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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Desafio dos Lápis de Cor #amarelo

Dores da alma

Charneca em flor, 17.03.21

Sofia refugiou-se nas palavras para esquecer a morte do seu sonho de amor. Não nas palavras faladas porque a sua voz ouvia-se cada vez menos mas nas palavras escritas. Os livros e os cadernos onde derramava os seus pensamentos eram a sua principal companhia.

A relação com os pais fora abalada com aquela cena dramática em que a proibiram de continuar a namorar com Tomás. O tempo que estava em casa passava-o isolada da família, sozinha no quarto. Mesmo ao fim-de-semana, quando os seus pais planeavam sair para algum passeio em família, fazia tudo para ficar em casa com a justificação de ter que estudar.

A jovem sempre fora tímida e calada mas havia sempre um sorriso a iluminar-lhe o rosto. Mas esse sorriso apagara-se. Até quando fazia um esforço para sorrir, percebia-se que esse gesto não chegava aos olhos. Dia para dia, a sua tez tinha um ar macilento. Era como se a sua chama interior se estivesse a extinguir.

Na escola, continuava a ser uma boa aluna, a melhor, aliás. No entanto, não havia, da sua parte, grande interacção com os colegas. Afastara-se de Ana e, consequentemente, de todo o grupo. Só não estava completamente sozinha porque uma das outras raparigas, Helena, não se importara de deixar de fazer parte do grupo das miúdas fixes. Quando ouviu Ana dizer que a sua relação com Sofia se baseava no interesse, e não na amizade verdadeira, percebera qual era o caminho que queria percorrer. E não passava perto da sua colega mais arrogante. Sofia e Helena passaram a ficar à margem mas apoiaram-se uma à outra.

A sua história com Tomás ficou para trás a partir do momento em que lhe disse, sem grandes explicações, que não se podiam continuar a ver. Tomás não entendeu a razão daquela mudança de atitude, como seria expectável. Tentou argumentar mas Sofia não prolongou a conversa virando-lhe as costas para que ele não visse as lágrimas que teimavam em saltar-lhe dos olhos. Instantes depois, ao chegar à aula seguinte, Ana reparou nos olhos chorosos de Sofia e, a partir desse momento, nada conseguiu apagar o sorriso triunfante de quem vencera a primeira batalha na certeza de que, Tomás, mais tarde ou mais cedo, seria seu.

Os pais começavam a ficar preocupados. “Se calhar, a nossa atitude foi exagerada “ era uma ideia que lhes cruzava o pensamento mas confortavam-se com a certeza de que estavam a fazer o seu melhor, enquanto pais. E, achavam eles, um dia o desgosto de Sofia iria passar.

Mas o que é certo é que viam a filha a definhar, de dia para dia. Foi, então, que receberam uma visita especial, a tia Rosário. Sofia adorava a irmã mais nova da sua mãe e conversar com ela sempre fora um dos seus maiores prazeres.

Rosário demorou poucos minutos a perceber que a casa da irmã estava envolta num ambiente pesado. A tez amarela e adoentada de Sofia deixaram-na preocupada. Assim que pôde, arrastou a sobrinha consigo até à praia já que intuiu que a jovem precisava de se afastar dos pais para lhe contar que dores se escondiam na sua alma. E sol, pés na areia e mergulhos no mar eram o melhor remédio que conhecia para sarar corações doentes e almas feridas.

 

Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes ConchaA 3a FaceMaria AraújoPeixe FritoImsilva, Luisa de SousaMariaAna DCéliaGorduchitaMiss LollipopAna MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue e os brilhantes  José da Xá e João-Afonso Machado

 

P.S - Lamento desiludir as românticas mas ao percorrermos estrada da vida também encontramos pedras no caminho. Veremos se a nossa heroína consegue ultrapassar os obstáculos.

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