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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Obijmy, Okean Elzy

Charneca em flor, 28.02.22

Numa das noites em que a guerra obrigou os ucranianos a procurarem um  refúgio seguro, um grupo de jovens partilhou esta música com desconhecidos na mesma situação. Porque a música é uma linguagem universal, esta é a música que trago hoje.

Esta canção fala de guerra, de separação mas também de abraços.

Okean Elzy é uma das bandas de maior sucesso na Ucrânia mas também nos outros países da Comunidade de Estados Independentes e até na Rússia. Esta banda é conhecida pela profundidade das suas letras, todas em ucraniano, pelo seu característico estilo musical e pela sua energia em palco.

Boa semana.

A Viagem do Elefante, José Saramago

Charneca em flor, 22.02.22

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"A Viagem do Elefante" e o Monte Branco (Alpes)

O grupo de Leitura Conjunta de Saramago escolheu, para o mês de Fevereiro, "A Viagem do Elefante". Li esta edição mais antiga que pertenceu ao meu sogro, já falecido, o que tornou a leitura ainda mais especial.

Numa das primeiras páginas do livro, o autor explica que resolveu escrever este livro depois de numa viagem à Áustria, a Salzburgo, se ter deparado com algumas imagens de madeira entre as quais figurava a "nossa" Torre de Belém. A pessoa que o acompanhava contou-lhe que o Rei português D. João III oferecera, como presente de casamento, um  elefante indiano ao Arquiduque da Áustria, Maximiliano II. O pobre animal viajara desde Lisboa até Viena atravessando grande parte de Europa incluindo os Alpes. Partinda deste facto histórico, do qual não existem muitos registos, Saramago aplicou toda a sua mestria e imaginação para construir mais uma história fascinante em que os protagonistas são o elefante Salomão e o seu cornaca mas também a organização social portuguesa e europeia da época.

José Saramago escreveu este livro com a saúde num estado muito debilitado. O autor chegou a temer falecer antes de o terminar. 

Não sei dizer aquilo que mais me fascinou, se a imaginação que Saramago aplicou na "reconstrução" da viagem do elefante ou a sua acutilância na análise das contradições da sociedade da época mas que continuam presentes.  Saramago utilizou o exemplo desta atribulada viagem para mostrar como os ditames de quem nos governa, ou comanda, nos podem conduzir a caminhos íngremes e difíceis de percorrer como aconteceu com o elefante.

Achei admirável que um homem de quase 90 anos ainda mantivesse as suas capacidades intelectuais intactas a ponto de ser capaz de escrever um romance que tem tanto de divertido como de denunciador dos males da sociedade. E ainda ser capaz de piscar o olho aos seus leitores mais assíduos ao colocar uma referência a um dos seus livros mais icónicos.

"A Viagem do Elefante" proporcionou-me bons momentos e levou-me a viajar por essa Europa fora, sentada no dorso do elefante. É impossível não ficar apaixonada pelo Salomão, pelo seu cornaca e pela relação tão estreita que havia entre eles.

"Não se pode descrever. Realmente, o maior desrespeito à realidade, seja ela, a realidade, o que for que se poderá cometer quando nos dedicamos ao inútil trabalho de descrever uma paisagem, é ter de fazê-lo com palavras que não são nossas, que nunca foram nossas, repare-se, palavras que já correram milhões de páginas  e de bocas antes que chegasse a nossa vez de as utilizar,  palavras cansadas, exaustas de tanto passaram de mão em mão e deixarem em cada uma parte da sua substância vital."

 

Sempre vens assim, Magali Sare e Salvador Sobral

Charneca em flor, 21.02.22

Hoje partilho uma música muito alegre. No Youtube, esta canção é descrita assim:

"Esta canção é uma particular homenagem que Magalí Sare faz a Portugal e também às grandes festas, de que sentimos tanta falta nestes tempos de pandemia. A letra é uma colagem de pedaços de diferentes Quadras (breves poemas de quatro versos) de Fernando Pessoa. Toda a música é da autoria de Magalí Sare excepto um interlúdio que foi criado a partir da melodia de Glosa, que se canta em Manacor (cidade muito querida para a cantora) durante as festas de Sant Antoni, festividade que, casualmente, a localidade maiorquina partilha com Lisboa."

Em primeiro lugar, acho admirável que as palavras de Fernando Pessoa continuem a soar novas e frescas.

Em segundo lugar, fico muito feliz que uma jovem catalã se tenha encantado com o poeta português quando haverá inúmeros portugueses que nunca leram Fernando Pessoa.

Em terceiro lugar, as vozes maravilhosas de Magali Sare, Salvador Sobral e companhia enchem o coração e dão-nos vontade de dançar.

Espero que gostem.

Boa semana.

 

 

Mais leituras de Janeiro

Clube do Livra-te

Charneca em flor, 15.02.22

Este ano aderi a duas iniciativas literárias:

  • Leitura Conjunta de Saramago dinamizada por Magda Cruz, autora do podcast Ponto Final. Parágrafo. 
  • Clube do Livra-te dinamizado por Rita da Nova e Joana da Silva, autoras do podcast Livra-te.

Sobre o livro de José Saramago para o mês de Janeiro já escrevi aqui. Hoje vou partilhar algumas ideias sobre os livros do mês de Janeiro sugeridos pela Rita e pela Joana, "Winter" de Ali Smith e "A troca" de Beth O' Leary, respectivamente.

Os 2 livros acabam por ter uma ténue ligação já que ambos nos fazem olhar para o envelhecimento e para a vida das pessoas mais idosas.

20220211_133526.jpgWinter, Ali Smith

Este livro pertence a uma série de 4 cujos títulos revertem para as estações do ano. Quando o primeiro livro, "Autumn" foi mencionado no podcast Livra-te, por impulso, comprei os quatro títulos em inglês e em ebook.

"Winter" é de leitura mais difícil do que o primeiro. Afinal, o Inverno é mais difícil de suportar do que o Outono, não é verdade?

A acção principal ocorre no Natal mas a escrita da Ali Smith baseia-se muito naquilo que habita na memória das personagens por isso a história vai saltitando entre vários espaços temporais. Como ela própria diz, o único sítio onde podem coexistir vários espaços temporais é num livro. Voltamos a sentir o ambiente pós-brexit mas a autora vai para além disso abordando, igualmente, as preocupações ambientais, o activismo, a emigração e a doença mental. "Winter" aborda, também, o envelhecimento, as várias maneiras de envelhecer e as diferenças geracionais.

Os livros podem-se ler, independentemente, uns dos outros embora haja uma breve ligação, quase imperceptível. 

Em suma, valeu a pena insistir na leitura porque, no final, acabou por ser uma boa experiência.

"Well, this story is from the past, Art says, so the today it’s about is in the past now. And obviously, it’s about Christmas, this is a story set at Christmas time, and it’s June right now, so this also means it’s not the same as today. That’s one of the things stories and books can do, they can make more than one time possible at once."

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A troca, Beth O' Leary

"A troca" conta uma história muito ternurenta. Eileen e Leena são a avó e a neta que resolvem trocar de vida. A avó Eileen vai viver para Londres, interagindo com os amigos da neta, em busca de um novo amor depois da separação e Leena vai viver para uma pequena aldeia do Yorkshire assumindo todas as funções da avó na comunidade. Esta combinação entre as duas gera inúmeras e divertidas peripécias.

Este livro entra na categoria dos livros leves mas não encaremos isso como uma crítica. É bom ir intercalando livros mais densos com livros mais leves para contrabalançar as leituras.

Neste livro, o envelhecimento activo acaba por ser um dos pontos fulcrais da história. O desenrolar do livro acaba por ser previsível mas não deixou de ser uma experiência agradável. 

"Não é que me sinta envergonhada por estar à procura de um novo amor. Mas os jovens têm tendência para achar engraçadas as pessoas mais velhas que ainda pensam no amor. Não é por maldade  fazem-no sem pensar."

 

Sei tu, Fabrizio Moro

Charneca em flor, 07.02.22

Quando não se viaja fisicamente, há várias formas de viajar. Podemos ver fotografias, ler um livro ou ouvir uma música que nos transporta para onde já fomos felizes. 

A Itália é o meu país preferido. Por isso foi com interesse que, por influência do A., fui acompanhando o Festival de San Remo. Embora não tenha visto todos os espectáculos transmitidos, algumas músicas chamaram a minha atenção.

Uma delas foi este "Sei tu" interpretada por Fabrizio Moro, que também assina a letra em co-autoria. Aliás esta música ganhou o prémio para a melhor letra. Eu dou uma importância extrema à letra por isso fico feliz que se valorize esta parte das músicas.

Fabrizio Moro venceu o Festival de San Remo em 2018, como parte de um dueto com Ermal Meta, e representou a Itália no Festival da Eurovisão de Lisboa com a música "Non mi avete fatto niente".

Desta feita, Fabrizio Moro apresentou uma maravilhosa balada e ficou em 12a lugar. Para mim, esta posição não reflecte a beleza desta música.

 

 

Vários Círculos

Charneca em flor, 02.02.22

Depois de uma fila imensa, entrei, finalmente, no Museu Guggenheim. Já era o segundo dia da minha viagem a Nova Iorque que dedicava a museus.

No dia anterior, enquanto passeava por Central Park, vislumbrara o edifício do museu e tinha decidido que tinha que lá entrar. O aspecto arquitectónico exterior era, ele próprio, uma obra de arte que me deixou intrigada sobre aquilo que albergava no interior.

Aquilo que fui encontrando no Museu impressionou-me pela estranheza. Solomon R. Guggenheim criou uma impressionante colecção de arte moderna o que o levou a criar a Fundação Solomon R. Guggenheim bem como o museu. Tenho que confessar que nunca fui muito entendida em arte mas sempre apreciei objectos bonitos mas que eu conseguisse compreender. Isto significa que a arte moderna e contemporânea sempre escapou ao meu entendimento.

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Inesperadamente, um quadro chamou-me a atenção pela motivo e pelas cores electrizantes. Era Einige Kreize (Vários Círculos) de Wassily Kandinsky. Senti-me atraída, de forma magnética, fiquei diante dele e deixei que comunicasse comigo. Embrenhei-me por aquilo que o quadro mostrava e compreendi a sua mensagem. Pelo menos, a mensagem que o artista me transmitiu a mim. Olhei todos aqueles círculos e vi a minha vida. Cada objecto colorido daquele quadro representava as pessoas e os ambientes que foram fazendo parte da minha vida ao longo dos anos. Kandinsky pintou círculos maiores e mais pequenos, uns tão próximos que tocam nos outros e até se sobrepõem. As pessoas que passam pela nossa vida são assim. Num momento são-nos muito próximas mas depois vão-se afastando até quase desaparecendo. Nós somos pessoas diferentes consoante os ambientes em que nos movemos. Há ambientes que nunca se tocam mas há outros que se cruzam quase se sobrepondo. E foi isso que aquele quadro me disse. Eu vi a minha vida naqueles círculos coloridos. O quadro fascinou-me tanto que quando dei por mim tinha chegado a hora de encerramento e quase que eu ficava fechada no interior do Museu Guggenheim.

 

Texto escrito para o Desafio Arte e Inspiração organizado pela Fátima Bento e com a participação de Ana D.Ana de DeusAna Mestrebii yueCélia, Charneca Em FlorCristina AveiroImsilvaJoão-Afonso MachadoJosé da XãLuísa De SousaMariaMaria AraújoMiaOlgaPeixe FritoSetePartidas