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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Mille - Fedez, Achille Lauro e Orietta Berti

Charneca em flor, 28.06.21

Agora que Portugal disse adeus ao Campeonato Europeu de Futebol, chegou a altura de eu começar a torcer para o meu "segundo"* país, a Itália. E não há melhor maneira do que começar a semana com uma alegre música italiana, "Mille". Segundo se consta, este projecto, que marcará o Verão italiano com toda a certeza, começou a tomar forma nos bastidores do Festival de San Reno uma vez que estes três intérpretes passaram pelo Festival. Fedez , em dueto com Francesca Michielin, ficou em 2o lugar.

 

 

P.S. - Sim, é verdade, há publicidade à Coca-Cola. Eu não sou o CR 7 .

*Nunca lá vivi mas já lá fui várias vezes. E de cada vez, fui-me apaixonando mais um bocadinho.

Sou como sou, Ana Bacalhau

Charneca em flor, 21.06.21

Uma canção alegre mostrando que é possível passar mensagens importantes de forma leve. Numa sociedade onde se fala de bullying, violência psicológica e culto da imagem nas redes sociais, "Sou como sou" tem tudo para se tornar um hino das mulheres que se aceitam com  são, independentemente da letra que está na etiqueta. O que é curioso é que esta música foi escrita por 2 homens (!).

 

"As mulheres da minha alma", Isabel Allende

Charneca em flor, 20.06.21

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Isabel Allende é uma das minhas autoras preferidas. Por isso o seu nome numa capa é sinónimo de qualidade e bons momentos. Este pequeno livro lê-se rapidamente uma vez que se tratam de curtas crónicas onde a autora fala de si, da sua vida, das mulheres e homens que fizeram parte da sua vida, escreve sobre o feminismo e que importância o feminismo teve na sua vida. Aborda também a condição feminina e as diferenças culturais que podem ser determinantes nas oportunidades que cada mulher tem na vida.

Isabel Allende "convoca" algumas mulheres que fazem ou fizeram parte da sua vida e que a continuam a acompanhar como espíritos como sejam a sua filha Paula, a mãe Panchita ou a agente literária Carmen Balcells. Todas essas mulheres ajudaram a construir o feminismo de Isabel Allende. Os homens mais importantes da vida da autora também tiveram um papel na maneira como foi construíndo a sua vida.

O livro tem cerca de 200 páginas e lê-se muito facilmente.

Não se trata de um dos brilhantes romances de Isabel Allende mas uma pequena e breve reflexão sobre a condição feminina, o amor e a vida. Admirável como uma mulher quase com 80 anos continua a escrever de forma tão apaixonada e refrescante.

"o patriarcado continua a ser o sistema dominante de opressão política, económica, cultural e religiosa que confere domínio e privilégios ao sexo masculino.

(...)

E em que consiste o meu feminismo? Não é o que temos no meio das pernas, mas entre as duas orelhas. É uma postura filosófica e uma sublevação contra a autoridade do homem. É uma forma de entender as relações humanas e de ver o mundo, uma aposta na justiça, uma luta pela emancipação  de mulheres, gays, lésbicas, queer (LGBTIQ+), todos os oprimidos pelo sistema e os demais que se nos queiram juntar.

(...)

O patriarcado é pétreo. O feminismo, como o oceano, é fluido, poderoso, profundo e tem a infinita complexidade da vida, move-se em ondas, correntes, marés e, às vezes, tempestades profundas. Como o oceano, o feminismo não se cala."

 

Desafio de Escrita dos Pássaros 3.0

Caramba, quase que conseguia!

Charneca em flor, 18.06.21


Eis que chegou, finalmente
A encomenda tão ansiada
Demorou, francamente
Até andava agoniada

Tenho o coração acelerado
Tal é a minha expectativa
Pelo conteúdo imaginado
Na minha mente criativa

É agora, o saco vou abrir
Ai, que não consigo
Um golpe vou desferir
Para descobrir o artigo

Por agora, está preso
Vou buscar uma faca
Para este pacote coeso
Cortei-me, estou fraca

O sangue começa a correr
Mas nada acontece
Não mais o que fazer
Isto já me enlouquece

Talvez esta tesoura
Me possa ajudar
Mas que grande loucura
Já não consigo lidar

Ufa, será que vou tê-la?
A encomenda resistente
Espero conseguir protegê-la
De atenção é carente.

 

A brincadeira,desta vez, é em forma de verso para responder ao Desafio dos Pássaros.

O ano sabático, João Tordo

Charneca em flor, 15.06.21

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Este mês de Junho, o clube de leitura a que pertenço propôs a leitura de um livro subordinado ao tema "Um livro sobre irmãos"

Eu escolhi uma das obras de João Tordo, "O ano sabático". A história de vida de João Tordo foi o ponto de partida para o enredo que construiu nesta obra. Quer João Tordo quer um dos personagens principais nasceram de uma gravidez de trigémeos  em que um dos bebés acabou por morrer. 

O livro começa com um contrabaixista com uma vida problemática que regressa a Portugal depois de ter vivido alguns anos no Canadá. Há anos que vem trabalhando numa composição musical que não consegue terminar. Numa noite em que assiste a um concerto descobre um pianista de sucesso, estranhamente parecido consigo, que toca a "sua" composição. Começa a questionar-se como é possível que tal tenha acontecido. Quem será aquele homem? Será uma terrível coincidência? Plágio? Quem será aquele homem? Será que o seu gémeo não morreu?

A história criada por João Tordo coloca uma série de perguntas que também podem questionar os leitores. Seremos mesmo seres únicos e originais ou haverá alguém igual a nós por aí?

Li este livro em menos de 10 dias logo lê-se facilmente. O estilo de escrita e o desenvolvimento da narrativa são característicos do autor. Nos livros que já li de João Tordo, é habitual encontrar personagens masculinas atormentadas tal como acontece com este "O ano sabático". 

Não posso dizer que não gostei do livro mas acho que ficou àquem daquilo que podia ter sido. Com a história que o autor tinha entre mãos, podia ter desenvolvido melhor a narrativa. Obviamente que o livro já tem alguns anos e que João Tordo já será um escritor diferente, actualmente. Por exemplo, o último livro que publicou, "Felicidade", é muito mais interessante de onde se concluí que é sempre possível evoluir.

"Foi nessa altura, enquanto estes pensamentos lhe surgiam e sentia, cada vez mais próximo, o calor do braço de Elsa, docemente afagando o seu ao ritmo sincopado da bateria, que escutou o acorde tão familiar. Dó sustenido. E, em seguida, a sequência que, na sua cabeça, se desmultiplicara inúmeras vezes numa melodia de grande beleza, embora rasgada por acordes menores, a extravagante sequência que tantas vezes ensaiara no Nutella.

(...)

Primeiro, incrédulo, compreendeu que, enquanto adivinhava a progressão dos acordes, a melodia, tocada por cima destes com a destreza da mão direita do músico, era exactamente igual à que havia inventado e trabalhado durante tanto tempo;"

 

Andorinhas, Ana Moura

Charneca em flor, 14.06.21

Esta música já foi lançada há mais de um mês mas eu só a ouvi com atenção algumas semanas mais tarde. "Andorinhas" marca uma renovação na carreira de Ana Moura já que deixou a agência e a editora com que trabalhava com a intenção de controlar melhor a sua carreira e de adquirir maior liberdade artística. 

Tal como as andorinhas, eu também tenho vontade de tirar o pé do chão e meter-me num avião que me tire daqui para fora. Que saudades de fazer uma  viagem.

 

Boa semana. 

 

 

TAG | 10 factos literários sobre mim

Charneca em flor, 13.06.21

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Esta publicação do blogue Por Detrás das Palavras inspirou-me a também partilhar alguns factos sobre mim que sou uma eterna viciada em livros. Então aqui vai

1 - O meu pai inscreveu-me numa das mais antigas bibliotecas fixas da Gulbenkian quando eu tinha 9 anos. Foi a melhor coisa que podia ter feito. Abriu-me os horizontes da leitura.

2 - Quando comecei a trabalhar, comprar livros foi uma das primeiras despesas que comecei a fazer. Já passaram mais de 20 anos.

3 - Não faço ideia de quantos livros possuo. Nunca tive coragem de os contar.

4 - Quando era criança, passava os Verões na casa da minha avó. Um dos meus tios também gosta muito de ler. Os seus livros eram uma tentação mesmo que não fossem adequados à minha idade. No início da adolescência, descobri um livro cuidadosamente escondido atrás dos outros. Era um livro erótico que eu li sem perceber grande coisa .

5 - Já tive a minha fase "Paulo Coelho". Li os livros quase todos. Felizmente já passou .

6 - Nunca li "As 50 Sombras de Grey" por mais que as minhas colegas, que adoraram, insistissem. Com tanto que há para ler, não vale a pena perder tempo.

7 - Nos últimos tempos, tornei-me uma leitora um bocadinho snob. Olho de lado para quem lê xaropadas românticas.

8 - Já sonhei escrever um livro, ou dois ou três. Acordei a tempo desse devaneio. 

9 - Tenho-me apercebido de que leio mais livros escritos por homens do que por mulheres. Assim tento intercalar a leitura de livros escritos por mulheres com livros escritos por homens.

10 - Quase a chegar aos 47 anos, sinto que o mundo tem tantos livros para ler e que o tempo começa a ser escasso para ler todos aqueles que eu gostaria.

Ainda fica muito por dizer mas já dá para ter uma ideia sobre o meu "Eu" literário.

Adorava que também partilhassem alguns factos sobre a vossa relação com livros. Fico à espera.

 

Desculpem pela extensão do post mas entusiasmei-me .

Se isto é um homem, Primo Levi

Charneca em flor, 07.06.21

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O autor de “Se isto é um homem", Primo Levi, era um químico, italiano e judeu que sobreviveu à vida num campo de concentração nos últimos anos da 2ª Guerra Mundial. Esta obra é um impressionante relato na primeira pessoa daquilo que se passou num dos mais negros períodos na História da Humanidade. Primo Levi viveu num dos campos de concentração de Auschwitz durante pouco mais de 1 ano. Essa experiência levou-o a escrever este livro em que a descreve de forma realista, objectiva e rigorosa sem cair na tentação do compreensível melodrama. Com ele sentimos humilhação, fome, frio, cansaço extremo, medo, resignação ou mesmo vergonha por aquilo em que se tornou para conseguir sobreviver ao campo. Porque para o regime nazi não foi suficiente exterminar seres indesejáveis – embora a maioria fossem judeus, também havia pessoas com outras origens – nas câmaras de gás. Aos presos que tinham condições para trabalhar, o regime “matava" de outra forma, através da humilhação destruía-se aquilo que torna um indivíduo num homem fazendo emergir os seus instintos mais primitivos.

Quem quiser, verdadeiramente, perceber o que foi o Holocausto tem aqui uma das melhores fontes de conhecimento. Esqueçam os livros que povoam os escaparates das nossas livrarias ostentando Auschwitz ou Birkenau no título. O Holocausto e o extermínio de judeus e outros seres humanos não foi uma fantasia de um qualquer escritor mais ou menos talentoso. Aconteceu e isso não se pode negar. Se o negarmos, abrimos a porta à sua repetição. Por melhor que um escritor investigue, aquilo que escrever nunca se conseguirá comparar aquilo que escreveu quem o sentiu na pele.

“Se isto é um homem" é um livro que fere a nossa sensibilidade e que nos faz pensar, “como é possível que um ser humano tenha feito isto a outro ser humano?”. No entanto, ainda bem que o li. A literatura deve servir para nos desassossegar e para alimentar em nós a empatia por quem nos rodeia, mesmo que seja alguém muito diferente de nós.

“Então, pela primeira vez nos apercebemos de que a nossa língua carece de palavras para exprimir esfa ofensa, a destruição de um homem. Num ápice, com uma intuição quase profética, a realidade revelou-se-nos: chegámos ao fundo. Mais para baixo do que isto, não se pode ir: não há nem se pode imaginar condição humana mais miserável. Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos escutarão e, se nos escutassem, não nos perceberiam. Tirar-nos-ão tem o nome: se quisermos conservá-lo, teremos de encontrar dentro de nós a força para o fazer, fazer com que, por trás do nome, algo de nós tal como éramos, ainda sobreviva.”

Desafio de Escrita dos Pássaros 3.0

Não aguento mais contigo!

Charneca em flor, 04.06.21

A mulher estava sentada à sua secretária diante do ecrã em branco do seu velho portátil. O seu cérebro divagava tentando encontrar o fio condutor para a história que queria escrever. No entanto, as palavras escapavam-se-lhe por entre as circunvoluções do seu cérebro. Todas as ideias que lhe surgiam, pareciam estapafúrdias. Numa vã tentativa de busca pela inspiração, levantou-se e olhou para a rua através da sua janela. As pessoas afadigavam-se no seu caminho para o trabalho, fosse a pé ou de carro.

Apesar de ser dia de trabalho para os outros, Maria estava em casa, de folga. Aquele dia parecera-lhe o ideal para compôr o texto a que se comprometera mas as palavras certas teimavam em fugir-lhe.

De repente, soube aquilo que iria escrever. Voltou a sentar-se à secretária e começou a bater nas teclas, furiosamente, como se temesse que a inspiração lhe voltasse a escapar. O exercício de escrita correu de feição até surgir uma palavra começada pela letra “F". O teclado do ultrapassado computador portátil funcionava pior a cada dia que passava. De vez em quando, uma letra ou outra deixava de funcionar mas, naquele momento, o “F" começou a funcionar desalmadamente tornando várias linhas do seu texto numa sucessão de “F's". Irritada, ela apagou as letras repetidas e voltou a tentar escrever o texto fantástico que tinha na cabeça. E os “F's" voltaram a surgir. Ela apagou-os de novo. Tentou arranjar um sinónimo para a palavra que pretendia escrever para tentar escapar à letra exasperante. Com alguma atenção conseguiu não tocar na tecla proibida. A inspiração voltou a conduzir as suas mãos e ela deixou-se ir. Tão envolvida estava pelas palavras que se distraiu e voltou a tocar no tal quadradinho de plástico. E os malvados “F's voltaram a encher a página.

Sem mais paciência para aquele traste, gritou:

- Não aguento mais contigo! – afirmou, enquanto o atirava para longe.

O pobre portátil embateu na parede e desintegrou-se, espalhando teclas, pedaços de ecrã bem como todos os outros componentes que o constituíam.

Ela apercebeu-se, imediatamente, de que a sua impulsividade lhe tinha arranjado um grande problema. Como é que ela ia terminar o desafio proposto pelo Desafio de Escrita dos Pássaros sem o seu velhinho computador?! Já não funcionava muito bem mas era o único que tinha.

 

Mais uma brincadeira escrevinhadora respondendo a este Desafio.