Autobiografia, José Luís Peixoto
Este foi o livro com que inaugurei o meu ano literário. Há muito tempo que sigo o trabalho de José Luís Peixoto. Já mencionei aqui que é um dos meus autores favoritos. Sou uma fã quase incondicional. Só assim se explica o facto de já o ter mencionado em 14 posts (!) É por isso que, com conhecimento de causa, afirmo que este é o melhor romance de José Luís Peixoto até à data. A história é brilhante e a execução é magistral. Para além disso, acho que JLP tem uma grande coragem. Ou será um grande descaramento?! Só assim se explica que tenha feito de José Saramago, uma personagem de romance. Relembro que JLP foi o 2o autor a ser agraciado com o Prémio Saramago em 2001. Assim presumo que esta "Autobiografia" seja também uma forma de o autor prestar uma homenagem à influência que Saramago teve na sua própria obra.
Em "Autobiografia", encontramos um jovem autor, José, que luta para escrever o seu 2o romance quando é convidado para escrever uma biografia do já consagrado José Saramago. Ao longo do romance, os 2 escritores vão-se confundindo de tal maneira que já não sabemos onde termina José e começa Saramago, e vice versa. A estrutura do romance não é linear mas sim constituída por várias camadas que se "enrolam" sobre si próprias e povoada por várias personagens, curiosas e interessantes, se cruzam nesta impressionante narrativa É preciso termos cuidado para não nos afogarmos quando mergulhamos nesta história.
Esta "Autobiografia" despertou-me uma imensa curiosidade sobre os livros de Saramago que ainda não li. JLP leva-nos pela mão até à obra de José Saramago.
Para mim, quem for apaixonado pela escrita de José Luís Peixoto ou pela obra de José Saramago, não devia deixar de ler esta "Autobiografia". Na companhia deste livro, viverão momentos inesquecíveis.
"Talvez, mas não vejo as coisas assim.
Não? Foi o que pareceu e, na literatura, tem de se prestar muita atenção às aparências. Estava farto de juntar palavras? Depois de centenas de páginas escritas, gastam-se os olhos e a cabeça, perde-se algum sentido mas, em grande medida, escrever romances é ser capaz de resistir a esse cansaço. As explicações são uma saída fácil, uma desistência, não acha?
A sério, não acha?
Talvez, mas prefiro mudar de assunto"