Desafio dos Lápis de Cor #azul-cobalto
Reluzente
Os dias corriam serenos e felizes. Sofia e Tomás viviam o seu amor de acordo com o mote lançado pelo livro que desencadeara a sua própria história. Sempre que podiam, encontravam-se e despendiam tempo cativando-se um ou outro. Sofia dava por si a ler menos romances cor-de-rosa, afinal ela própria se tornara na protagonista de uma bonita história. Nos primeiros tempos, era difícil concentrar-se nas aulas. Os seus pensamentos voavam para os momentos de que desfrutavam juntos. Não ganhou para o susto quando recebeu uma nota menos boa. Sofia martirizou-se, chorou desalmadamente e pensou em terminar tudo com Tomás. Mas, quando o olhou nos olhos, não foi capaz. Juntos arranjaram estratégias de estudo e Sofia percebeu que era possível apaixonar-se e continuar a ser a aluna brilhante que sempre tinha sido.
Naquela manhã, Sofia caminhava para a escola sentindo alguma ansiedade. Na véspera, ela e Tomás não se tinham encontrado como era habitual. Ela tinha-o sentido ausente e evasivo e isso estava a preocupá-la de sobremaneira. Embora ele tivesse dito que tinha uma surpresa, Sofia continuava apreensiva. Nem sempre, surpresa era sinónimo de algo positivo.
Ao longe, começou a ouvir-se o barulho de uma moto. Sofia não ligou porque muitos dos seus colegas utilizavam aquele veículo de 2 rodas para chegarem à escola. Afinal, dava um certo ar de rebeldia. E, realmente, muitas das raparigas adoravam e achavam muito excitante. Os rapazes “motards" eram sempre alvo de imensas atenções. Sofia nunca ligou muito a tal coisa. Daí ficou muito surpreendida quando viu uma moto desconhecida a circular junto dela, buzinando. Nem olhou. Só podia ser engano. Ela não conhecia ninguém que andasse numa coisa daquelas. Só que o condutor cortou-lhe o caminho, imobilizando-se à sua frente e tirando o capacete, revelando o rosto sorridente de Tomás:
- Não percebeste que era eu?!
Sofia não ficou muito agradada. Olhou para ele e para a reluzente moto azul-cobalto. Pelo menos, a cor era bonita.
- Não sabia que tinhas uma moto.
- E não tinha. Chegou ontem. Gostaste da surpresa? Logo vamos dar uma volta?
- Não sei se sou capaz de subir aí para cima. Não me parece muito seguro.
- Confia em mim. Tu és aquilo que tenho de mais precioso. Nunca te poria em perigo. – e puxando-a suavemente para si, beijou-a em frente a toda a escola.
Nunca se tinham escondido mas sempre se tinham mantido discretos. Só os mais próximos é que tinham percebido que Sofia e Tomás eram namorados. Sofia era conhecida por ser uma intelectual, tímida e estudiosa e nunca se lhe tinha conhecido um namorado. Quando se apercebeu que os colegas batiam palmas com entusiasmo, sentiu que um fogo que lhe queimava o rosto.
Mas não foi só o beijo que deixou os outros jovens entusiasmados. A chegada de Tomás na sua reluzente moto azul-cobalto não tinha sido nada discreta. Não demorou muito para que Sofia se perdesse no meio de uma pequena multidão que rodeava Tomás e a sua máquina rolante. Até Ana, a melhor amiga de Sofia, parecia exageradamente eufórica com a figura de Tomás em cima da tal moto.
Sofia afastou-se. Aquele não era o seu ambiente. Não conseguia compreender como é que o seu Tomás, romântico e carinhoso, se prestava àquela cena e parecia tão à-vontade sendo o centro das atenções. Antes de entrar no edifício, voltou a olhar e descortinou Tomás distribuindo sorrisos enquanto deixava os colegas experimentarem a sensação de subirem para a sua nova moto.
Só quando a campainha tocou para a primeira aula é que os adolescentes dispersaram deixando-a solitária, à bela moto azul-cobalto.
Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes Concha, A 3a Face, Maria Araújo, Peixe Frito, Imsilva, Luisa de Sousa, Maria, Ana D, Célia, Gorduchita, Miss Lollipop, Ana Mestre, Ana de Deus, Cristina Aveiro, bii yue e os brilhantes José da Xá e João-Afonso Machado.