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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Desafio de escrita dos Pássaros tema #17

Luz e Sombra

Charneca em flor, 10.01.20

Patrícia estava à beira da arriba. Atrás de si, os pinheiros da Mata dos Medos onde acabara de dar uma das suas caminhadas. À sua frente, lá bem em baixo, a estrada onde passavam alguns carros, a praia e a imensidão do mar encimada pelo azul do céu. Apesar de ser Inverno, o sol brilhava e afastara as nuvens.
No entanto, aquela luz que a aquecia e iluminava não era capaz de dissipar a escuridão que Patrícia sentia no âmago da sua alma.
Quem via de fora, achava que ela tinha uma vida de sonho. O marido adorava-a, os filhos eram espectaculares e nunca tinham dado qualquer tipo de problema. A família era o seu grande rochedo, a sua rede de apoio que nunca a deixava cair. Os amigos eram os mesmos há muitos anos e formavam uma segunda família. Patrícia trabalhava na área que sempre desejara e tinha condições de trabalho invejáveis. Os rendimentos do casal permitiam-lhes um estilo de vida muito confortável.
A imagem que ela transmitia aos outros era o retrato de uma mulher alegre, feliz e luminosa. Quanto mais a sua vida parecia perfeita aos olhos do mundo, mais sentia que as trevas a invadiam por dentro. Não se sentia verdadeiramente realizada nem a nível profissional nem pessoal e culpava-se por isso.
Estes sentimentos tinham-na levado a pedir ajuda profissional e encontrara um diagnóstico de depressão. Começara a tomar antidepressivos mas tinha abandonado o tratamento sem dizer nada a ninguém. Não queria que se preocupassem com ela. Cada vez mais se sentia um fardo quer para o marido quer para a família e para os amigos.
Só se sentia melhor ali na Mata dos Medos. Sempre achara aquele nome curioso. De onde viria? Para ela era o sítio onde se tentava livrar dos seus receios e dos seus pensamentos tenebrosos. Normalmente resultava mas naquele dia não havia maneira de se sentir mais leve. Aliás havia um pensamento que não lhe saía da mente, uma solução para aquela escuridão. Ali, no cimo da arriba, Patrícia sentia-se dividida. Tinha vontade de saltar na direcção da luz que vinha do mar mergulhando nas trevas da morte para acabar, de vez, com aquele sofrimento. Mas também havia algo que a puxava de volta para a sombra acolhedora dos pinheiros e talvez, quem sabe, procurar consolo nos braços daqueles que a amavam.

 

Termina assim a minha participação no 1o Desafio de escrita dos Pássaros. Foi uma óptima experiência. Obrigada à organização e aos outros participantes pela partilha.

Para descobrirem as outras participações é só passar por aqui

P.S - Sempre desejei escrever uma história que se passasse na Mata dos Medos .

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