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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

"as intermitências da morte", José Saramago

Charneca em flor, 31.01.22

IMG_20220129_154226.jpgUm dos livros que me acompanhou neste mês de Janeiro foi "as intermitências da morte" de José Saramago. Tratou-se de uma releitura por causa da minha participação num "clube de leitura " dedicado aos livros de José Saramago uma vez que, este ano, se comemora o centenário do nascimento do Prémio Nobel da Literatura português.

Um facto interessante de reler um livro, quase 12 anos depois do primeiro contacto  com esta história, é reparar em pormenores que me escaparam nessa altura. Como é óbvio, já não sou a pessoa que era em 2010 uma vez que amadureci como pessoa e como leitora. José Saramago construíu uma história muito interessante e divertida apesar da morbidez do tema. Como é expectável, o autor, através desta história, passa importantes mensagens políticas e sociais bem como a crítica à Igreja como era seu apanágio. Será que gostaríamos de viver nesta realidade em que não se morria mas que se continuava a envelhecer e a adoecer? Seria agradável ficar num limbo entre a vida e a morte? Que implicações sociais e económicas teria esta situação? Mais um livro que me fez pensar apesar de também me proporcionar momentos agradáveis.

Para quem nunca leu Saramago, este é um bom livro para começar.

"É a todos os respeitos deplorável que, ao redigir a declaração que acabei de escutar, o senhor primeiro-ministro não se tenha lembrado daquilo que constitui o alicerce, a viga mestra, a pedra angular, a chave de abóbada da nossa santa religião, Eminência, perdoe-me, temo  não compreender aonde quer chegar, Sem morte, ouça-me bem, senhor primeiro-ministro, sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja."

 

 

Desumanização de Valter Hugo Mãe

Interpretado por Márcia, Camané e Dead Combo

Charneca em flor, 31.01.22

Na semana passada ouvi este tema na TSF depois de uma reportagem que divulgava uma exposição das ilustrações de Juan Domingues alusivas ao livro de Valter Hugo Mãe "A Máquina de Matar Espanhóis".

Esta música relaciona-se com único livro que li deste autor, "A desumanização". O vídeo mostra uma das cenas mais marcantes do livro.

Boa semana.

 

Fim, Fernando Daniel e Carolina Deslandes

Charneca em flor, 24.01.22

Letra linda, música harmoniosa e duas vozes maravilhosas, tudo ilustrado com um vídeo que prima pela simplicidade. Gosto muito de duetos e este é um dos melhores que ouvi nos últimos tempos. "Fim" faz parte do álbum do autor, "Presente", lançado em 2020. Este trabalho foi reeditado, recentemente, com o título "+Presente" e dele faz parte esta nova e emotiva versão da música "Fim" bem como outro 2 duetos incríveis.

Boa semana.

L' Enfer, Stromae

Charneca em flor, 17.01.22

O belga Stromae não é um músico muito conhecido em Portugal mas eu já o conheço há alguns anos. Penso que o descobri numa das viagens que fiz a França onde ele é muito famoso. O seu estilo passa pela música electrónica e pelo hip hop. Uma das sua músicas mais conhecidas é "Papaoutai" (Pai, onde estás). Stromae é filho de mãe belga e de pai ruandês mas teve muito pouco contacto com o pai que morreu no genocídio do Ruanda em 1994. 

O músico esteve alguns anos sem lançar novas músicas devido a um problema de saúde. Esta semana lançou "L' Enfer" cuja letra nos desperta para a problemática da saúde mental, que se deteriorou muito devido à pandemia, e do suicídio. Gosto muito da sonoridade e a letra é muito interessante. Faz-nos pensar.

 

"Bela", Ana Cristina Silva

Charneca em flor, 07.01.22

IMG_20220105_224202.jpg

 

A figura de Florbela Espanca sempre me fascinou. Como já partilhei aqui, um dos seus poemas serviu de inspiração para o nome blogosférico, Charneca em Flor.

Através dos seus poemas, tive o primeiro contacto com a poesia. Florbela Espanca escreveu sobre o amor, a dor, o sofrimento e, com este romance, consegui compreender a razão para que Florbela tivesse escrito da maneira como escreveu.

Já li outros livros de Ana Cristina Silva mas, para mim, este é o meu preferido. A autora conseguiu transmitir a existência perturbada de Florbela Espanca de forma magistral. Gostei muito da maneira como o romance foi estruturado e da relação estabelecida entre as várias personagens. Ao longo da história, senti uma imensa empatia por "Bela" e sofri com ela. Comparando a condição feminina de hoje em dia com a época em que "Bela" viveu, percebe-se que, apesar de tudo, já foi percorrido um longo caminho. Muito do que "Bela" vivenciou foi influenciado pelo facto de ser mulher. A sociedade não foi capaz de a compreender.

Recomendo vivamente a leitura deste livro.

"Aquele instante marca uma fronteira, um sinal que levou à criação de uma nova história para a minha vida. Tinha descoberto que as palavras poéticas podiam sarar feridas. No dia seguinte,  o meu pai voltou a partir e eu passei a sonhar com os lugares imaginários onde ele me poderia levar quando fosse mais crescida. Para sobreviver à madrinha, nas minhas fantasias, renascia poeta e o meu destino  cruzava-se com versos incendiários lançados à multidão."

 

Medo, Terno Rei

Charneca em flor, 03.01.22

Na última semana de 2021, como estava de férias, distraí-me e acabei por não publicar a música à 2a feira como era habitual. 

Hoje voltamos à programação musical para iniciar a semana. Assim começamos com "Medo" que é algo que todos sentimos nos 2 últimos anos.

Boa semana.

A Nossa Vida em Sete Dias, Francesca Hornak

Charneca em flor, 02.01.22

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O mês de Dezembro já lá vai e com ele terminou o desafio "Uma Dúzia de Livros" da Rita da Nova. O último tema era "Um livro festivo". Este tema foi o que me levantou mais dúvidas porque não sabia que livro ler. A escolha acabou por recair neste livro. 

A história deste livro passa-se na época festiva entre o Natal e o Ano Novo. A família Birch é obrigada a passar sete dias em isolamento porque a filha, a médica Olívia, volta da Libéria onde esteve como voluntária no combate a uma perigosa doença contagiosa.
Cada um deles carrega um segredo que escolhe não partilhar com os outros mas a estreita convivência da imposta quarentena poderá trazer a lume muitas coisas que ficaram por dizer ao longo dos anos.
Como se não bastassem os seus problemas pré-existentes, ainda enfrentam o aparecimento de outras personagens que aumentam a tensão que o isolamento provoca entre os elementos da família Birch. Afinal, os dias de festa em família podem ser muito complicados.

O livro termina de forma um pouco inesperada mas até gostei da forma como a autora fechou a história.

Uma leitura cativante, festiva mas também dramática, com alguns apontamentos de humor e muita ironia. 

"A Nossa Vida em Sete Dias" foi um dos livros que mais prazer me deu em 2021.

"Depois de os três terem conseguido enfiar a árvore mais ou menos na vertical dentro do balde de carvão, sentiu-se melhor. A sala de visitas estava gelada, como de costume, mas Phoebe sempre adorara as suas paredes de terracota, as sancas rococó e os lustres tipo cenário de cinema. Ela e Olívia costumavam patinar de peúgas no imenso soalho encerado e brincar às casinhas na enorme lareira.

(...)

Foi até à árvore, respirou fundo e o cheiro a resina de pinheiro transportou-a aos seus sete anos - a sacudir os embrulhos com Olívia"