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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Mãe, Doce Mar, João Pinto Coelho

Charneca em flor, 28.06.23

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"Mãe , Doce Mar" foi um dos lvros do Clube de Leitura do Livra-te no mês de Fevereiro. Embora já tenha passado algum tempo desde que o li, acho que ainda vou a tempo de partilhar o quanto gostei deste livro. Já conhecia o talento deste autor através do "Perguntem a Sarah Gross" e tinha muita curiosidade em ler outros livros dele. No entanto, este livro foge dos temas habituais que inspiram João Pinto Coelho. 

 

A personagem central de "Mãe, Doce Mar" é o jovem Noah que conhecemos aos 12 anos quando, depois de viver a infância num orfanato, conhece a mãe num aeroporto. Pouco tempo depois, Noah vai viver com a mãe e a sua existência divide-se entre Cape Cod, onde passam o Verão, e Connecticut. A relação entre os dois é feita de silêncios e mistérios como uma estrada que nenhum dos dois consegue atravessar. Na sua existência, repleta de segredos, cruza-se uma personagem peculiar com quem desenvolve uma amizade improvável, Frank O' Leary, um padre jesuíta.

O livro está organizado em várias partes. Em cada uma vamos antevendo alguns momentos do passado destas personagens que, no fim, nos ajudarão a unir as pontas que o autor foi deixando soltas para desvendar o mistério que envolve a existência de Noah.

"Mãe, Doce Mar" é uma história em que percebemos que o amor tem caminhos muito tortuosos, por vezes solitários, e que cada um aprende a lidar com os seus fantasmas de uma forma ou de outra. O final é inesperado mas genial.

A escrita maravilhosa de João Pinto Coelho é um dos pontos fortes do livro mas a forma como ele o desenvolveu é brilhante. É impressionante como, em menos de 200 páginas, o autor nos consegue arrebatar. É possível entregar uma boa história ao leitor de forma sucinta.

Adorei e recomendo vivamente.

"Sim, desisto-me!

A renúncia é a poesia que me prova a eternidade. Talvez Deus seja só isso, o alforge de moedas que largo na beira da estrada ou a queda para o abismo só por querer estar com alguém; talvez seja a outra face, o beijo de dois amantes, a dor impronunciável de uma perda sem remédio.

Ama e faz o que quiseres,

a mais dura das sentenças que deixou Santo Agostinho. Já a encontrei em T-shirts, nas paredes das estações do Metro de Nova Iorque, por vezes atribuída a outros autores mais prováveis, poetas do Underground, Mama Cass, Mick Jagger..., cer- tamente nunca escrita no sentido original.

Ama e quê?

Estúpidos! Já nada há a fazer, se amar for o que eu penso: carregar alguém às costas e subir descalço a montanha por um caminho de vidros, esse açúcar espezinhado com que salgamos as feridas."

 

As Coisas que Faltam, Rita da Nova

Charneca em flor, 12.06.23

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Este livro entrou na minha vida muito antes do seu lançamento que ocorreu há quase 4 meses. Acompanho a autora há muitos anos seja através do seu blog, do Instagram ou dos podcasts. A Rita tem feito um óptimo trabalho ao nível do estímulo da leitura junto dos seus inúmeros seguidores e acredito que tem contribuído para que muitos jovens tenham começado a ler. Já há muito que a Rita partilhava connosco seu sonho de escrever um livro e durante o processo de escrita foi lançando alguns pormenores que nos aguçavam o apetite.

Quando o seu primeiro livro, a solo*, se tornou uma realidade, fiquei muito feliz e não podia faltar ao lançamento do seu "As Coisas que Faltam". Para mim, foi um momento muito emotivo. Claro que o li com avidez apesar de estar com alguns problemas oculares na altura. A experiência de leitura foi maravilhosa desde a dedicatória até à ultima linha dos agradecimentos. 

Em "As Coisas que Faltam" acompanhamos o crescimento de Ana Luís a partir do momento em que, habituada a que lhe digam que não, resolve perguntar à mãe se podia conhecer o pai. Ana Luís tinha só 8 anos mas já nessa idade sentia que havia algo que lhe faltava para se sentir completa. Ao longo deste livro vamos acompanhando esta busca, não só pelo pai que não conhece, mas também pelo seu lugar no mundo.

A história de Ana Luís tem a simplicidade de uma história, aparentemente, comum e a profundidade daquilo que guardamos no mais fundo da nossa existência. O que será que mais nos define? Aquilo que nos falta ou aquilo que esteve sempre ao nosso lado? Aquilo que não passou de um sonho ou aquilo que conseguimos realizar?

A escritora Rita da Nova escreveu um livro bem ao gosto da Rita da Nova leitora. Uma boa história, bem escrita, emotiva e com o tamanho certo para nos cativar sem nos maçar .

Embora a minha vida tenha sido muito diferente da vida de Ana Luís, senti por ela uma enorme empatia e identifiquei-me muito com a jovem.

Como já se tornou óbvio, recomendo muito a leitura d' "As Coisas que Faltam". Que seja um bom estímulo para a escrita do seu próximo livro.

"Há quem diga que «família feliz» é só o nome de um prato que se encontra nos restaurantes chineses. E, de facto, partilhar o mesmo sangue é mais vezes causa de conflito que de tranquilidade. As famílias são ecossistemas, e os ecossistemas têm uma tendência natural para o caos, para a confusão, para o combate - como uma casa que, mal se acaba de limpar, começa logo a dar sinais de sujidade. Pode dizer-se tudo isto sobre todas as famílias do mundo, mas eu não conseguia acreditar que a família do meu pai, aquela trindade perfeita, pudesse ser qualquer outra coisa senão a família mais feliz que alguma existiu."

 

*A Rita da Nova já, anteriormente, publicara "Terapia de Casal" em co-autoria com o seu marido e parceiro do podcast com o mesmo nome, Guilherme Fonseca.