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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Desafio dos Lápis de Cor #vermelho

Charneca em flor, 31.03.21

15 anos depois

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Sofia dava os últimos retoques no seu visual. Enquanto olhava a sua imagem reflectida pelo espelho, meditava no percurso que fizera até chegar ali.

Embora visitasse os pais com frequência, há muito que deixara de viver com eles. Quando entrara para a faculdade, fora viver com a tia Rosário. Ao libertar-se do amor sufocante dos progenitores, tornara-se numa jovem completamente diferente. A pouco e pouco foi fazendo novas amizades e embrenhou-se a vida universitária. Continuava a ser uma aluna de excelência o que não impedia de ir às festas. Tal como qualquer outra jovem, conheceu um ou outro rapaz com quem namorou. De vez em quando pensava que tinha encontrado o amor da sua vida mas, quando as coisas não corriam de feição, voltava a pensar em Tomás. Mesmo sabendo que cada um deles tinha escolhido o seu próprio caminho.

Embora fosse alguns fins de semana a casa, não tinha o hábito de conviver com os antigos colegas . Apenas se encontrava com Helena. Fora assim que seguira, à distância a vida de Tomás. Por ironia do destino tinha acontecido com Ana e Tomás aquilo que os seus pais tinham temido que acontecesse consigo. Ana e Tomás tinham sido pais de um menino, antes de completarem 20 anos.

Os livros e a escrita continuaram a fazer parte da sua vida embora a sua formação nada tivesse a ver com literatura. Aliás, andava sempre com um caderno onde apontava os seus pensamentos, aquilo que lhe ia acontecendo, as histórias que nasciam no seu íntimo, os seus poemas… A sua colecção de cadernos era famosa entre os seus amigos mas não os mostrava a ninguém.

No seu último ano de faculdade, participara no programa Erasmus e viajara até Milão. A experiência de viver no estrangeiro foi tão enriquecedora que, com um interregno para fazer os exames para finalizar o curso, nunca mais deixou de trabalhar no estrangeiro. Depois de viver e trabalhar países europeus, sentiu-se preparada para realizar um sonho antigo, escrever um livro. Durante 2 ou 3 anos, todos os tempos livres eram ocupados a escrever e a estruturar a sua história. Nada disse à sua tia Rosário porque ela tinha amigos na área editorial. Aquilo que conseguisse, seria por si, pelo seu talento. Sofia tornara-se uma mulher segura e decidida, apostada a vencer fosse em que área fosse graças ao seu esforço.

E foi esse propósito que a conduzira aquele momento preciso da sua existência. Submetera o seu manuscrito a um prémio literário destinado a jovens escritores desconhecidos com menos de 35 anos. Com surpresa, viu o primeiro prémio atribuído ao seu romance. Quando a organização lhe perguntou pelo melhor lugar para receber o prémio e lançar o seu livro, viu nisso a melhor oportunidade para fechar um círculo e voltar à pequena cidade onde crescera.

Sofia sorriu ao olhar naquilo que o espelho lhe devolvia. Naquele dia, ela seria o centro das atenções e com aquele vestido vermelho-sangue sentia-se segura e poderosa, bem diferente daquela adolescente que quase se colava às paredes para que ninguém desse pela sua presença.

Um toque de baton, igualmente, vermelho e estava pronta para o seu momento de glória.

O auditório municipal onde a cerimónia ia decorreu estava à cunha. Toda a gente queria ver a filha da terra. Na primeira fila, os pais e a tia distribuíam sorrisos para a direita e para a esquerda.

A cerimónia decorreu com os elogios da praxe e os discursos emocionados habituais naquelas ocasiões. De seguida seria a sessão de autógrafos. Sofia perdeu a conta a quantos livros assinou e quantas pessoas cumprimentou. A mão já estava dormente mas não queria defraudar as expectativas de quantos ali tinham vindo. Então, viu-o. Levantara a cabeça para perceber se ainda restavam muitas pessoas e reparou num homem que lhe parecia familiar. Era alguém que segurava o seu livro aberto, como se já estivesse a lê-lo enquanto esperava. Sentindo-se observado, ele levantou os olhos do livro e cruzou o seu olhar com o de Sofia. Aqueles olhos cor de avelã eram inconfundíveis, não podia ser outro. Tomás aguardava o seu autógrafo. Nesse momento, Sofia sentiu-se ruborizar ao ponto do seu rosto reflectir o tom do seu vestido. O rosto ardia de tão vermelho que devia estar. Naquele instante, voltou a ser a adolescente tímida que era há 15 anos.

 

Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes ConchaA 3a FaceMaria AraújoPeixe FritoImsilva, Luisa de SousaMariaAna DCéliaGorduchitaMiss LollipopAna MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue, os brilhantes  José da Xá e João-Afonso Machado.

Agora também com a participação especial da nobreza na pessoa a talentosa e divertida Marquesa de Marvila

Sangue do meu sangue, Salvador Sobral

Charneca em flor, 29.03.21

Ao fazer a revisão das músicas lançadas na semana que passou, é impossível deixar passar a nova música de Salvador Sobral.

"Sangue do meu sangue" é o primeiro single do álbum "bpm" que será lançado a 28 de Maio. "bpm" significa "batimentos por minuto". Provavelmente a sua experiência clínica* continua a influenciar a sua criatividade. Aliás, Salvador Sobral explicou assim o nome do álbum, “Tomo várias decisões nas diferentes áreas da vida durante as minhas insónias. Chamo-lhes IPs (insónias produtivas). O nome do álbum é fruto de uma IP. Numa reflexão sobre a música e a vida, chego à conclusão de que o elemento mais forte que as une são os bpm (batimentos por minuto)”

Neste disco Salvador Sobral assina grande parte das composições com o músico e produtor venezuelano Leonardo Aldrey. Anteriormente, o artista assumia-se, principalmente, como intérprete mas, a julgar por esta primeira música, o seu talento também se estende à composição. Esta música é maravilhosa em todos os aspectos. Se prestarmos bem atenção, compreendemos a profundidade da dor, pelo sonho de vida que não se concretizará, que esta canção nos transmite. A mim já me conquistou.

No silêncio desta sala
Está o meu segredo
Cedo à tentação
De o guardar mais um momento

Porque enquanto o segredo fica
É como se não fosse
Como se não fosse
Embora a culpa insista
Persiste e a força é de guardar

A teu lado medito
Na melhor forma de dizer
Que os frutos do nosso amor
Não se podem colher

Mas não está certo
Não podia acontecer
Estávamos tão perto
Chegar à praia p'ra morrer

Triste e estranha sensação
Um homem sem função
Sem continuação
Sangue do meu sangue

Não te julgarei, querida
Se o teu coração
Ao amanhecer
Se encolher ao me ver

Vais partir em busca da vida
Destruído sorrirei
Na hora da despedida
Destruído
Destruído sorrirei

 

Boa semana

 

*Salvador Sobral sofreu de um problema cardíaco muito grave pelo qual teve que fazer um transplante cardíaco.

 

 

Desafio dos Lápis de Cor #verde-claro

Verde, claro como água

Charneca em flor, 24.03.21

Sofia nem conseguia acreditar quando se apercebia como o seu estado de espírito, e a sua vida, tinham mudado nas últimas semanas. Mais precisamente, desde que tinha conversado com a sua tia Rosário na sua praia preferida.

A irmã mais nova da mãe de Sofia era uma pessoa muito especial. Rosário era alegre, optimista e cheia de estilo o que a tornava numa espécie de ídolo para a sua sobrinha. Possuidora de uma mente brilhante, era professora universitária e investigadora na área da biologia. Completamente dedicada ao seu trabalho, nunca tinha casado nem tivera filhos e, talvez por isso, era muito ligada à sobrinha. Aliás, a maneira de ser de Sofia recordava-a da sua própria juventude, sempre embrenhada nos livros. Quando se apercebeu da situação que se vivia na casa da irmã, achou que tinha que fazer qualquer coisa para que Sofia voltasse a sorrir.

Depois de conversarem durante horas – ficaram na praia até ao início da noite – Rosário começou a delinear o seu plano para que a querida sobrinha voltasse a sonhar e a ter esperança num futuro risonho. Primeiro teria que servir de moderadora da conversa entre Sofia e os pais. Rosário percebia que, embora de uma forma algo distorcida, a irmã e o cunhado tinham tido as suas razões para terem sido tão rígidos quando perceberam que a sua “bebé” crescera e se transformara numa jovem apaixonada. A mãe da jovem tinha, apenas, 18 anos quando Sofia nascera. Embora nunca se tenham arrependido de ser pais – amavam a filha, profundamente – não queriam que a filha passasse pelo mesmo e tivesse que desistir dos seus sonhos. Rosário conseguiu que cada um deles abrisse o coração e falasse abertamente das suas preocupações e mágoas. Uma conversa que durou pela noite ajudando a colocar os tijolos que permitiriam que a relação da jovem e dos pais se reconstruísse com amor e sinceridade.

Devido ao seu projecto científico, Rosário ia passar grande parte do Verão em trabalho de campo. Apesar de também ser uma leitora compulsiva, Rosário percebeu que Sofia precisava de sair do seu quarto, da sua casa, da sua cidade e alargar os seus horizontes. E foi assim que a ideia de Sofia acompanhar a sua tia no seu trabalho de campo começou a ganhar forma. Sofia nem precisou de pensar muito para aceitar. A última coisa que queria fazer era passar ali os meses das férias grandes. A sua amiga Helena evitara contar-lhe mas acabara por ter que lhe dizer que Tomás começara a namorar com Ana. Mesmo saindo pouco, Sofia não queria correr o risco de se cruzar com aquele casalinho. Não conseguiria disfarçar que ainda chorava por ele.

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Imagem daqui

E foi assim que, ao lado da sua tia, fizera a sua primeira viagem de avião para a acompanhar aos Açores. Assim que vira as ilhas a partir do avião, tão verdes e repletas de uma natureza quase selvagem, ficara deslumbrada com tanta beleza.
Naquele momento, Sofia integrava um grupo de colegas da tia, cientistas como ela, que aproveitava uma folga no trabalho de investigação para conhecer a ilha. O guia levara-os a um miradouro de onde se tinha uma visão perfeita para Lagoa das Sete Cidades. Uma paisagem perfeita, de um lado azul, do outro verde- água, duas lagoas formadas pelas lágrimas da princesa e do pastor cujo amor também tinha sido proibido.

Envolta na claridade daquele verde luxuriante, e depois de ouvir a lenda da Lagoa das Sete Cidades, Sofia resolveu que já chegava de tristezas. Ela, ao contrário da princesa da lenda, não iria continuar a chorar pelo seu amor perdido. Já lá diz o povo, o verde é esperança. E essa cor , dominante na paisagem açoriana, influenciou Sofia em ter confiança nos tempos vindouros. Tinha o futuro todo pela frente. A sua vida seria aquilo que ela fosse capaz de construir. No seu coração nasceu uma certeza, “aconteça o que acontecer, é possível ser feliz".

 

Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes ConchaA 3a FaceMaria AraújoPeixe FritoImsilva, Luisa de SousaMariaAna DCéliaGorduchitaMiss LollipopAna MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue, os brilhantes  José da Xá e João-Afonso Machado.

Agora também com a participação especial da nobreza na pessoa a talentosa e divertida Marquesa de Marvila.

 

Uma Casa na Escuridão, José Luís Peixoto

Charneca em flor, 23.03.21

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José Luís Peixoto é um dos meus escritores contemporâneos preferidos. Tenho, praticamente, todos os seus livros. No entanto, sentia uma mágoa na minha relação com as suas obras. Não tinha conseguido terminar este "Uma Casa na Escuridão". Agora, graças à minha participação  no clube de leitura Uma Dúzia de Livros, voltei a ele e percebi porque é que não o tinha conseguido ler. Este livro não é de leitura fácil. Sei que desisti de ler numa passagem,  particularmente, violenta. Na verdade, acho que me faltava uma certa maturidade como pessoa e como leitora para conseguir levar até ao fim esta tarefa de terminar o livro.

"Uma Casa na Escuridão" foi editado, pela primeira vez, em 2002. No ano anterior, José Luís Peixoto tinha ganhado a 2a edição do Prémio Saramago. Na minha opinião, foi necessária alguma coragem, da parte do escritor e do editor, para publicar este livro. A história é estranha, algumas situações são descritas de forma violenta e crua de tal maneira que tive vontade de fechar os olhos para não ler, como fazemos com os filmes, e tentei não imaginar as cenas criadas por José Luís Peixoto. Não consegui lidar com aquele horror. 

Há livros que valem pelo conteúdo e outros valem pela forma. "Uma Casa na Escuridão" vale, sobretudo, pela forma embora eu tenha conseguido começar a perceber aonde o autor queria chegar. Se calhar, ainda terei que ler o livro mais vezes para conseguir compreender esta obra na sua plenitude. Ou talvez a compreensão esteja fora do meu alcance.

Esta obra vale a pena, sobretudo, pela linguagem. José Luís Peixoto brinca com as palavras e escreve frases  maravilhosas e encantadoras mesmo quando conta uma história tão particular como esta. Seja como fôr, não sei se considere esta obra como uma prosa poética ou uma gigante metáfora de mais de 250 páginas. O que sei é que será difícil esquecer aquilo que li nestas folhas.

"era costume ela vir cá e ficar a sussurrar um bule de chá com a minha mãe"

"O amor é o sangue do sol dentro do sol. A inocência repetida mil vezes na vontade sincera de desejar que o céu compreenda. Levantam-se tempestades frágeis e delicadas na respiração vegetal do amor. Como uma planta a crescer da terra. O amor é a luz do sol a beber a voz doce dessa planta. Algo dentro de qualquer coisa profunda. O amor é o sentido de todas as palavras impossíveis."

"As estrelas espalhadas, as nuvens a passarem como pessoas tristes, o céu da noite sem lua, o céu da noite escuro e sem lua. Eu acreditava que o amor é a inocência sufocada mil vezes na vontade ridícula de desejar que o céu compreenda."

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Florbela Espanca

Charneca em flor, 21.03.21

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar-se? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em míticos arroubos?
Ou monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastros?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?

Florbela Espanca, Charneca em Flor

 

Neste Dia Mundial da Poesia podia escolher muitos outros poemas, alguns mais contemporâneos, mas Florbela Espanca é, para mim, sempre novidade.

Hoje e sempre, leiam poesia. A prosa fala ao coração mas a poesia enriquece a alma.

Desafio dos Lápis de Cor #amarelo

Dores da alma

Charneca em flor, 17.03.21

Sofia refugiou-se nas palavras para esquecer a morte do seu sonho de amor. Não nas palavras faladas porque a sua voz ouvia-se cada vez menos mas nas palavras escritas. Os livros e os cadernos onde derramava os seus pensamentos eram a sua principal companhia.

A relação com os pais fora abalada com aquela cena dramática em que a proibiram de continuar a namorar com Tomás. O tempo que estava em casa passava-o isolada da família, sozinha no quarto. Mesmo ao fim-de-semana, quando os seus pais planeavam sair para algum passeio em família, fazia tudo para ficar em casa com a justificação de ter que estudar.

A jovem sempre fora tímida e calada mas havia sempre um sorriso a iluminar-lhe o rosto. Mas esse sorriso apagara-se. Até quando fazia um esforço para sorrir, percebia-se que esse gesto não chegava aos olhos. Dia para dia, a sua tez tinha um ar macilento. Era como se a sua chama interior se estivesse a extinguir.

Na escola, continuava a ser uma boa aluna, a melhor, aliás. No entanto, não havia, da sua parte, grande interacção com os colegas. Afastara-se de Ana e, consequentemente, de todo o grupo. Só não estava completamente sozinha porque uma das outras raparigas, Helena, não se importara de deixar de fazer parte do grupo das miúdas fixes. Quando ouviu Ana dizer que a sua relação com Sofia se baseava no interesse, e não na amizade verdadeira, percebera qual era o caminho que queria percorrer. E não passava perto da sua colega mais arrogante. Sofia e Helena passaram a ficar à margem mas apoiaram-se uma à outra.

A sua história com Tomás ficou para trás a partir do momento em que lhe disse, sem grandes explicações, que não se podiam continuar a ver. Tomás não entendeu a razão daquela mudança de atitude, como seria expectável. Tentou argumentar mas Sofia não prolongou a conversa virando-lhe as costas para que ele não visse as lágrimas que teimavam em saltar-lhe dos olhos. Instantes depois, ao chegar à aula seguinte, Ana reparou nos olhos chorosos de Sofia e, a partir desse momento, nada conseguiu apagar o sorriso triunfante de quem vencera a primeira batalha na certeza de que, Tomás, mais tarde ou mais cedo, seria seu.

Os pais começavam a ficar preocupados. “Se calhar, a nossa atitude foi exagerada “ era uma ideia que lhes cruzava o pensamento mas confortavam-se com a certeza de que estavam a fazer o seu melhor, enquanto pais. E, achavam eles, um dia o desgosto de Sofia iria passar.

Mas o que é certo é que viam a filha a definhar, de dia para dia. Foi, então, que receberam uma visita especial, a tia Rosário. Sofia adorava a irmã mais nova da sua mãe e conversar com ela sempre fora um dos seus maiores prazeres.

Rosário demorou poucos minutos a perceber que a casa da irmã estava envolta num ambiente pesado. A tez amarela e adoentada de Sofia deixaram-na preocupada. Assim que pôde, arrastou a sobrinha consigo até à praia já que intuiu que a jovem precisava de se afastar dos pais para lhe contar que dores se escondiam na sua alma. E sol, pés na areia e mergulhos no mar eram o melhor remédio que conhecia para sarar corações doentes e almas feridas.

 

Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes ConchaA 3a FaceMaria AraújoPeixe FritoImsilva, Luisa de SousaMariaAna DCéliaGorduchitaMiss LollipopAna MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue e os brilhantes  José da Xá e João-Afonso Machado

 

P.S - Lamento desiludir as românticas mas ao percorrermos estrada da vida também encontramos pedras no caminho. Veremos se a nossa heroína consegue ultrapassar os obstáculos.

Esquerda e Direita Guia Histórico para o Século XXI, Rui Tavares

Charneca em flor, 16.03.21

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Como já referi aqui, no mês passado foi proposto, no desafio Uma Dúzia de Livros, ler um livro fora da nossa zona de conforto. Alguns dos participantes sugeriram este pequeno livro de Rui Tavares que me despertou alguma curiosidade. Como é muito raro ler algo para além de ficção ou biografias, achei que um livro sobre política também saía da minha zona de conforto. E assim foi. O mês de Fevereiro, apesar de ser o mais pequeno, permitiu-me ler 2 livros para o desafio.

Sempre me considerei uma pessoa com consciência política mas, como é óbvio, não sei tudo. Tento manter-me minimamente informada e gosto de ter uma visão abrangente de todos os quadrantes.

Este livro permitiu-me perceber algumas das principais diferenças entre a esquerda e a direita em termos políticos bem como entender o momento histórico a partir do qual se começou a estruturar a sociedade nestes termos.

O autor também explicita porque é que continua a fazer sentido, ou quiçá cada vez mais sentido, falar em esquerda e direita. 

Não quer dizer que Rui Tavares me tenha trazido conhecimento totalmente novo   mas ajudou-me a consolidar algumas ideias.

A única crítica que eu gostaria de fazer é o facto de o texto ser influenciado pela postura política, nunca escamoteada, do autor Rui Tavares. Tendo em conta que o autor é historiador e que se trata de um "guia histórico", preferia uma maior neutralidade.

Falta só fazer uma ressalva ao design da editora Tinta da China. Tenho alguns livros desta editora e acho que as capas são, mesmo, muito bonitas.

"Por isso eu dizia que as tentativas de esvaziar as diferenças entre a esquerda e direita, e de negar a relevância política dessas diferenças, acabam por substituir - de forma interesseira ou não, inconsciente ou não- a democracia pela demagogia. Pois se excluirmos os pontos cardeais, as direcções de trânsito e até os mapas que tentam aproximar-se sempre imperfeitamente da realidade, a única coisa que nos resta dizer às pessoas é 《venham atrás de mim》. E essa é a figura do demagogo. Aquele ou aquela que diz 《vocês não precisam de diferenças de opinião política, venham atrás de mim porque eu sei decifrar os mercados》, ou 《venham atrás de mim porque só eu sei combater a casta》, ou 《venham atrás de mim porque eu trago o fim dos corruptos》.

A conquista civilizacional da modernidade foi precisamente a de não irmos atrás de ninguém. Nem rei, nem patrão, nem sacerdote, nem autoproclamado profeta. Lográmos chegar a um ponto em que podemos ir uns ao lado dos outros, ir por caminhos comuns ou alternativos, caminhar sozinhos até, quando e se o desejarmos."

Última Lágrima, Pedro Flores

Charneca em flor, 15.03.21

Uma das aplicações que mais utilizo é o Spotify. Utilizo para ouvir podcasts, para descobrir novos álbuns e novas músicas. Também sigo algumas playlists entre as quais a "New Music Friday Portugal". Como o próprio nome indica, congrega as músicas que saíram na semana que passou. Uma das músicas que me chamou a atenção foi esta

Pedro Flores é um jovem fadista, possuidor de uma voz muito peculiar. A "Última Lágrima" é o 2o single do álbum que será lançado este ano embora estivesse previsto para o ano de 2020. O tema que despertou a minha atenção tem música e letra de Matias Damásio.

Boa semana.

 

 

 

Desafio dos Lápis de Cor #rosa

A vida em tons de rosa… ou talvez não

Charneca em flor, 10.03.21

Pela manhã, o carro circulava devagar enquanto se aproximava da escola secundária. Sofia seguia em silêncio olhando a sequência de prédios. Mal conseguia abrir os olhos, na verdade. A noite anterior tinha sido passada a chorar.

Quando chegara a casa, depois do idílico fim de tarde na praia, os pais esperavam-na de rosto fechado. A jovem foi sujeita a um interrogatório como se de uma criminosa se tratasse. Nunca, em quase 17 anos de vida, tinha visto os seus pais tão zangados e, muito menos, irados com ela, a filha exemplar. Sofia não resistira muito tempo às perguntas com que os seus progenitores a bombardearam. O relato da sua história de amor, tão doce e puro, transformou-se, aos ouvidos dos seus pais, numa coisa má e sórdida.

Sofia ficou estupefacta quando percebeu que a sua mãe tinha descoberto a sua mentira porque Ana telefonara lá para casa à sua procura. Não conseguia entender porque é que Ana tinha feito tal acto. Seria possível que se tivesse esquecido do que lhe tinha pedido? Dentro da sua cabeça gerara-se uma grande confusão.

Os seus pais proibiram-na de continuar com aquele namoro e Sofia teve que concordar porque o pai ameaçou ir falar com o rapaz. Ela nunca poderia passar por tal humilhação. Para além disso, não estava autorizada qualquer saída que não fosse para a escola ou acompanhada pelos pais. Não passava pela cabeça de Sofia desobedecer aos pais mesmo que fosse por amor. Nunca seria forte o suficiente para lhes fazer frente.

Não foi capaz de jantar e deitou-se assim que pôde. Mas pressentiu que o sono não iria chegar nessa noite. Nem sabia que era possível chorar durante tanto tempo. Chorara por horas e horas. Pela desilusão que dera aos seus pais mas também pela desilusão que ela também tivera com a atitude dos pais para consigo. Apesar de os seus pais serem muito rígidos, nunca imaginara que pudessem ter uma reacção tão violenta perante a sua mentira e sobre a sua descoberta do amor. As lágrimas caiam também pelo fim do seu sonho cor de rosa e por ter que dizer a Tomás que não se poderiam continuar a ver. Nunca mais sentiria a força do seu abraço ou o sabor dos seus beijos. Continuava a não conseguir compreender o que acontecera para a sua melhor amiga lhe ter falhado daquela maneira. Logo a ela que estava sempre a seu lado e que a ajudava em tudo o que podia, apesar de muitos colegas dizerem que Ana se aproveitava do seu bom coração. Caramba, eram amigas. Porque não haveria de a ajudar?

O pai parou o carro à porta da escola e despediu-se dizendo:

- Vê lá como te comportas. Já percebeste que tudo se sabe.

Sofia acenou com a cabeça e saiu do carro em silêncio. Ao levantar a cabeça fez-se luz na sua cabeça. Finalmente, compreendeu que Ana telefonara para sua casa, propositadamente, para a prejudicar. A poucos metros estava Tomás encostado à sua brilhante moto azul-cobalto. Junto dele, estava Ana, insinuante, conversando com ele com um ar apaixonado. Nem reparou se Tomás correspondia à inusitada atenção. Naquele instante, as lentes cor-de-rosa com que via o mundo quebraram-se de forma irremediável.

 

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