Desabafo doloroso
Tudo começou como uma brincadeira. Devido ao desafio das palavras da Mel e da Mula, escrevi uma história que só devia ter 2 capítulos. Só que alguns simpáticos seguidores convenceram-me a dar continuidade à história. Hoje publico mais um capítulo. Para quem quiser seguir a história, vou agregar todos os posts com a hastag #luísaefilipe
"Luísa contou à sua recente amiga e anfitriã como tinha tido uma experiência traumática com o seu chefe. A jovem trabalhava há alguns anos numa empresa de marketing e publicidade, desde que terminara a faculdade. Conhecia o seu chefe desde essa altura uma vez que tinham trabalhado juntos nalguns projectos até ele ter sido promovido. Luísa considerava-o um amigo e tinham saído várias vezes juntos com os respectivos companheiros. Qual não foi o espanto que sentiu quando, nos últimos meses, começou a perceber que o chefe não era a pessoa que ela imaginava. Começara a notar pequenos sinais estranhos que não valorizou, inicialmente. Uns toques na mão, um roçar no corpo como se fosse inadvertido, um olhar mais lascivo que ela pensou que fosse só a sua imaginação… Até ao dia em que ele foi directo ao assunto. Surgira a possibilidade de Luísa ser promovida mas não era a única candidata. Ele disse-lhe, claramente, que se prolongassem a hora do almoço até um quarto de hotel, ele ia indicá-la para o lugar. Nessa altura, as lágrimas corriam pelo bonito rosto de Luísa e ela não foi capaz de prosseguir.
Maria abraçou-a com carinho.
- Que horror, Luísa, parece uma história daquelas que se vêem em filmes. E o teu namorado? Falaste há pouco que ambos tinham companheiros. Ai, desculpe, não queria tratá-la por tu.
A jovem foi-se controlando, a pouco e pouco.
- Estou a abrir o meu coração. Não faz grande sentido um tratamento tão formal. Também posso tratar-te por tu, Maria?
- Claro que sim. Mas continua, se te sentires capaz.
- O João é meu namorado desde os nossos 15 anos. Vivemos juntos desde que começamos a trabalhar. Ele foi a minha segunda desilusão.
- Então? Não compreendo.
- Quando lhe contei, pensei que ele fosse tirar satisfações com o meu chefe ou dar-me apoio para eu me despedir imediatamente mas não foi nada disso que aconteceu. Disse-me que eu era pouco ambiciosa, que ele não se importava que eu acedesse aos caprichos do outro se isso significasse uma progressão na minha carreira e no meu ordenado. Senti que o João achava que eu era uma prostituta e ele, o meu proxeneta. Nunca me senti tão humilhada e envergonhada na vida.
Luísa chorava copiosamente e Maria tentou, em vão, enxugar as suas lágrimas. Pobre rapariga, pensava ela.
- E o que fizeste?
- Disse ao João que não era essa a reacção que eu esperava e que talvez fosse melhor dar um tempo na nossa relação. Fiz uma mala e fui para a casa dos meus pais. Não lhes disse o que se tinha passado, só que tinha tido uma discussão com o João. No dia seguinte, fui aos recursos humanos e apresentei a minha carta de demissão. Como tivemos muito trabalho durante vários meses, eu tinha muitos dias de férias para tirar bem como folgas por ter trabalhado vários fins-de-semana. Assim vim de férias para este paraíso. Tinha visto a vossa pousada num artigo de uma revista e cá estou eu. Desliguei todas as minhas redes sociais e só atendo chamadas dos meus pais e da minha irmã. Só eles é que sabem onde estou. Nos primeiros dias houve muitas tentativas de contacto quer do João quer do meu chefe, por várias formas por isso desliguei tudo. Só quero estar aqui, em contacto com a natureza, com as pessoas acolhedoras aqui da aldeia e com os meus livros. E estou quase a conseguir encontrar-me de novo.