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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Lizzie & Dante, Mary Bly

Charneca em flor, 26.04.22

IMG_20220425_215939.jpg"Lizzie & Dante" foi o livro escolhido pela Joana da Silva, do Clube do Livra-te, para o mês de Abril. 

Quando percebi que a história se desenrolava numa ilha italiana, fiquei logo interessada. Como não tenho viajado nestes 2 últimos anos, este livro foi uma excelente maneira de "viajar" até um cantinho da "minha" Itália.

A ilha é Elba onde eu nunca fui mas que é conhecida por ter sido a ilha onde Napoleão Bonaparte esteve exilado. 

Este livro aqueceu-me a alma e o coração. "Lizzie & Dante" sabe a Verão, a vinho italiano, a limoncello, a pasta e cheira a maresia. Embora me tenha sabido bem em Abril é, nitidamente, um livro de Verão, para ler à beira-mar ou à beira da piscina.

Lizzie é uma professora, especialista em Shakespeare, que enfrenta um grave problema de saúde. Elba é o seu destino de férias, talvez o último, na companhia do seu melhor amigo, Grey, e do companheiro deste, Rohan, um famoso actor de Hollywood. Um dia na praia "tropeça" num charmoso Chef italiano, Dante, que traz na bagagem uma filha e uma cadela. E o resto fica para descobrirem quando lerem o livro.

Uma história comovente onde o passado se cruza com o presente e se embrulha no futuro. Uma história de dor, amor, amizade e vontade de viver regada com o melhor vinho italiano e alimentada a antipasti, prosciutto e mozarella. Em suma, abre o apetite.

"Lizzie & Dante" tem a leveza das histórias românticas mas tem também algumas sombras para contrabalançar. Gostei muito deste livro mas fiquei com pena de não ter lido em inglês. Na minha opinião, a edição portuguesa deixou um pouco a desejar, pelo menos, na versão digital. Nalgumas passagens senti que faltavam frases, parecia não haver ligação de um parágrafo para outro. Não sei se estava assim, originalmente, ou se foi da tradução ou alguma falha da revisão do livro. Outro pormenor é que a acção parece ser muito rápida nalgumas passagens e excessivamente lenta noutras. O final não é tão previsível como se poderia pensar ao longo do livro.

Tendo em conta que me deu muito prazer lê-lo, a minha classificação é 

⭐⭐⭐⭐

"Afastou as cortinas de linho e empurrou para trás as pesadas persianas de madeira. O mar parecia verde-escuro perto da costa e amarelo nohorizonte, onde o Sol nascia. Guarda-sóis cor-de-rosa com franjas esvoacavam à direita, onde a areia fora varrida como um jardim de pedras japonês.

À esquerda, ficava a praia pública. Os guarda-sóis ainda estavam atados, as cadeiras dobradas. Uma fieira de algas de um cinzento-esverdeado tinha acostado a beira-mar e ali deixada pela maré. Na noite anterior, o ar era inebriante com um perfume a flores, mas agora apresentava-se fresco e limpo, com uma delicada coloração do mar.
Elba era sedutora de manha cedo. A água parecia renda num voltear de espuma, quando se juntava à areia e, sustivesse a respiração, conseguia ouvi-la embater na costa."

 

 

Tanto Mar, Chico Buarque

Charneca em flor, 25.04.22

Hoje, ao contrário do que é habitual, não trago uma música nova. Em 1975, Chico Buarque lançou a primeira versão da música "Tanto Mar" que homenageava a Revolução dos Cravos.

Em 1978, o autor alterou alguns versos de acordo com  a sua visão sobre o rumo de Portugal posteriormente ao fim da ditadura.

Ficam aqui as duas para que cada um decida aquela que mais lhe diz. 

Bom feriado e boa semana. 

"Torto Arado", Itamar Vieira Junior

Charneca em flor, 24.04.22

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Ao ver o anúncio de que este fantástico livro será adaptado para uma série da HBO Max, reparei que ainda não tinha partilhado por aqui a minha experiência de leitura de "Torto Arado". 

O ponto de partida para esta história é um acontecimento dramático envolvendo as duas irmãs, ainda crianças, Belonísia e Bibiana, que influencia a relação que se estabelece entre elas ao longo da vida bem como a forma como as suas vidas se irão desenrolar. Paralelamente, tomamos contacto com a realidade em que a família vive. Belonísia e Bibiana nasceram numa família de quilombolas. Os quilombolas são homens e mulheres livres que descendem dos escravos e, para sobreviverem, aceitam trabalhar para os fazendeiros em troca da possibilidade de construir uma casa de barro, para não se tornar definitiva, bem como espaço para cultivarem os seus alimentos. No fundo, é uma forma de escravatura encapotada. Acompanhamos esta família na sua luta pelo direito à educação, ao direito à habitação e ao seu justo rendimento.

Com "Torto Arado", aprendemos a construir a empatia dentro de nós por aqueles com poucos, ou nenhuns direitos, e muito poucas oportunidades. Mais um livro para nos fazer pensar e olhar à nossa volta, para além do nosso umbigo.

Uma excelente leitura. Tenho a certeza que fará da parte da minha lista de preferidos do ano.

"Mesmo muito depois de o carro ter deixado a fazenda e a familia ter se recolhido aos seus afazeres, Belonisia permaneceu à porta mirando a estrada e tudo o mais que não podia ver de onde estava. Bibiana se levantou da mesa, onde iria iniciar a correção dos cadernos, e se dirigiu até à irmã. Envolveu-a por trás, enlaçando os braços em sua cintura, aninhando seu rosto entre o ombro e a orelha. Belonísia segurou suas mãos. Juntas fecharam os olhos compartilharam a dádiva daquele instante. Entregaram-se àquele gesto por inteiro e experimentaram algo que poderiam chamar de perdão."

 

 

 

"Chasing the light", David Fonseca

Charneca em flor, 11.04.22

A cabeça de David Fonseca deve funcionar de maneira muito diferente da mente dos comuns mortais. As ideias que saem de lá de dentro são sempre surpreendentes. Desta feita traz-nos o álbum visual "Living Room Bohemian Apocalypse" em 7 episódios. Cada canção é um episódio. Esta semana saiu o primeiro "Chasing the light". David Fonseca é, realmente, genial mas vive num mundo só dele. Um estranho mundo. Se bem que o quotidiano fora da cabeça do artista também não anda muito normal.

 

"A Mais Breve História da Rússia", José Milhazes

Charneca em flor, 07.04.22

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A incredulidade perante o actual conflito em solo ucraniano levou-me a procurar alguma informação histórica porque acredito que para compreendermos o presente é necessário conhecer o passado. Perante este pressuposto foi com satisfação que ouvi falar da recente publicação desta "A Mais Breve História da Rússia" de José Milhazes. Este jornalista foi correspondente, de vários meios de comunicação social diferentes, em Moscovo durante muitos anos. José Milhazes tornou-se, nos últimos meses, uma presença assídua nos blocos noticiosos da SIC como comentador de política internacional especialmente no que à Rússia e à invasão da Ucrânia diz respeito. Tendo em conta a sua formação em História da Rússia, achei que era um bom livro para começar a tentar compreender aquela região.

Tal como o título anuncia, esta obra constitui uma abordagem muito breve à História da Rússia bem como a sua estreita ligação à Bielorrússia e à Ucrânia. Apesar da densidade do tema, a escrita de José Milhazes é muito acessível e permite perceber como aquela região foi, sempre, muito conflituosa o que levou a que, ao longo dos tempos, as fronteiras entre aqueles países nunca tenham sido muito claras e definidas. Não que isso justifique, seja de que forma fôr, a invasão perpetrada pela Rússia na Ucrânia.

No final do livro, o autor elenca uma lista bibliográfica exaustiva com livros de não-ficção e de ficção que possibilitam um conhecimento mais profundo sobre a História, a sociedade e a cultura russa e a sua influência sobre os países vizinhos.

A meu ver, recomenda-se a leitura deste livro para ter uma visão abrangente, ainda que limitada, deste país gigantesco governado por quem desencadeou este conflito que, mesmo longe, influencia as nossas vidas. A matrioska é uma boa metáfora para aquilo que é este país e o seu passado. Quando pensamos que chegamos ao âmago da questão, descobrimos sempre mais algum pormenor.

 

"Foi palco de inúmeros acontecimentos e conflitos, de expansões e invasões, de conquistas e derrotas, mas soube preservar o seu principal núcleo, uma civilização com um papel de charneira entre a Europa e a Asia, detentora de uma cultura rica e de uma massa humana que se distingue em muitos domínios do conhecimento e das artes. A extensão e diversidade deste enorme território, que alcança os limites geográficos da Eurásia, torna a Rússia, aos olhos de muitos, difícil de ser entendida como um pais, mas a uniformidade das suas características civilizacionais desaconselha a que se tenha dela visões redutoras. Foi difícil escrever este livro pois uma breve história implica uma selecção dos factos mais importantes, o que lhe dá um cunho muito pessoal e subjectivo. Mas o seu objectivo é meritório, pretende dar ao leitor uma ferramenta útil para a compreensão da vida passada e presente do maior país do mundo. Saber como surgiu e se desenvolveu um país que ao longo da sua história teve varios nomes - Rus, Moscóvia, Império Russo, União Soviética, Federação da Rússia"

Vertigem, Salvador Sobral e Agir

Charneca em flor, 04.04.22

Salvador Sobral continua a reinventar-se a cada dia que passa e surpreender, provando que é um artista multifacetado. De um encontro à mesa com Agir, através amigos comuns, nasceu esta "Vertigem". Os dois artistas, que nada parecem ter em comum à primeira vista, provam que a música é uma linguagem universal seja qual fôr a roupagem. Não é pelo uso de ferramentas digitais que deixa de ser uma grande música ilustrada por um brilhante vídeo. Espero que esta não seja uma colaboração única.

Uma experiência interessante.

Boa semana.