Desafio de escrita dos Pássaros tema#3
Alegria contida
Esta semana, o desafio foi escrever sobre uma aventura ou um momento marcante. Para acompanharem todo o desafio, é só passarem por aqui. Aqui está o meu contributo.
Todos anos, em Setembro, recordo, com carinho, um dos momentos mais felizes da minha vida.
O Verão de 1992 foi, para mim, o mais longo de sempre. Durante esses meses esperei, ansiosamente, pelos resultados do concurso de acesso ao ensino superior. Todos aqueles que me eram próximos, família e amigos, davam-me força fazendo-me acreditar que o meu ingresso no ensino superior era quase certo mas, parte de mim, receava que eles não tivessem razão.
Nesse ano distante, a internet ainda não tinha sido democratizada. Aliás , a rede que comanda a nossa vida, pouco mais era que uma criança. Por isso, nos idos de 90, os candidatos a universitários tinham que se deslocar à sede do distrito e procurar o nome nas pautas de colocação.
Assim, no dia marcado pela manhã, eu e as minhas amigas lá fomos, alegremente, de autocarro até Santarém. Os resultados eram afixados no Instituto Politécnico. Era preciso andar um bom bocado a pé, e a subir, para lá chegar. A nossa excitação nem nos deixava sentir o cansaço. Lá chegadas, foi cada uma procurar o seu nome.
Ainda consigo sentir a mesma emoção que me invadiu naquele momento em que li a palavra “colocado" à frente do meu nome. Com o coração aos pulos, fui procurar as minhas amigas Infelizmente, só uma delas, a Catarina*, é que tinha entrado. Eu e ela nem sabíamos como agir. Afinal, nós queríamos extravasar a alegria por termos conseguido realizar o nosso sonho mas isso contrastava com a desilusão de quem não tinha alcançado esse objectivo. Nós tínhamos vontade de chorar de alegria mas havia outros rostos molhados com lágrimas de desgosto. Eu e a Catarina* tentámos controlar a nossa euforia para não as magoarmos.
A viagem de regresso pareceu mais demorada que o normal. Faltava a alegria despreocupada da manhã. Só quando chegámos à nossa terra, e conseguimos ficar sozinhas, é que demos largas à nossa felicidade. Corremos até à minha casa, que era mais perto para contarmos à minha mãe. Eu tive a ideia de lhe pregar uma partida dizendo que não tínhamos entrado. Ainda tentámos “mentir" mas, assim que chegámos à porta, desatámos a rir desalmadamente como só se consegue rir aos 18 anos. A minha mãe nem precisou de perguntar porque descobriu, facilmente, a resposta. E foi ali, na soleira da porta, que pudemos libertar a alegria que tinha estado contida durante todas aquelas horas.
*Nome fictício, personagem real