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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Desafio de escrita dos Pássaros tema #4

Beatriz disse que não. E agora?

Charneca em flor, 04.10.19

O que eu faço com este desejo que me incendeia as entranhas? Como é que ela me pôde dizer que não. Nós somos as melhores amigas há mais de vinte anos. Será que devia dizer que “éramos as melhores amigas"?


Beatriz disse que não. E agora?


Quando tínhamos 10 anos, fizemos um juramento de sangue. Dissemos que seríamos amigas até à eternidade. Que estaríamos sempre presentes na vida uma da outra. Quando uma de nós precisasse, a outra andaria por perto para dividir o fardo, por mais pesado que fosse. Um peso dividido torna-se sempre mais leve.


Beatriz disse que não. E agora?


Quando ela se apaixonou pela primeira vez, eu fui a primeira a saber. Quando ela ficou de coração perdido, foi no meu ombro que chorou. Eu estive sempre com ela. No momento em que conheceu aquele que seria “o tal", eu estava lá. No dia do seu casamento, eu chorei de emoção. Fui das primeiras pessoas a pegar nos seus filhos recém-nascidos. Eu via a Beatriz como a irmã que nunca tive e acreditava que ela sentia o mesmo.


Beatriz disse que não. E agora?


Eu penso que não lhe pedi um sacrifício assim tão grande. Ela disse-me que lhe pedi em demasia. Que a pergunta que lhe fiz, ultrapassava os limites da amizade. Para ela, os seus desejos concretizaram-se com tanta facilidade mas, para mim, este problema é uma barreira intransponível sem a sua ajuda.
O que eu faço com todos os meus sonhos? Com os planos que fiz na certeza do seu “sim" que, afinal, nunca chegou.


Beatriz disse que não. E agora?


Como é que eu vou realizar este meu anseio? Afinal, eu só pedi o seu ventre emprestado. O seu útero fértil que já acolheu 3 bebés maravilhosos que eu amo como se fossem meus. Eu só queria uma derradeira prova do seu amor fraternal e da sua amizade. Eu só queria sentir, tal como ela a felicidade plena do amor maternal. Mas…


Beatriz disse que não. E agora?


O que eu faço, sem útero, sem filhos, sem o consolo da sua amizade?


Dedicado a todos os projectos de maternidade e paternidade que nunca se concretizaram.

Aqui fica a minha participação no Desafio de escrita dos Pássaros para esta semana. Para descobrirem os outros textos é só passarem por aqui

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