Desafio dos Lápis de Cor #amarelo
Dores da alma
Sofia refugiou-se nas palavras para esquecer a morte do seu sonho de amor. Não nas palavras faladas porque a sua voz ouvia-se cada vez menos mas nas palavras escritas. Os livros e os cadernos onde derramava os seus pensamentos eram a sua principal companhia.
A relação com os pais fora abalada com aquela cena dramática em que a proibiram de continuar a namorar com Tomás. O tempo que estava em casa passava-o isolada da família, sozinha no quarto. Mesmo ao fim-de-semana, quando os seus pais planeavam sair para algum passeio em família, fazia tudo para ficar em casa com a justificação de ter que estudar.
A jovem sempre fora tímida e calada mas havia sempre um sorriso a iluminar-lhe o rosto. Mas esse sorriso apagara-se. Até quando fazia um esforço para sorrir, percebia-se que esse gesto não chegava aos olhos. Dia para dia, a sua tez tinha um ar macilento. Era como se a sua chama interior se estivesse a extinguir.
Na escola, continuava a ser uma boa aluna, a melhor, aliás. No entanto, não havia, da sua parte, grande interacção com os colegas. Afastara-se de Ana e, consequentemente, de todo o grupo. Só não estava completamente sozinha porque uma das outras raparigas, Helena, não se importara de deixar de fazer parte do grupo das miúdas fixes. Quando ouviu Ana dizer que a sua relação com Sofia se baseava no interesse, e não na amizade verdadeira, percebera qual era o caminho que queria percorrer. E não passava perto da sua colega mais arrogante. Sofia e Helena passaram a ficar à margem mas apoiaram-se uma à outra.
A sua história com Tomás ficou para trás a partir do momento em que lhe disse, sem grandes explicações, que não se podiam continuar a ver. Tomás não entendeu a razão daquela mudança de atitude, como seria expectável. Tentou argumentar mas Sofia não prolongou a conversa virando-lhe as costas para que ele não visse as lágrimas que teimavam em saltar-lhe dos olhos. Instantes depois, ao chegar à aula seguinte, Ana reparou nos olhos chorosos de Sofia e, a partir desse momento, nada conseguiu apagar o sorriso triunfante de quem vencera a primeira batalha na certeza de que, Tomás, mais tarde ou mais cedo, seria seu.
Os pais começavam a ficar preocupados. “Se calhar, a nossa atitude foi exagerada “ era uma ideia que lhes cruzava o pensamento mas confortavam-se com a certeza de que estavam a fazer o seu melhor, enquanto pais. E, achavam eles, um dia o desgosto de Sofia iria passar.
Mas o que é certo é que viam a filha a definhar, de dia para dia. Foi, então, que receberam uma visita especial, a tia Rosário. Sofia adorava a irmã mais nova da sua mãe e conversar com ela sempre fora um dos seus maiores prazeres.
Rosário demorou poucos minutos a perceber que a casa da irmã estava envolta num ambiente pesado. A tez amarela e adoentada de Sofia deixaram-na preocupada. Assim que pôde, arrastou a sobrinha consigo até à praia já que intuiu que a jovem precisava de se afastar dos pais para lhe contar que dores se escondiam na sua alma. E sol, pés na areia e mergulhos no mar eram o melhor remédio que conhecia para sarar corações doentes e almas feridas.
Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes Concha, A 3a Face, Maria Araújo, Peixe Frito, Imsilva, Luisa de Sousa, Maria, Ana D, Célia, Gorduchita, Miss Lollipop, Ana Mestre, Ana de Deus, Cristina Aveiro, bii yue e os brilhantes José da Xá e João-Afonso Machado
P.S - Lamento desiludir as românticas mas ao percorrermos estrada da vida também encontramos pedras no caminho. Veremos se a nossa heroína consegue ultrapassar os obstáculos.