas eleições presidenciais e até visitou o ex-presidente Lula da Silva na prisão.

Já Chico Buarque não está minimamente preocupado. Sobre este assunto, afirmou  "a não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões”.

Ao que parece a parte do prémio monetário que cabia ao Brasil já foi entregue por isso o que interessa uma assinatura? O galardoado até agradece. Assim está tudo certo.

Premio Saramago 2019

Pão de Açúcar de Afonso Reis Cabral

Charneca em flor, 08.10.19

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Acabo de saber que Afonso Reis Cabral venceu o Prémio Saramago com o seu livro "Pão de Açúcar". A obra baseia-se no caso verídico do assassinato da transexual Gisberta em 2006.

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Nas palavras de Manuel Frias Martins, membro do jurí, 《trata-se de um “grande romance de um jovem autor de quem a literatura portuguesa se pode desde já orgulhar”. 》

Segundo Ana Paula Tavares, membro do júri do Prémio Saramago, o romance “lida com o espesso e confuso mundo da memória e retira do esquecimento acontecimentos que os jornais e os relatórios da polícia tinham tratado de forma redutora e parcial com silêncios e omissões que o autor se propõe aqui a revelar”.

Ainda não li este livro mas o seu romance "O meu irmão", Prémio Leya 2014, é um dos melhores livros que li na vida.

Fiquei muito feliz com a atribuição deste prémio. De certeza, que é merecido. Vou já tratar de trazer este livro para a minha colecção.

 

 

Desafio de escrita dos Pássaros tema #4

Beatriz disse que não. E agora?

Charneca em flor, 04.10.19

O que eu faço com este desejo que me incendeia as entranhas? Como é que ela me pôde dizer que não. Nós somos as melhores amigas há mais de vinte anos. Será que devia dizer que “éramos as melhores amigas"?


Beatriz disse que não. E agora?


Quando tínhamos 10 anos, fizemos um juramento de sangue. Dissemos que seríamos amigas até à eternidade. Que estaríamos sempre presentes na vida uma da outra. Quando uma de nós precisasse, a outra andaria por perto para dividir o fardo, por mais pesado que fosse. Um peso dividido torna-se sempre mais leve.


Beatriz disse que não. E agora?


Quando ela se apaixonou pela primeira vez, eu fui a primeira a saber. Quando ela ficou de coração perdido, foi no meu ombro que chorou. Eu estive sempre com ela. No momento em que conheceu aquele que seria “o tal", eu estava lá. No dia do seu casamento, eu chorei de emoção. Fui das primeiras pessoas a pegar nos seus filhos recém-nascidos. Eu via a Beatriz como a irmã que nunca tive e acreditava que ela sentia o mesmo.


Beatriz disse que não. E agora?


Eu penso que não lhe pedi um sacrifício assim tão grande. Ela disse-me que lhe pedi em demasia. Que a pergunta que lhe fiz, ultrapassava os limites da amizade. Para ela, os seus desejos concretizaram-se com tanta facilidade mas, para mim, este problema é uma barreira intransponível sem a sua ajuda.
O que eu faço com todos os meus sonhos? Com os planos que fiz na certeza do seu “sim" que, afinal, nunca chegou.


Beatriz disse que não. E agora?


Como é que eu vou realizar este meu anseio? Afinal, eu só pedi o seu ventre emprestado. O seu útero fértil que já acolheu 3 bebés maravilhosos que eu amo como se fossem meus. Eu só queria uma derradeira prova do seu amor fraternal e da sua amizade. Eu só queria sentir, tal como ela a felicidade plena do amor maternal. Mas…


Beatriz disse que não. E agora?


O que eu faço, sem útero, sem filhos, sem o consolo da sua amizade?


Dedicado a todos os projectos de maternidade e paternidade que nunca se concretizaram.

Aqui fica a minha participação no Desafio de escrita dos Pássaros para esta semana. Para descobrirem os outros textos é só passarem por aqui