Beloved, Toni Morrison
Junho já está quase a acabar e eu ainda não partilhei todos os livros que li em Maio. "Beloved" foi a escolha desse mês da Rita da Nova para o Clube do Livra-te. Esta obra desenrola-se à volta de uma história tão dura e pesada que me levou a não consegui a escrever sobre ele senão um mês depois de o ter lido.
A autora, Toni Morrison, foi distinguida com o Prémio Nobel da Literatura em 1993 e este livro ganhou o Prémio Pulitzer. No entanto, um livro premiado, tal um vinho por exemplo, pode ou não ser adequado às nossas preferências. Tudo depende daquilo que nos faz sentir.
A trama principal de Beloved gira à volta de um facto verídico ocorrido em Kentucky em 1856. A autora parte desse acontecimento para nos mostrar o horror da escravatura a que tantos homens, mulheres e crianças foram sujeitos.
O processo de abolição da escravatura nos Estados Unidos da América foi gradual uma vez que, enquanto os estados no Norte optavam por acabar com essa prática desumana, os estados do Sul, onde existiam as grandes plantações, pretendiam perpetuá-lo. O papel deste diferente entendimento do trabalho escravo nos diferentes estados pode ter contribuído para a Guerra Civil Americana (Norte-Sul) mas esta influência é controversa historicamente.
Toni Morrison através deste romance e das suas personagens principais como a mulher negra Sethe faz-nos olhar para as sevícias a que os negros eram sujeitos nessa época e como isso pode ser determinante para "justificar" atitudes incompreensíveis das pessoas que vivenciaram algum tipo de tratamento desumano. A autora aborda, também, como certos actos irreflectidos podem gerar sentimentos de culpa que pesam na alma para o resto da vida. A culminar toda esta dureza e crueldade, no fim, o amor e a amizade acabam, de certa forma, por triunfar.
Não foi um livro fácil de ler o que prova que é aceitável não adorar tudo aquilo que é premiado. Não desisti de ler porque a vontade de perceber até onde esta história ia foi mais forte. No fim, acho que valeu a pena porque saí mais rica desta leitura.
"Falava acerca do tempo. É-me difícil acreditar nele. Algumas coisas passam. Desaparecem. Outras limitam-se a ficar. Eu achava que era a minha memória. Tu sabes. Esquecemo-nos de algumas coisas. Outras nunca esquecemos. Mas não é isso que acontece. Os lugares, os lugares permanecem. Se uma casa arde, desaparece, mas o lugar onde se encontrava, a sua imagem, fica, e não apenas na minha memória, mas também lá fora, no mundo. Aquilo que lembro e uma imagem que flutua fora da minha cabeça. Quero dizer, mesmo que não pense nela, mesmo que morra, a imagem do que fiz, ou conheci ou vi permanece lá. No mesmo sítio onde tudo aconteceu."