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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Claraboia, José Saramago

Charneca em flor, 07.09.22

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"Claraboia", livro do mês de Agosto da Leitura Conjunta de Saramago

 

"Claraboia" foi o segundo livro que José Saramago escreveu já que o terminou em 1953, seis anos após "Terra do Pecado". No entanto, o livro só foi publicado em 2011 já depois de o autor ter falecido. O original foi enviado, por um amigo, a uma editora a qual nunca respondeu. Mais tarde quando o autor já era conhecido, a mesma editora contactou José Saramago para mas ele optou por não publicar o livro deixando essa decisão a cargo da sua família quando já não estivesse entre nós.

Clarabóia é uma abertura que pode existir, por exemplo, no alto dos edifícios com o objectivo de fornecer luz aos espaços.  Nos prédios mais antigos era muito comum utilizar-se uma clarabóia para iluminar a escada. Eu fui criada num prédio com uma clarabóia.

Este romance passa-se, efectivamente, num prédio e, ao lê-lo, é como se estivéssemos debruçados a espreitar pela clarabóia observando a vida dos vários personagens que habitam o edifício. Em cada patamar, vivem famílias diferentes, pobres, com vivências próprias dos habitantes de uma cidade nos anos 50. As histórias de cada personagem vão-se interligando e tocando nalguns pontos. As figuras mais marcantes desta história são o sapateiro Silvestre que mora no rês-do-chão e o seu hóspede, o misterioso Abel. 

Embora este livro esteja escrito de uma forma muito diferente do estilo pelo qual José Saramago se tornou conhecido mais tarde, em "Claraboia" nota-se já a crítica social tão característica do escritor. Nos livros mais recentes Saramago teve o cuidado de embrulhar a sua análise social na história, e embora também aqui se possa encontrar a sua acutilância de observação do quotidiano entrelaçada nas vidas das personagens, a verdadeira análise é-nos servida através das conversas entre Silvestre e Abel.

Apesar de José Saramago ter já 30 anos quando escreveu o livro achei que ""Claraboia" revela um homem muito idealista para além de um escritor que ainda não tinha encontrado a sua voz. Mesmo antes de escrever este texto encontrei este comentário de José Saramago no site da Fundação que leva o seu nome:Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser.» Eu não podia concordar mais, "Claraboia" ainda não é um livro do escritor nobilizado mas ali já estava um embrião do escritor que José Saramago viria a ser.

Dito isto, tenho que dizer que gostei muito de ler este livro e que foi surpreendente ver que José Saramago também sabia usar travessões nos diálogos .  As personagens são todas muito interessantes, cada uma com a sua particularidade e circunstância, mas adorei o sapateiro Silvestre bem como a D. Lídia, a quem um senhor rico pôs casa ali mesmo no prédio entre gente séria, ou não mas para descobrirem isso têm que ler.

"- Não , não fujo. Aprendi a ver mais longe que a sola destes sapatos, aprendi que, por detrás desta vida desgraçada que os homens levam, há um grande ideal, uma grande esperança. Aprendi que a vida de cada um de nos deve ser orientada por essa esperança e por esse ideal. E que se há gente que não sente assim, é  porque morreu antes de nascer. - Sorriu e acrescentou:
- Esta frase não é minha. Ouvi-a há muitos anos..."

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