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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

"Os Anos", Annie Ernaux

Charneca em flor, 16.05.23

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Nos últimos meses, alguns problemas de saúde têm-me mantido afastada da internet. O último post que publiquei aqui já tem 2 meses e já não partilho as minhas leituras desde Fevereiro. Foi mais ou menos por essa altura que li o livro "Os Anos" da autora francesa Annie Ernaux, a qual foi distinguida com o Prémio Nobel da Literatura no ano passado.

"Os Anos" foi a proposta de leitura em Fevereiro  do Clube de Leitura Ponto Final, Parágrafo. 

Esta obra introduziu-me à escrita de Annie Ernaux. "Os Anos" é considerado um romance autobiográfico apesar de ser escrito na 3a pessoa do singular. As memórias da autora vão sendo despertadas por inúmeras fotografias descritas ao longo do livro. No entanto, o relato parte do pessoal para o colectivo abordando, não só o que aconteceu na sua vida, mas também no seu país, e no mundo, no período entre 1941 e 2006.

O facto de um autor ser distinguido com o mais importante prémio literário do mundo não é garantia de que o leitor fique maravilhado desde o primeiro momento. A minha experiência com Annie Ernaux não foi a melhor de todas. As razões para esta sensação podem ser inúmeras. Às vezes, aquele não é o momento para nos cruzamos com determinado livro.

Avancei na leitura de forma muito lenta o que pode ter sido causado pelo início dos meus problemas de saúde a nível ocular mas também por ter intercalado "Os Anos" com outro livro que despertava mais o meu interesse.

As primeiras páginas foram muito enfadonhas para mim e provocaram-me uma sensação de repetição porque tinha acabado de ler um romance que se passava na mesma época. Só comecei a achar mais interessante quando o relato se foi aproximando do ano em que nasci. Ou seja, desde o fim dos anos 60 até aos primeiros anos do séc. XXI.

Um dos pormenores que achei curioso foi a descrição das fotografias que vão pontuando o texto como se fossem os cliques que despoletavam as recordações. Também gosto das refeições festivas com familiares ou amigos e das conversas que tinham à volta da mesa. O que não funcionou para mim foi a forma como o livro está estruturado, com aparente falta de ligação entre as frases e os parágrafos e sem capítulos organizados. Não é o meu estilo de livro mas vou dar uma nova oportunidade à autora uma vez que já tenho outro na prateleira dos livros para ler ou na TBR como dizem os jovens .

 
"Essa forma suscetível de conter toda a sua vida, que ela pensou poder inferir a partir de uma sensação, e a cujo processo teve de renunciar, teria origem na sensação que experimenta, quando está de olhos fechados na praia ao sol ou num quarto de hotel, de se desmultiplicar, desdobrando-se e existindo corporalmente em vários lugares da sua vida, acedendo assim a um tempo palimpsesto. Até agora, em termos de escrita, essa sensação não a levou a lugar nenhum nem a qualquer tipo de conhecimento. Só estimula o desejo de escrever — e de mais nada, como nos minutos que sucedem ao orgasmo."

 

 

Tattoo, Loreen

Charneca em flor, 15.05.23

Por coincidência  a última música que partilhei aqui, antes do interregno  foi "Ai, Coração" de Mimicat, a representante portuguesa na Eurovisão.

Hoje regresso com a vencedora da edição deste ano. A vitória foi da sueca Loreen que interpretou a canção "Tattoo". Em 2012, Loreen já tinha ganho o Festival da Eurovisão tornando-se a primeira mulher a atingir este feito.

Este ano não prestei muita atenção ao Festival da Canção nem à Eurovisão mas, daquilo que vi, esta música não seria a minha opção para vencer o certame. 

Veremos se  a Eurovisão aterra em Estocolmo ou noutra cidade sueca.

 

"Toda a luz que não podemos ver", Anthony Doerr

Charneca em flor, 14.05.23

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Este livro foi uma das escolhas de Janeiro no Clube do Livra-te. Eu nunca tinha ouvido falar dele nem do seu autor mas, na altura do lançamento, foi considerado um dos melhores livros do ano. Em 2015, "Toda a luz que não podemos ver" foi distinguido com o Prémio Pulitzer. 

A história situa-se, maioritariamente, na altura da II Guerra Mundial e gira em torno de duas personagens. Marie-Laure é uma jovem cega que vive com o pai, responsável por todas as chaves do Museu Nacional de História Natural, em Paris, e é nesse ambiente que cresce. Quando os alemães se aproximam de Paris, Marie-Laure e o pai fogem da cidade e acabam por ir até Saint-Maló, uma cidade costeira da Bretanha. Werner Pfenning é um órfão alemão com um enorme interesse por rádios o que se traduz num grande talento para pôr esses aparelhos a funcionar. Essa sua inclinação acaba por conduzi-lo a uma escola militar e, consequentemente, à guerra.

Esta obra está organizada em capítulos curtos que vão alternando a história de Marie-Laure com a história de Werner levando o leitor a olhar para os dois lados do conflito.  Inicialmente, achei que os capítulos curtos iriam facilitar a leitura mas tal não aconteceu. Embora a história seja muito interessante, a escrita não é muito cativante uma vez que algumas passagens se tornam muito repetitivas. A leitura foi mais difícil do que eu estava à espera.

Aquilo que extraí de mais positivo desta história foi o facto de ser possível olhar para a guerra pela perspectiva dos soldados alemães. A grande maioria das obras sobre esta época partem do ponto de vista dos Aliados, dos países ocupados ou da Resistência. Acho importante que se perceba que os soldados alemães podem ter ido para a guerra, não por grande convicção, mas sim porque foram obrigados pelas circunstâncias da sua vida tal como acontece, nos dias de hoje, em todos os conflitos que existem. O jovem soldado alemão, Werner, foi capaz de conquistar a minha empatia.

"Toda a luz que não podemos ver" encantou-me por um outro motivo. Grande parte da acção decorre na cidade de Saint-Maló onde já tive oportunidade de passar algumas horas. Nunca imaginaria que os habitantes da cidade bonita e soalheira que encontrei tinham passado por uma dura ocupação alemã e que a cidade, cuja muralha data do séc. XII, tinha sido destruida, quase por completo, quando os amerocanos chegaram para libertar a cidade do jugo germânico. A reconstrução de Saint-Maló levou 30 anos.

Não sendo um livro perfeito, tem alguns pontos muito positivos.


"Certa noite, Werner e Jutta sintonizam uma transmissão com algumas interferências na qual um homem novo, num francês melífluo com sotaque, fala sobre luz.
Como é sabido, meninos, o cérebro está trancado na mais absoluta escuridão, diz a voz. Flutua num líquido de cor clara dentro do crânio, nunca à luz. E, no entanto, o mundo que constrói na mente está repleto de luz. É povoado por cor e movimento. Portanto, meninos, como é que o cérebro, que vive sem uma centelha de luz, nos constrói um mundo pleno dela?"

"- Sabes qual é a maior lição da História? É que a História é aquilo que os vencedores disserem que ela é. Eis a lição. Quem ganha é quem decide a História. Agimos em nome do nosso interesse pessoal. Essa é que é a verdade. Indica-me uma nação ou uma pessoa que não o faça. O truque consiste em descortinar onde estão os nossos interesses."

 

P.S - Só agora reparei que tinha este post em rascunho, desde Fevereiro, mas tinha-me esquecido de o publicar.