Como se fôssemos vilões, M. L. Rio
"Como se fôssemos vilões" foi o livro escolhido pela Rita da Nova para o Clube do Livra-te no mês de Setembro. Neste livro encontramos sete jovens estudantes de uma escola de arte muito especial onde estudam a dramaturgia de Shakespeare. Os jovens frequentam o último ano do curso. Oliver, James, Filipa, Richard, Alexander, Meredith e Wren apresentam personalidades muito similares às personagens que encarnam nas peças de Shakespeare que são encenadas na escola a ponto de os conflitos das obras se prolongarem para a vida real estabelecendo-se entre eles uma rivalidade saudável. A dada altura a amizade entre eles enfrenta uma prova inesperada após um acontecimento trágico.
O livro está organizado como uma peça de teatro, em actos e cenas, o que faz com que o leitor se sinta espectador de uma verdadeira peça de teatro. Esta história conquistou-me quase desde o início e adorei o ambiente outonal que se sente. "Como se fôssemos vilões" fez-me recordar os meus tempos de jovem universitária e tive muitas saudades dessa época. Gostei muito da forma como a autora construiu a história e do tom de mistério que envolve o acontecimento determinante para toda a história.
A overdose de Shakespeare era dispensável. Obviamente que era essencial que houvessem passagens da obra quando estavam a encenar as peças mas utilizarem frases de Shakespeare numa conversa "normal" já me pareceu exagero. Outro ponto negativo é que se percebe, desde uma fase mais precoce da narrativa, quem foi o maior responsável pela tragédia que lhes mudou a vida. No entanto, acredito que a autora pretendeu dar mais ênfase à dinâmica que se estabelece entre os jovens quando estão perante uma situação limite. A resolução do mistério era secundária para a história que a autora pretendia contar.
Esta leitura foi uma óptima experiência mas dificilmente teria lido este livro se não tivesse sido escolhido para o Clube do Livra-te. Como estava com outras leituras, demorei algum tempo a terminá-lo mas é um livro que se lê com vontade em pouco tempo.
"Entram em cena os atores. Éramos sete nessa altura, sete almas fulgurantes com futuros prodigiosos a nossa frente, embora não víssemos mais longe do que os livros diante dos nossos rostos. Estávamos sempre rodeados por livros e palavras e poesia, todas as paixões ferozes do mundo em papel fino entre capas de carneira. (Atribuo em parte a culpa do que aconteceu a esse facto.) A biblioteca do Castelo era uma sala octogonal arejada, forrada a estantes, atravancada com peças de mobiliário antigas e sumptuosas, e mantida a uma temperatura que provocava sonolência, por um monumental fogão de sala quase constantemente aceso, independentemente da temperatura no exterior. O relógio na prateleira por cima da lareira deu as doze badaladas, e nós mexemo-nos, um a um, como sete estátuas a
ganharem vida."