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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Normal People, Sally Rooney

Charneca em flor, 20.02.21

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No seguimento do desafio Uma dúzia de livros, em Fevereiro foi proposto o seguinte tema: um livro fora da tua zona de conforto. Como leio, habitualmente, em português, achei que se seria interessante ler um livro em inglês. Optei pelo "Nomal People" de Sally Rooney. Posso não ter comprrendido todas as palavras mas acho que consegui perceber, perfeitamente, o enredo.

Já há uns meses que tinha ouvido falar deste livro e da série que lhe deu origem. Pelo que vi, pareceu-me que a história, e o estilo, seriam adequados para eu fazer esta tentativa. E foi uma boa opção. A linguagem é acessível, as personagens são cativantes e a história, embora possa parecer banal, é muito boa. Pelo menos, eu gostei . Embora nunca me tenha acontecido nada parecido com as situações vividas por Marianne e Connell, senti-me identificada com um e com outro. Logo, no início, enquanto são adolescentes, a autora faz uma excelente análise de como se deseja a identificação com o grupo e como essa integração pode ser difícil e dolorosa. Ao longo do livro são abordados, de maneira mais ou menos clara, muitos problemas que afectam a sociedade actual. Outro ponto interessante, e real, é a constatação de que ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. Podemos ser boas pessoas ou nem por isso, alternadamente e em alturas diferentes da vida. Nem sempre conseguimos perceber isso e a imagem que temos de nós próprios é muito diferente da imagem que os outros têm de nós.

"Normal People" pode parecer, "apenas", uma história de amor mas é muito mais abrangente do que isso. Até porque há muitas formas de amar. A maneira como nos sentimos amados, ou não, no início da nossa vida vai, definitivamente, influenciar a nossa  maneira de amar e de nos deixarmos amar.

"She closes her eyes. He probaly won't come back, she thinks. Or he will, differently. What they have now they can never have back again. But for her the pain of loneliness will be nothing to the pain that she used to feel, of being unworth. He brought her goodness like a gift and now it belongs to her. Meanwhile his life opens out before him in all directions at once. They've done a lot of good each other. Really, she thinks, really. People can really change one another."

 

Claro como água, mema.

Charneca em flor, 19.02.21

Tenho estado a falhar na minha divulgação das minhas músicas preferidas da primeira semi-final do Festival da Canção. Aqui fica mais uma. A letra é da própria intérprete, mema., tal como a música que foi feita em parceria com Stereossauro.

Não conhecia a mema..Tem uma voz invulgar e o tema é diferente do habitual.. Gostei muito.

Desafio dos Lápis de Cor #azul-cobalto

Reluzente

Charneca em flor, 17.02.21

Os dias corriam serenos e felizes. Sofia e Tomás viviam o seu amor de acordo com o mote lançado pelo livro que desencadeara a sua própria história. Sempre que podiam, encontravam-se e despendiam tempo cativando-se um ou outro. Sofia dava por si a ler menos romances cor-de-rosa, afinal ela própria se tornara na protagonista de uma bonita história. Nos primeiros tempos, era difícil concentrar-se nas aulas. Os seus pensamentos voavam para os momentos de que desfrutavam juntos. Não ganhou para o susto quando recebeu uma nota menos boa. Sofia martirizou-se, chorou desalmadamente e pensou em terminar tudo com Tomás. Mas, quando o olhou nos olhos, não foi capaz. Juntos arranjaram estratégias de estudo e Sofia percebeu que era possível apaixonar-se e continuar a ser a aluna brilhante que sempre tinha sido.

Naquela manhã, Sofia caminhava para a escola sentindo alguma ansiedade. Na véspera, ela e Tomás não se tinham encontrado como era habitual. Ela tinha-o sentido ausente e evasivo e isso estava a preocupá-la de sobremaneira. Embora ele tivesse dito que tinha uma surpresa, Sofia continuava apreensiva. Nem sempre, surpresa era sinónimo de algo positivo.

Ao longe, começou a ouvir-se o barulho de uma moto. Sofia não ligou porque muitos dos seus colegas utilizavam aquele veículo de 2 rodas para chegarem à escola. Afinal, dava um certo ar de rebeldia. E, realmente, muitas das raparigas adoravam e achavam muito excitante. Os rapazes “motards" eram sempre alvo de imensas atenções. Sofia nunca ligou muito a tal coisa. Daí ficou muito surpreendida quando viu uma moto desconhecida a circular junto dela, buzinando. Nem olhou. Só podia ser engano. Ela não conhecia ninguém que andasse numa coisa daquelas. Só que o condutor cortou-lhe o caminho, imobilizando-se à sua frente e tirando o capacete, revelando o rosto sorridente de Tomás:

- Não percebeste que era eu?!

Sofia não ficou muito agradada. Olhou para ele e para a reluzente moto azul-cobalto. Pelo menos, a cor era bonita.

- Não sabia que tinhas uma moto.

- E não tinha. Chegou ontem. Gostaste da surpresa? Logo vamos dar uma volta?

- Não sei se sou capaz de subir aí para cima. Não me parece muito seguro.

- Confia em mim. Tu és aquilo que tenho de mais precioso. Nunca te poria em perigo. – e puxando-a suavemente para si, beijou-a em frente a toda a escola.

Nunca se tinham escondido mas sempre se tinham mantido discretos. Só os mais próximos é que tinham percebido que Sofia e Tomás eram namorados. Sofia era conhecida por ser uma intelectual, tímida e estudiosa e nunca se lhe tinha conhecido um namorado. Quando se apercebeu que os colegas batiam palmas com entusiasmo, sentiu que um fogo que lhe queimava o rosto.

Mas não foi só o beijo que deixou os outros jovens entusiasmados. A chegada de Tomás na sua reluzente moto azul-cobalto não tinha sido nada discreta. Não demorou muito para que Sofia se perdesse no meio de uma pequena multidão que rodeava Tomás e a sua máquina rolante. Até Ana, a melhor amiga de Sofia, parecia exageradamente eufórica com a figura de Tomás em cima da tal moto.

Sofia afastou-se. Aquele não era o seu ambiente. Não conseguia compreender como é que o seu Tomás, romântico e carinhoso, se prestava àquela cena e parecia tão à-vontade sendo o centro das atenções. Antes de entrar no edifício, voltou a olhar e descortinou Tomás distribuindo sorrisos enquanto deixava os colegas experimentarem a sensação de subirem para a sua nova moto.

Só quando a campainha tocou para a primeira aula é que os adolescentes dispersaram deixando-a solitária, à bela moto azul-cobalto.

 

Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes ConchaA 3a FaceMaria AraújoPeixe FritoImsilva, Luisa de SousaMariaAna DCéliaGorduchitaMiss LollipopAna MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue e os brilhantes  José da Xá e João-Afonso Machado.

Contramão, Sara Afonso

Charneca em flor, 17.02.21

Mais uma das músicas que, na minha opinião, deveria ter lugar na Final do Festival da Canção

O compositor de "Contramão" é o músico Filipe Melo e a letra é de Teresa Sequeira. Durante muitas semanas, Filipe Melo encantou todos aqueles que acompanharam os directos do Bruno Nogueira, "Como é que o bicho mexe", onde encerrava as hostilidades tocando piano.

Livros, Irma

Festival da Canção 2021

Charneca em flor, 16.02.21

No próximo sábado realiza-se a 1a semi-final do Festival da Canção. A organização manteve o mesmo formato de anos anteriores e convidou uma série de compositores/letristas para a competição. Cada semi-final terá 10 canções de onde serão escolhidas 5 temas para estarem presentes na final que se realizará, sem público, a 6 de Março. Eu estive a ouvir os temas e fiz a minha própria selecção. Será que houve acertar em alguma?!

Não conheço a maioria dos compositores/letristas e intérpretes. Assim sendo, esta é uma oportunidade de conhecer novos (pelo menos para mim) talentos. É o caso da música que partilho hoje

Irma foi uma das compositoras convidadas sendo a autora da letra, da música em co-autoria com Pity e optou por ser a intérprete.*

 

*Os compositores convidados podem cantar a sua música ou convidar um outro intérprete. Curiosamente, nesta edição, a maioria dos autores são, também, os intérpretes

 

O Rapaz Selvagem, Paolo Cognetti

Charneca em flor, 16.02.21

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O primeiro livro que li deste autor italiano foi "As Oito Montanhas" que muito apreciei. "O Rapaz Selvagem" foi publicado alguns anos antes daquele e também tem a montanha como pano de fundo. Desta feita trata-se um romance autobiográfico. A determinada altura da vida, por volta dos 30 anos, Paolo atravessa um Inverno difícil na cidade sentindo-se desmotivado e sem capacidade para escrever. Até aos 20 anos, o escritor passava todos os verões na montanha sentindo-se verdadeiramente livre. Durante os meses que vivia na cidade, obedecia às regras da cidade mas quando chegava à montanha tornava-se num rapaz selvagem.

"Eram todas liberdades que eu também apreciava, tanto explorá-las a fundo me parecia importante aos vinte anos, porém, com trinta anos já quase havia esquecido a sensação de estar sozinho num bosque, de me banhar nu num ribeiro ou de correr ao longo de um cume, acima do qual existe somente céu."

Depois daquele Inverno complicado, Paolo resolve voltar à montanha para "reencontrar uma antiga e profunda parte que sentia que tinha perdido"

Assim isola-se numa cabana nos Alpes, munido de livros e cadernos, para se reencontrar com o rapaz selvagem que fora e, quiça, voltar a escrever. Durante os primeiros tempos, a sua companhia limita-se às àrvores e aos animais da montanha, lebres, camurças, raposas ou cervos. e a própria montanha com as suas particularidades, mas, progressivamente, acaba por procurar companhia humana, "Não era grande coisa como eremita: tinha ido para a montanha para estar sozinho e, ao invés, não fazia outra coisa senão criar amizades."

Como eu não estou isolada do mundo, li este livro no contexto actual que vivemos. Devido à pandemia há quem esteja em isolamento por estar doente, ou por ter tido contacto com doentes, há idosos que não saem de casa há semanas ou meses e há quem cumpra, criteriosamente, o confinamento decretado pelo estado de emergência actual. Embora eu já tenha dito que não me custa estar em casa, consigo compreender que há pessoas, de todas as idades, que sofrem com a falta de interacção com os outros. Há quem tenha dificuldade em conviver consigo próprio. No entanto, é preciso vivermos bem connosco próprios para podermos viver bem com os outros.

Voltando ao livro "O Rapaz Selvagem", acho que a experiência de Paolo provou que o humano, por mais que seja capaz de viver isolado na natureza, é um ser iminantemente social. Só descobrimos o nosso eu verdadeiro nestas duas dimensões, sozinhos e em sociedade.

"O Rapaz Selvagem" é um livro pequeno, na versão ebook tem apenas 100 páginas, lê-se muito bem porque Paolo Cognetti escreve muito bem. Esta obra, para além de nos guiar na viagem ao interior do escritor, ainda tem a vantagem de nos  levar a descobrir os caminhos mais complexos dos Alpes.

"Continuei a subir: já ninguém me conseguia parar. Estava já na crist entre os dois vales da minha vida, caminhava sobre placas de pedras fendidas pelo gelo e sobre aquele musgo muito macio que cresce a três mil metros de altura. De um lado da vertente, o da idade adulta, o céu estava limpo e de um azul tão intenso que parecia ter massa e volume. Do lado da infância, elevavam-se salpicos de nuvens que se encaracolavam e dissolviam aos meus pés. Do lado de lá passara vinte anos da minha vida, do lado de cá, os últimos meses: estava feliz por serem lugares distintos, mas próximos."

 

 

 

Lote B, António Zambujo

Charneca em flor, 15.02.21

Assim que ouvi esta música, fiquei encantada. É o primeiro single do próximo álbum de António Zambujo, "António Zambujo Voz e Violão", que será lançado em Abril. O título do álbum é uma referência ao álbum "João Gilberto, Voz e Violão" e segue o mesmo registo intimista em que a voz e a guitarra são suficientes. A música, com autoria dos irmãos Luís e Pedro Silva Martins*, que partilho é de uma simplicidade desarmante. Conta uma bonita história de amor que toca o coração 

 

*Elementos dos Deolinda

Desafio dos Lápis de cor #verde escuro

Charneca em flor, 10.02.21

Sofia sonhava acordada enquanto acariciava uma rosa. Sentia a suavidade das pétalas, as folhas carnudas com o seu tom verde-escuro e até apreciava os espinhos pontiagudos. Ainda sentia a pressão da mão de Tomás na sua. Não conseguia acreditar naquilo que o bilhete dele tinha despoletado:


“《Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez a tua rosa tão importante》
O tempo que passámos a conversar foi muito importante para mim. Tu és uma miúda especial mas eu falhei contigo porque nunca mais consegui ir à tua procura na escola. Peço que me desculpes. Gostava muito de te conhecer melhor. Amanhã, como não há aulas à tarde, adorava encontrar-me contigo. Se quiseres, claro. Estou à tua espera, no portão da escola, depois da última aula.
Gostei muito do livro.
Tomás”


Naquela noite, Sofia continuou sem dormir mas, desta feita, já não foi de tristeza mas sim pela antecipação do encontro prometido. Afinal, ele também pensava nela.
O tempo, durante a manhã de aulas, parecia não passar e foi extremamente difícil concentrar-se. Era muito difícil deixar de sorrir e, nos intervalos, as amigas bem tentaram arrancar-lhe um desabafo mas ela quis saborear, sozinha, o que estava a sentir.

Assim que acabou a última aula, o coração de Sofia começou a bater desalmadamente. E se ele não estivesse lá? O que é que ela fazia? Mas, ao portão, lá estava ele sorrindo.

Quando se olharam nos olhos, deixou de existir o mundo à volta deles. As amigas, ainda, esperaram por ela durante uns minutos mas depois perceberam que não valia a pena.

Tomás fez-lhe uma festa no cabelo e beijou-a no rosto, com carinho.

- Estava com medo que não viesses. – disse ele.

Sofia riu-se divertida. Afinal, ele também não era tão seguro quanto parecia.

- Eu também achei que tu não ias aparecer. Pensei que te tivesses arrependido de ter escrito o bilhete.

- Estamos em sintonia. – Tomás pegou-lhe na mão – Espero que tenhas fome.

- Fome? - interrogou-se ela.

- Sim, trouxe um piquenique. – disse-lhe ele enquanto a conduzia até ao parque que havia perto da escola. – Passo sempre por aqui quando venho para a escola. É giro, não é?

Sofia conhecia o parque mas, na companhia de Tomás, via-o com outro encanto. Tinha um aspecto entre o selvagem e o organizado. A copa das árvores estendia-se sobre o tapete verde escuro da relva viçosa. Tinha um ar tão macio e acolhedor que convidava a sentar. E foi ali que os jovens se deliciaram com um simples farnel que, por estarem na companhia um do outro, pareceu um banquete. A conversa rolava escorreita bem como as gargalhadas. Apesar de se conheceram há tão pouco tempo, sentiam-se cada vez melhor na companhia um do outro.

- Espera um pouco. – Tomás levantou-se repentinamente e voltou com a flor. – Queres ser a minha rosa?

 

Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes ConchaA 3a FaceMaria AraújoPeixe FritoImsilva, Luisa de SousaMariaAna DCéliaGorduchitaMiss LollipopAna MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue e os brilhantes  José da Xáe João-Afonso Machado.

 

 

E não sobrou ninguém, Martin Niemöller

Charneca em flor, 08.02.21

primeiro levaram os comunistas

mas não me importei com isso

eu não era comunista;

em seguida levaram os sociais-democratas

mas não me importei com isso

eu também não era social-democrata;

depois levaram os judeus

mas como eu não era judeu

não me importei com isso;

depois levaram os sindicalistas

mas não me importei com isso

porque eu não era sindicalista;

depois levaram os católicos

mas como não era católico

também não me importei;

agora estão me levando

mas já é tarde

não há ninguém para

se importar com isso. 

 

Foi este poema que serviu de inspiraçãoà música que partilhei esta manhã.