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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Paz, Carolina Deslandes

Charneca em flor, 28.05.22

Nas últimas semanas, tenho andado mais distraída do que é normal e tenho-me esquecido de partilhar as músicas que me têm surpreendido. Na verdade, o talento de Carolina Deslandes já não me surpreende porque, de música para música, o seu talento agiganta-se cada vez mais. Há uns anos, Carolina cantava o amor par' "A vida toda". Agora canta a dor da separação. E nenhuma destas situações deixa de ser verdadeira, no momento preciso que ela as viveu. Carolina Deslandes canta aquilo que já todos vivemos, de uma forma ou de outra. E com que mestria. 

Bom fim de semana. 

"Vera Lagoa, Um Diabo de Saias", Maria João da Câmara

Charneca em flor, 20.05.22

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Inspirada pela estreia da 2a temporada das "3 Mulheres", resolvi pegar, finalmente, na biografia de Maria Armanda Falcão, mais conhecida por Vera Lagoa.

Esporadicamente, gosto de ler este género literário e aprecio biografias de mulheres fortes como é o caso de Maria Armanda Falcão. Há pessoas cujas vidas são mais surpreendentes que a própria ficção.

Ainda antes de se tornar Vera Lagoa, Maria Armanda Falcão esteve sempre do lado contrário a quem estava no poder. A sua consciência política foi despertada pelo pai, militar que caiu em desgraça depois de ter participado no Reviralho. Devido a essa circunstância, acabou por não ter uma educação escolar regular mas isso não a impediu de ser uma figura incontornável e incómoda do jornalismo português dos anos 70 e 80. Mulher de armas e trabalhadora, teve o privilégio de privar com grandes figuras do panorama cultural português como os seus grandes amigos Natália Correia ou Luís de Sttau Monteiro. A sua entrada no mundo do jornalismo aconteceu pela mão de Francisco Pinto Balsemão que a convidou para escrever uma crónica no jornal "Diário Popular". Assim nasceu a misteriosa figura, Vera Lagoa.

Antes da Revolução dos Cravos, participou activamente na campanha eleitoral de Humberto Delgado e ajudou presos políticos bem como as suas famílias. Embora tenha recebido o fim da ditadura com entusiasmo, cedo se desiludiu com os excessos cometidos pelos novos poderosos* nos primeiros anos da democracia. Como foi capaz de colocar o dedo nessas feridas, acabou por sofrer o afastamento de alguns dos seus amigos e conhecidos. Vera Lagoa foi sempre fiel às suas convicções nunca deixando de dizer aquilo que pensava sem se deixar intimidar seja por quem fosse. Essa postura valeu-lhe processos judiciais e ataques bombistas aos jornais onde trabalhou.

Este livro descreve-nos, profundamente, a riquíssima vida desta mulher destemida que encontrou nas palavras, a sua arma. Mas a autora não se limita ao trabalho biográfico à volta desta figura, Maria João da Câmara apresenta-nos, também, um detalhado retrato de Portugal nas últimas décadas do séc XX.

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"Há mulheres assim. Mulheres que, pela sua forma de ser e de estar, não passam despercebidas. Mulheres cuja voz se faz ouvir, ainda que muitos silêncios pretendam pesar sobre elas. Porque incomodam. Porque são diferentes. Porque vão contra as correntes - de ontem e de hoje. Porque são, afinal, mulheres fortes.

Conhecida como a primeira locutora da RTP, Maria Armanda FaFalcão oi despedida por se recusar a cumprir uma ordem com a qual não concordava. Foi sempre assim, de personalidade vincada, pelo que ser seu amigo nao era fácil nem cómodo.' Tendo começado, em 1966, a escrever no Diário Popular pequenas crónicas com o título sugestivo (e por ela odiado) de 《Bisbilhotices》, o sucesso de Maria Armanda Falcão adveio não apenas do que escrevia e de como escrevia, mas também de utilizar um pseudónimo - Vera Lagoa -, que adensou o mistério e aguçou a curiosidade sobre a sua identidade. O publico revia-se nos seus textos (e temia-os) e, se não comprava o Diario Popular por causa da coluna de Vera Lagoa, não deixava de a ler com grande curiosidade.

Tuteando tudo e todos, directa e vocative, usava uma linguagem coloquial, muito própria e muito nova: a sua coluna era viva, jocosa, imprevista, muito mordaz, que dissecava, descobria e revelava a sociedade portuguesa. Apesar das limitações da época, Vera Lagoa conseguiu simultaneamente gracejar com ministros, denunciar miserias e vicios de grandes e pequenos, de falsos ídolos, de pretensiosos, de arrivistas."

 

 

*Refiro-me ao tempo do PREC, do Verão Quente, das acções da Esquerda Radical do MFA e à  criação do Conselho da Revolução.

 

Agarra em mim, Ana Moura ft Pedro Mafama

Charneca em flor, 14.05.22

Esta semana, de dia para dia, fui-me esquecendo de partilhar uma música, descoberta recentemente, como é habitual. Afinal havia uma razão para isso, estava à espera desta nova canção.

Embora já conheça bem o trabalho de Ana Moura (Desfado é o meu álbum preferido), em relação ao Pedro Mafama só ouvi falar dele quando o começaram a relacionar com ela. 

Ana Moura é dona de uma das vozes mais poderosas do actual panoroma musical português para além de ser uma mulher muito bonita e corajosa. Corajosa no sentido em que conseguiu reinventar o fado trazendo novos apreciadores assim como, nos últimos anos, se reinventou a si própria tomando nas suas próprias mãos o destino que queria dar à sua carreira. Corajosa também porque sabe que os puristas do fado a irão criticar e não será pouco. A mim só me resta ficar fascinada com este trabalho assim como com este vídeo repleto de amor e carinho pelos seus fãs. Este vídeo prova, também, que uma mulher pode ser bela, sensual e sentir-se bem na sua pele em todas as fases da vida como na gravidez. Ninguém pode negar a beleza das imagens deste vídeo.

Muitos parabéns, Ana Moura, Pedro Mafama e restantes artistas que colaboraram nesta canção e neste vídeo.

Mil Sóis Resplandecentes, Khaled Hosseini

Charneca em flor, 06.05.22

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Este livro foi mais uma sugestão para o mês de Abril do Clube do Livra-te. Desta feita, a escolha foi da Rita da Nova.

O pano de fundo deste romance é o Afeganistão desde os anos 60 (ainda no tempo da Monarquia) até ao início deste milénio passando pela Revolução Marxista, e consequente invasão soviética, pela guerra entre as forças governamentais (apoiadas pela URSS) e os Mujahidin, seguida pela guerra civil entre grupos rebeldes e que terminou com a vitória dos Talibã chegando à invasão norte-americana posterior aos atentados do 11 de Setembro.

As figuras centrais deste romance são 2 mulheres de gerações diferentes, Marian e Laila, que acabam por se casar com o mesmo homem em circunstâncias muito díspares. Através delas conseguimos perceber perfeitamente as condições de vida a que as mulheres afegãs estavam, e continuam a estar, sujeitas.

O contexto histórico e político está muito bem entrelaçado na narrativa de forma a que este não se torne aborrecida. A construção das personagens é excelente. Não são lineares, têm várias camadas e vão evoluindo ao longo dos anos, com tudo aquilo que lhes vai sucedendo. O autor consegue que o leitor estabeleça uma conexão empática com Laila e Marian embora de forma diferente e evolutiva.

Para além da condição feminina imposta pelo ambiente social que se vive, é abordada a violência doméstica de forma tão realista que quase conseguimos sentir as dores destas 2 mulheres.

"Mil Sóis Resplandecentes" é um livro perturbador, duro, que abala as nossas certezas e que nos confrontam com uma realidade muito diferente da nossa realidade ocidental. Este livro encaixa na categoria dos livros que, mais do que uma fonte de distracção, nos fazem reflectir sobre a natureza humana, sobre a maldade e sobre tudo aquilo que falta fazer para construirmos uma sociedade mais justa e um  futuro mais digno para todos. E ler esta obra fez-me sentir grata porque a lotaria da Vida me fez nascer num país onde ser mulher é diametralmente diferente daquilo que significa sê-lo no Afeganistão, principalmente neste tempo em que vimos regressar os Talibãs ao poder, ainda que em versão 2.0.

Em suma, ainda bem que a Rita da Nova sugeriu este livro porque de outro modo não teria pegado nele perdendo uma óptima oportunidade de enriquecimento pessoal.

"- Lamento - diz Laila, achando espantoso que as histórias de todos os afegãos sejam marcadas pela morte, pela perda e por inimagináveis desgostos. E no entanto, como ela testemunha, as pessoas acham maneira de sobreviver, de seguir em frente. Pensa na sua própria pria vida e em tudo o que lhe aconteceu, e admira-se por também ela ter sobrevivido, por estar viva e sentada naquele taxi a ouvir a história daquele homem."

 

Idiota, Jão

Charneca em flor, 02.05.22

Nunca tinha ouvido do Jão mas, este fim de semana, mostraram-me esta canção e fiquei rendida. É bem orelhuda e animada para começar a semana, apesar da mensagem que pode ser entendida como algo dramática.

Não é uma música portuguesa mas é cantada no delicioso português com açúcar do Brasil.

O vídeo é espectacular e recria algumas cenas icónicas do cinema como "Dona Flor e seus 2 maridos", "Titanic", "Brokeback Mountain" e Jão também encarnou o mais amado automobilista brasileiro, o falecido Ayrton Senna.

Boa semana.