Irene
Irene tinha a cabeça tão cheia de histórias e historietas que já não sabia qual era a verdadeira história da sua vida.
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Irene tinha a cabeça tão cheia de histórias e historietas que já não sabia qual era a verdadeira história da sua vida.
Em 2016, tive o privilégio de visitar a cidade de São Petersburgo na Rússia. Devido a essa viagem comecei a ter alguma curiosidade pela literatura clássica russa. Comecei pelo "Guerra e Paz" numa versão em 2 volumes mas ainda só li o primeiro. Com o entusiasmo de Tolstoi, comprei "Os Irmãos Karamázov" de Fiódor Dostoiévski. Comecei a lê-lo durante o estado de emergência porque estava a trabalhar menos horas e um livro de quase 800 páginas precisa de algum tempo. Afinal, o estado de emergência foi mais curto do que a minha leitura mas consegui acabá-lo antes do fim da pandemia.
"Os Irmãos Karamázov" é, realmente, um livro brilhante que nos mostra um retrato deveras interessante sobre a sociedade russa do séc. XIX. O ponto fulcral deste romance é a relação entre os 3 irmãos bem como a relação mais ou menos conflituosa de cada um deles com o pai. Mas à volta desta história percebemos os contrastes da sociedade russa entre ricos e pobres, cultos e incultos, religiosos e ateus e entre homens e mulheres. E, por estranho que pareça, muitos desses contrastes ainda se verificam actualmente. A dada altura ocorre um crime, um assassinato e roubo, e há poucas dúvidas sobre a identidade do criminoso mas o autor coloca imensas dúvidas na nossa cabeça e pinta o alegado culpado com tais cores que acabamos a gostar dele e a torcer para que ele seja ilibado. Aliás mesmo quando o autor apresenta outras respostas para explicar o tal crime, fica sempre a dúvida.
No entanto, mais do que um romance sobre uma tragédia familiar ou um policial, a obra "Os Irmãos Karamázov" é, também, um tratado filosófico e moral sobre a existência e a importância de Deus na vida dos homens. As inúmeras horas que passei na companhia destes 3 irmãos foram enriquecedoras e fizeram-me pensar sobre as minhas próprias convicções. Na fase da vida em que me encontro, procuro mais nos livros que escolho do que a simples distracção. Procuro obras que questionem a minha visão do mundo e que me façam crescer enquanto pessoa. E esta é uma dessas obras.
"b) Pode julgar-se o próximo? Perseverança na fé
Tende bem presente que não é dado julgar ninguém, porque ninguém julgará bem outro por não se reconhecer tão criminoso como o acusado e talvez mais culpado que ninguém do crime que tenha cometido. Só quem está bem persuadido disto se capacita para ser juiz. Poderá parecer absurdo, mas é verdade. Se eu fosse justo, talvez não tivesse um único criminoso ante mim. Se puderes carregar com o crime de quem se apresenta ao teu juízo íntimo, alivia o criminoso, sofre por ele e deixa-o em paz. E quando tenhas de sentenciar por obrigação da lei, fá-lo com o mesmo espírito enquanto te seja possível, pois ele se afastará aflito, acusando-se mais severamente do que tu o julgaste; e, quando corresponder ao teu beijo de paz com insensibilidade e mofa, não seja ele para ti uma pedra de escândalo, e sim prova e sinal de que o seu tempo não chegou ainda, mas chegará."
"Amizades nunca teve muitas, mas por opção. Fechou-se de tal maneira ao contacto com os outros, que só uns quantos corajosos ou teimosos, é que não desistiram de conhecer aquela mulher de olhos doces."
Amar depois de amar-te
Fátima Lopes*
A Esfera dos Livros
ISBN 978-989-626-024-9
Há coisas estranhíssimas na minha colecção de livros.
*Sim, é da Fátima Lopes da televisão.
"Sonia tivera uma crise de lágrimas, respondera através dos seus soluços que faria tudo, que estava disposta a tudo, mas não fizera qualquer promessa formal e, no seu foro íntimo, não se sentira capaz de fazer o que exigiam dela."
Guerra e Paz
Volume II
Lev Tolstoi
Saída de Emergência
Já li o primeiro volume. Ainda não tive coragem para me lançar ao segundo. Esta personagem,. Sonia, deve ser a mais sofredora.
"O Senho Engemheiro acordou ainda mais cedo do que o habitual mas deixou-se ficar na cama, de olhos bem fechados, a pensar na decisão tomada na véspera. Tinha a consciência de que não ia ser nada fácil levá-la adiante, o seu médico iria pensar que estava doido varrido, os seus amigos, sobretudo Elísio, assinariam de cruz."
Paralelo 75 ou o Segredo de um coração traído
Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira
Oficina do Livro
ISBN 989-555-196-7
Outro livro que anda por aqui e que eu nunca li.
Sofia não aguentava de impaciência. Não compreendera o que a amiga lhe queria dizer. Confiava nela cegamente e queria acreditar que Júlia nunca faria nada para a magoar mas ainda se sentia a fervilhar de raiva por aquilo que intuíra das palavras de Júlia. A sua desconfiança estendia-se a Pedro a ponto de não lhe responder a nenhuma mensagem.
Finalmente vislumbrou o carro de Júlia curvando para a rua que dava acJúlia tinha o mesmo ar sereno de sempre e um sorriso sincero estampado no rosto.
Júlia parecia saltitar alegremente até junto da amiga.
- Oh, minha querida. Estás com tão bom ar. – e abraçou-a mas Sofia manteve-se rígida não correspondendo ao carinho que Júlia lhe votava. – O que foi, Sofia? Continuas a achar que eu era capaz de arranjar um rapaz para te seduzir? Achas-me capaz disso? E tens-te em tão baixa conta que não acreditas que alguém se apaixone por ti? Aquele fulano com quem estiveste casada arruinou a tua auto-estima dessa maneira?
A menção ao seu passado e a emoção do que vivera nos últimos dias provocaram uma incontrolável torrente de lágrimas em Sofia. Júlia encaminhou-a para dentro e deixou-a chorar. Só a largou para procurar um velho álbum de fotografias, ponto de partida para a história que vinha contar.
Depois de algum tempo, as lágrimas foram secando e Sofia conseguiu falar:
- Desculpa por aquilo que pensei de ti, Júlia. No fundo, eu sei que tu és incapaz de me magoar e que só me queres ver feliz. Mas a minha história com o Pedro parece-me tão inverosímil que, por momentos, achei que era uma fantasia. E aquilo que disseste pelo telefone foi tão estranho que…
- Minha querida, não sei se é fantasia mas magia, talvez.
- Como assim?
- Para perceberes, vou contar-te um bocadinho da história da minha família e desta casa. Vês aqui esta fotografia? São os meus bisavós, Francisco e Maria Amélia. Foram eles que construíram esta casa. A relação entre eles era uma relação proibida. Ele era um jovem pescador ali da aldeia dos pescadores e ela era filha de um dos proprietários mais ricos aqui das redondezas. Como a minha bisavó, em jovem, tinha uma saúde muito frágil, o médico recomendava que ela fizesse caminhadas à beira-mar. Na maioria das vezes, ela levava uma dama de companhia mas, de vez em quando, conseguia sair sozinha. E foi numa dessas ocasiões que se conheceram. Os caminhos deles foram-se cruzando e apaixonaram-se. Quando o meu trisavô descobriu, caiu o carmo e a trindade. Fechou a filha, perseguiu o pescador até lhe ofereceu dinheiro para desaparecer. Só não contou com a persistência daquele amor. Maria Amélia conseguiu fugir e correr para os braços do seu amado. Os pescadores uniram-se para a esconder e para os ajudar a saírem aqui da terra para poderem viver em paz. E assim foi. Os meus bisavós trabalharam muito para construir uma vida digna. O amor deles cresceu, amadureceu e multiplicou-se nos seus 4 filhos.
Os pais de Maria Amélia não aguentaram o burburinho que se levantou depois da fuga da filha. Venderam tudo e foram para uma cidade longínqua e o mais longe possível do mar.
Entretanto, Maria Amélia recebeu, como herança de uma tia solteirona, este pequeno terreno e algum dinheiro. E esse acontecimento foi a oportunidade que esperavam. O casal voltou para cá. Com esforço, e o trabalho de ambos, ergueram esta casa como símbolo do amor que os unia para além das vicissitudes da vida.
- É uma história linda, Júlia, mas não percebo o que é que isso tem a ver comigo e com o Pedro.
- Como podes imaginar, esta casa foi passando de geração em geração. Ao longo dos anos, a minha família foi percebendo que este espaço era especial. Aqui nasceram inúmeras relações amorosas, quer com familiares quer com amigos, e todas elas cresceram sólidas como estas paredes. Como se a casa fosse um cupido de alvenaria. O amor com que foi construída fez com que esse sentimento se transmitisse a todos os que passaram por cá. Todas as relações que começaram aqui foram longas e muito felizes. Eu acredito que o mesmo acontecerá contigo e com o teu surfista.
- Eu não tenho tanta certeza assim. Desde o teu telefonema que não lhe atendo o telefone nem lhe respondo às mensagens. E também me custa a acreditar na tua narrativa.
- Quando estavas quase a adormecer, não sentias que alguém te abraçava?
Sofia anuiu com a cabeça.
- Quase todas pessoas sentem isso. São os braços do amor que invade cada cantinho deste local. Não tenhas medo. Aquilo que a Casa do Monte une nem a morte separa. Corre para esse homem que a vida colocou no teu caminho. Serás muito feliz com ele e esquecerás tudo aquilo que te magoou.
Ao fundo do jardim, surgiu Pedro com ar preocupado. O coração de Sofia saltou no peito. Correu para ele com a esperança renovada num novo capítulo do livro de sua vida. Ainda com alguma perplexidade, começava a acreditar da magia da Casa do Monte.
"Era uma visão que não se parecia com nada que antes tivesse visto na Terra. A princípio, pensou que o luar estivesse a pregar-lhe uma partida. Percorreu com o olhar aquela extensão nevada, incapaz de compreender aquilo que via."
A conspiração
Dan Brown
Bertrand Editora
ISBN 978-972-25-1455-5
Há um tempo que desisti de ler livros de Dan Brown mas ainda há alguns por aqui.
"A sua expressão refletia determinação e nuances de ferocidade"
O Sedutor
Madeline Hunter
Publicações ASA
ISBN 978-989-23-1846-2
Umas das rainhas dos livros românticos.
"Vejo-me a caminhar por esse corredor e o movimento é semelhante ao esforço que faço agora para fixar momentos do passado por entre brechas de luz e escuridão total."
Um presépio sem Natal
Filipa Melo
in Granta Portugal, Palco
ISBN 978-989-671-313-3
"Uma das coisas mais incríveis que se aprende com a idade e sobre a idade é que o mundo é dos curiosos. Todos os que se interrogarem, e tiveram na resposta outra pergunta, são eternamente jovens. A curiosidade é, sem dúvida, um dos motores essenciais da vida."
Caderno de Encargos Sentimentais
Inês Meneses
Contraponto
ISBN 978-989-666-265-3
Eu continuo a ter muita curiosidade sobre o que é que a vida ainda me reserva.