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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Alegoria da buganvília

Charneca em flor, 12.06.20

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As outras plantas viram chegar uma planta nova. A humana que tomava conta delas vinha toda sorridente. Nunca tinham visto uma planta daquelas, alta e com bonitas flores cor de rosa mas não tinha um ar muito simpático nem parecia ter qualquer vontade de interagir com as plantas que viviam nos outros vasos.

A planta recém-chegada tinha um ar triste e, de dia para dia, as suas belas flores foram caindo e as folhas iam murchando.
As outras plantas cochichavam, cochichavam para decidirem quem é que ia meter conversa. A comissão das plantas escolheu a begónia por ser a planta mais tranquila de todas e porque vivia no vaso mais próximo.
- Olá. Eu sou a begónia e tu, quem és? Nunca tínhamos visto uma planta tão encantadora.

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A recém-chegada lá se dignou a olhar para baixo, na direcção da begónia, com um ar muito afectado:
- Eu sou a buganvília. É natural que não me conheçam. Afinal, as plantas da minhas estirpe costumam viver em sítios bem mais interessantes do que este pobre pátio onde nos encontramos.
As folhas da begónia coraram de raiva pelo comentário negativo que a buganvília fez ao lugar onde viviam.
- Peço desculpa, não era minha intenção ofender-te Só queria conhecer-te e apresentar-te as nossas companheiras.
- Se isso vos fizer felizes…
Uma a uma, as outras plantas foram apresentadas à buganvília que demonstrava pouco ou nenhum interesse pelas suas novas companheiras.
- Não querendo ser invasiva, temos reparado que tens um ar muito triste. Gostaria muito de te ajudar.
- Impossível. Só há uma coisa que me faria feliz. Sair deste cubículo, deste país pequeno e desinteressante e viajar para junto das minhas parentes. Como é que alguém pode ser feliz neste espaço?! – rebolou as folhas com desprezo – Nesta aldeola insignificante?!
- Realmente não posso fazer nada disso por ti mas, diz-me, onde é que as suas parentes estão plantadas?
- Vocês aqui têm mesmo um horizonte muito curto. Existem buganvílias maravilhosas por todo o Mediterrâneo. As minhas parentes habitam em jardins e pátios da Côte d ‘Azur, na Costa Amalfitana, na ilha de Capri ou nas ilhas gregas, há pátios e terraços maravilhosos com buganvílias.

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- Compreendo. E vivem isoladas ou em conjunto?
- Quase sempre vivem muitas buganvílias juntas dando origem a paisagens coloridas e absolutamente instagramáveis.
- Mais uma razão para seres muito mais feliz aqui.
- Achas?
- Claro que sim. Aqui vais ser uma planta muito mais especial do que todas as tuas parentes que vivem nesses locais glamourosos.
- E porquê?
- Porque, aqui, és a única da tua espécie e não mais uma entre muitas. Não reparou como a nossa humana sorri sempre que olha para ti? Como tenta fazer de tudo para que te sintas o melhor possível? De certeza que todas essas buganvílias, cujas vidas tanto admiras, nunca foram tão bem tratadas como tu serás, aqui, neste humilde pátio.
- Talvez tenhas razão. Vou tentar valorizar mais o amor e dedicação da nossa humana. Obrigada pelas tuas palavras, begónia.
- E já agora vou só dizer mais uma coisa. Onde a vida nos colocar é que temos que desabrochar e florescer. O que esperas para te voltares a encher de flores?

Lotaria Literária #163

Charneca em flor, 12.06.20

"A maior parte deles mantinha o silêncio a vida inteira, entregava-se aos deveres e ao silêncio, como se fizesse um voto."

As velas ardem até ao fim

Sándor Márai

Dom Quixote

ISBN 978-972-20-2062-6

Este livro faz parte da minha sub-colecção de livros comprados depois de uma viagem. Este foi adquirido depois de chegar da minha viagem às 4 Capitais da Europa Central. Sándor Márai é considerado um dos maiores escritores centro-europeu. A cidade onde nasceu pertence, hoje, à Eslováquia. Sándor Márai deixou o seu país durante o comunismo emigrando para os Estados Unidos da América o que levou a que a sua obra fosse proibida na Hungria. Os seus livros foram caindo no esquecimento e ele nunca mais voltou à sua terra natal. Suicidou-se poucos meses antes da queda do Muro de Berlim. Só depois disso é que a sua obra foi redescoberta.