Todas as pessoas arrastavam, arrastavam e continuavam a arrastar os pés. Não era possível parar aquele movimento de tristeza e terror.
Durante muito tempo, viveu-se um Inverno perpétuo. Os dias sucediam-se frios, escuros e soturnos. Não havia raio de sol que iluminasse a existência daquele povo. O Inverno durou tantos anos que ninguém acreditava ser possível que a Primavera chegasse algum dia. O povo manteve-se pobre e analfabeto. Os que ousavam sonhar com um mundo diferente, mais quente e luminoso, eram sujeitos a perseguições e terríveis sevícias.
Até que um dia, um grupo de almas corajosas uniram-se para derrubar a barreira que tapava o sol e que não deixava o calor invadir as almas. Assim conseguiram acabar com o Inverno que parecia eterno. O esforço colectivo rompeu a escuridão e logrou instalar a manhã clara da Primavera.
No início era apenas um punhado de gente mas conseguiram arrastar uma multidão. Nesse momento, a multidão conheceu o doce sabor da Liberdade e da Justiça.
Todas as pessoas saltaram, saltaram e saltaram de alegria. Nunca ninguém mais conseguiu parar aquele movimento de alegria infinita.
E as ruas das cidades, das vilas, das aldeias pintaram-se de rubro. Mas não era a cor do sangue que salpicava as vielas mas sim a cor alegre dos cravos vermelhos, símbolo indelével de um país finalmente livre.
Assim se passaram 46 anos desta alegre Primavera, mais do que os anos que se viveram no triste Inverno.
No entanto, não se pode pensar que a Liberdade é uma certeza garantida. Tal como uma flor delicada, esta conquista tem que ser cuidada e acarinhada. Não nos podemos distrair porque há sempre quem queira voltar a caminhar na obscuridade. Cabe a cada um de nós fazer a sua parte perante a fragilidade da nossa Liberdade. Acarinhar a tal flor delicada, regá-la, mudar-lhe a terra e deixá-la apanhar alguma luz. Só assim a Liberdade florescerá.
Todas as pessoas saltam, saltam e saltam de alegria. Nunca nada nem ninguém conseguirá parar este movimento de alegria infinita.
Exercício de escrita criativa inspirado pelo tema proposto pelos Pássaros mas também inspirado pelas estranhas comemorações do aniversário da Revolução dos Cravos. Até faço alguma referência a este maravilhoso poema de Sophia.
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