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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

O Palácio de Papel, Miranda Cowley Heller

Charneca em flor, 29.11.22

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Quase que me esquecia de falar do último livro que li em Outubro. "O Palácio de Papel" foi uma das escolhas do passado mês do Clube do Livra-te da Rita da Nova e Joana da Silva. Este livro é o primeiro romance da autora. Miranda Cowley trabalhou na imprensa mas também foi produtora de séries televisivas de sucesso.

A acção d' "O Palácio de Papel" decorre durante as vinte e quatro horas mais decisivas da protagonista Elle. Tudo começa numa manhã de Agosto enquanto Elle está de férias com a família no local de sempre, "O Palácio de Papel". Entrelaçadas, com as decisões que Elle sente que tem que tomar, estão as suas recordações mais felizes mas também as mais dolorosas e dramáticas. Através desses recuos vamos percebendo com é que a vida da protagonista chegou ali, ao momento em que terá de decidir a segurança de um amor adulto ou a quimera do primeiro amor.

Gostei muito deste livro, a história é fantástica, e surpreendente nalguns pontos  e as personagens foram muito bem construídas, embora umas mais realistas do que outras. A personagem que mais me encantou foi Wallace, a mãe de Elle. E adorei a relação entre ela e o genro, Peter. Que diálogos deliciosos. Só achei que a organização dos capítulos e nomes atribuídos a cada capítulo não tinham muita lógica induzindo alguma confusão no leitor. 

A escrita de Miranda Cowley Heller é muito cinematográfica e gostaria de ler mais romances escritos por ela. Não vai para a lista dos livros com 5  mas fica perto.

 

"Largo o robe para o chão e fico nua a beira da água. No outro lado da lagoa, além dos pinheiros e dos arbustos, o oceano ruge, furioso.Deve trazer uma tempestade no seu âmago, chegada de algures no mar alto. Mas aqui, a beira da lagoa, o ar continua calmo e sereno. Espero, observo, escuto... os piados, o zumbir dos pequenos insetos, um vento que agita suavemente as folhas das arvores. Depois entro até aos joelhos e mergulho de cabeca na água gelida. Nado até fora de pé, além dos nenúfares, levada pelo entusiasmo, pela liberdade, pela adrenalina advinda de um pânico inexprimível. Tenho medo que uma tartaruga-mordedora chegue das profundezas e me trinque os seios pesados. Ou talvez seja atraída pelo cheiro a sexo que se liberta quando abro e fecho as pernas. De repente, sinto-me assoberbada pela necessidade de voltar a seguranca dos baixios, onde consigo ver o fundo arenoso. Quem me dera ser mais corajosa. Mas também adoro o medo, o fôlego que me fica preso na garganta, o coração aos saltos quando saio da água."

Casa, D.A.M.A. feat Buba Espinho

Charneca em flor, 28.11.22

Já tinha visto que os D.A.M.A. tinham uma música nova mas, como não é um grupo que me chame muito a atenção, não fui ouvir. Só que quando estava à procura de uma música recente reparei que os D.A.M.A tinham interpretado esta canção com o Buba Espinho.

Quando ouvi a música e vi o vídeo, fiquei assim . O que é que aconteceu aqui?! Digamos que se a Pop e o Cante Alentejano fossem um casal e tivessem uma filha seria esta "Casa". Surpreendente e bonita, esta música. Adorei.

 

 

Boa semana.

Carrie Soto está de volta, Taylor Jenkins Reid

Charneca em flor, 23.11.22

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Das leituras do mês de Outubro, fez parte este "Carrie Soto está de volta" escolhido pelo Clube do Livra-te. Taylor Jenkins Reid (TJR) é uma conhecida escritora norte-americana, com milhares de fãs em todo o mundo mas eu nunca tinha lido nada dela. Este livro faz parte de um conjunto de 4 romances* que podem ser lidos em separado mas que têm pontos de ligação entre eles.

Carrie Soto é uma tenista de alta competição, detentora de vários recordes internacionais que se retirou cedo devido a uma lesão. No início da história, acompanhamo-la enquanto assiste a uma partida da jovem tenista com maior capacidade para bater os seus recordes. Carrie Soto não consegue lidar com esse facto e resolve regressar à competição disposta a tudo fazer para não ser ultrapassada pelas tenistas mais jovens. 

Confesso que o início do livro não me estava a agarrar porque não me estava a conseguir identificar com a personagem. Carrie Soto é muito competitiva e ambiciosa  e eu não tenho essas características. Para além disso, achei um pouco entediante toda a explicação das regras deste desporto embora fosse necessário fazer esse enquadramento para um melhor entendimento da situação.

No entanto, a autora e as suas personagens acabaram por me conquistar. TJR é uma brilhante contadora de histórias e também constrói personagens com mestria. A relação com o pai, com altos e baixos, é enternecedora. Adorei a maneira como a autora finalizou toda a história. O livro tem uma organização muito dinâmica e a divisão dos capítulos, pelos torneios em que a personagem participa, faz-nos mergulhar facilmente no mundo do ténis.

Carrie Soto fez-me pensar que os desportistas de alta competição não têm vida fácil mesmo que venham a ter uma vida privilegiada e uma conta bancária recheada. E ser mulher desportista é ainda mais complexo porque não se respeitam as atletas de alta competição como se respeitam os homens na mesma situação. Para jogarem ao mais alto nível, seja em que desporto fôr, é necessário que os atletas prescindam de muitas coisas que nós, comuns mortais, damos como garantido. Regra geral, é preciso começar a trabalhar desde a infância e o ténis é uma das modalidades em que isso é muito frequente. Os tenistas com mais sucesso começam a praticar este desporto desde idades muito precoces. Enquanto estão no auge da carreira, têm o mundo e os fãs aos seus pés. E quando a carreira chega ao fim?! Deve ser muito difícil lidar com a ausência das ovações e das palmas. Por mais rodeados de amigos e família que estejam, é natural que experimentem uma sensação de solidão difícil de suportar.

Em resumo, "Carrie Soto está de volta" foi uma boa experiência. Valeu a pena o esforço de ultrapassar a overdose de ténis.

"Uma das grandes injustiças deste mundo virado do avesso em que vivemos é que se considera que as mulheres se vão desgastando com a idade e os homens vão ganhando algum tipo de profundidade." 

"Sinto-me tão grata neste momento por todos os jogos, todas as vitórias, todas as derrotas e todos os ensinamentos que trago na bagagem. Sabe-me tão bem ter 37 anos neste momento. Ter percebido pelos menos algumas coisas.
Conhecer a terra que piso." 

 

*Os sete maridos de Evelyn Hugo, Malibu renasce, Carrie Soto está de volta e Daisy Jones & The Six.

Volta, Áurea

Participação especial António Zambujo

Charneca em flor, 20.11.22

Áurea possui uma voz maravilhosa e uma carreira que já leva alguns anos (o primeiro álbum saiu há 12 anos). A cantora e compositora tornou-se conhecida cantando em inglês, maioritariamente. Nos últimos tempos Áurea tem cantado temas em português, alguns em colaborações com outros artistas. O seu último álbum saiu em 2018 e aguarda-se um novo álbum uma vez que saíram 2 singles, um em 2021 e outro na passada semana e que partilho hoje, Em ambos, Áurea canta em português e mais uma vez a sua voz é sublime. Será que assistimos a uma viragem na carreira da cantora?!

Boa semana.

Caim, José Saramago

Charneca em flor, 15.11.22

No dia 16 de Novembro, se fosse vivo, José Saramago faria 100 anos. Nesse dia assinala-se o fim das comemorações do Centenário do único Prémio Nobel da Literatura português. Estas festividades foram o mote para a Leitura Conjunta de Saramago a que eu aderi desde a primeira hora. O Centenário já passou mas vamos continuar a ler os seus livros até ao fim do ano, pelo menos.

Em Outubro, o livro escolhido foi "Caim".

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O posicionamento de José Saramago perante a religião, nomeadamente a Igreja Católica, é conhecido. Na altura do seu lançamento, o livro e o seu autor foram alvos de inúmeras críticas do sector religioso, não só pelo conteúdo do livro, como também pelos comentários que José Saramago foi fazendo durante a divulgação deste romance.

Neste livro José Saramago parte da história de Caim, assassino do seu irmão Abel. O autor começa por redimir Caim ao apontar um autor moral do crime hediondo e continua analisando alguns dos acontecimentos mais violentos e sangrentos da Bíblia.

Uma das críticas que foram feitas a este livro foi a leitura literal da Bíblia utilizada por José Saramago no desenvolvimento da sua história. Confesso que isso também foi algo que me incomodou pela minha vivência religiosa e pela minha antiga ligação a grupos bíblicos. Não é a mesma coisa olhar para o Antigo Testamento com o intelecto ou com a fé. No entanto,  e tendo em conta que "Caim" é um romance de ficção, a criatividade do autor partiu da Bíblia mas ele era livre para seguir o caminho que bem entendesse.

Por outro lado, há algo de muito importante que retirei desta leitura e nem sei se era essa a intenção do autor. Refiro-me ao facto da maldade dos homens se justificar como sendo vontade de Deus. Ao longo da História, há inúmeros exemplos de atitudes humanas fundamentadas, erradamente do meu ponto de vista, na hipotética vontade de Deus. Quantos dos acontecimentos retratados no Antigo Testamento, sejam verídicos ou não, terão sido responsabilidade humana e não divina?

No encontro virtual para discussão do livro, uma das participantes perguntou se tínhamos gostado do livro. E eu não fui capaz de responder. Já terminei a leitura há 3 semanas e continuo sem ter uma opinião concreta. Não detestei mas também não adorei. "Caim" tem o dom de nos provocar questões nas quais não pensamos com frequência. A fina ironia tão característica de José Saramago está presente e ainda me fez rir algumas vezes. No entanto, não gostei da misturada de eventos bíblicos que o autor construiu neste pequeno livro. Parece que "abanou" a Bíblia e as histórias ficaram todas misturadas. Não sei como é que alguém que não conheça nada sobre a Bíblia compreenderá este livro.

"A eva e adão ainda restava a possibilidade de gerarem um filho para compensar a perda do assassinado, mas bem triste há-de ser a gente sem outra finalidade na vida que a de fazer filhos sem saber porquê nem para quê. Para continuar a espécie, dizem aqueles que crêem num objectivo final, numa razão última, embora não tenham nenhuma ideia sobre quais sejam e que nunca se perguntaram em nome de quê terá a espécie de continuar como se fosse ela a única e derradeira esperança do universo. Ao matar abel por não poder matar o senhor, caim deu já a sua resposta. Não se augure nada bom da vida futura deste homem."

 

"Trompete", Soraia Ramos ft Nenny

Charneca em flor, 07.11.22

Soraia Ramos e Nenny nasceram em Portugal mas têm, ambas, raízes cabo-verdianas. Já tinha ouvido falar da Nenny, uma jovem rapper muito talentosa, mas não conhecia Soraia Ramos. Na passada semana lançaram esta música onde cantam em português, crioulo e ainda umas frases em inglês.

Se percebo tudo o que dizem? Nem por isso mas é impossível ficar indiferente à força que esta música transmite. "Trompete" pode ser um bom hino de empoderamento da mulher africana mas também de todas as mulheres sejam qual fôr a cor da sua pele ou o chão onde estão as suas raízes. E também é boa para abanar o corpito .