Desafio dos lápis de cor #castanho
No teu olhar
Ataviada com o seu vestido novo, Sofia deixou-se convencer pelas amigas a ir até ao bar mais popular da cidade. Normalmente, preferia ficar em casa a ler do que ir para lá segurar a vela uma vez que era a única do seu grupo que não tinha namorado. Mas com o vestido azul-marinho sentia-se poderosa o suficiente para arriscar.
Sofia e as amigas foram, alegremente, em grupo até ao bar. Os namorados das outras esperavam-nas lá. Ao início da tarde, ainda lhe fizeram alguma companhia mas depressa se espalharam pelos recantos mais obscuros para namorarem. A jovem tímida viu-se sozinha na mesa bebericando um refrigerante. De vez em quando havia um colega da escola que metia conversa mas logo desaparecia. Foi, então, que reparou naquele rapaz que não conhecia. Também parecia pouco à-vontade como ela. Sofia foi-o seguindo com o olhar. Pressentindo que estava a ser observado, o rapaz virou-se na direcção de Sofia e o olhar dela prendeu-o. Ele sorriu e a jovem sorriu de volta mas a timidez de Sofia prevaleceu levando-a a desviar o rosto.
No coração do rapaz, nasceu uma enorme vontade de a conhecer. Os pais tinham-no arrastado para aquela nova cidade onde ele ainda não conhecia quase ninguém. Naquela tarde de domingo, resolvera dar uma volta e descobrira o bar. Como viu tantos miúdos da sua idade à porta, pensou em entrar para se começar a ambientar. Porque não começar por aquela rapariga que o observava? A sua expressão, diferente das miúdas que ele conhecia, despertara-lhe curiosidade.
Sofia sentia-se a tremer por dentro quando, pelo canto do olho, percebeu que o rapaz caminhava na sua direcção.
- Olá. Estás sozinha? Posso sentar-me aqui? – Sofia levantou o rosto e perdeu-se nos mais belos olhos castanhos que já vira. Sem conseguir articular palavra, acenou com a cabeça.
- Obrigado. Como te chamas?
A jovem encontrou um fiozinho de voz para responder:
- Sofia. E tu? – disse ela, muito baixinho.
- Tomás. Vivo cá há pouco tempo. Ainda não conheço muita gente. Como te vi aqui sozinha, pensei que não te importasses de me fazer companhia. Vens aqui muitas vezes?
- Nem por isso. Ao domingo, costumo ficar em casa a ler mas, hoje, as minhas amigas convenceram-me a vir.
- Que sorte a minha. – Tomás sorriu e olhou no fundo dos olhos dela. Sofia nem queria acreditar mas ele parecia, genuinamente, interessado em conhecê-la. Os romances que lhe preenchiam as horas sempre a tinham feito sonhar com um príncipe encantado loiro de olhos azuis. No entanto, começava a achar que o azul era sobrevalorizado. Se calhar, ela estava a conhecer o seu príncipe muito diferente do que imaginava. A começar naquele profundo olhar de tom castanho avelã.
Primeiro capítulo desta história de cordel
Continua a minha participação no Desafio da Caixa de Lápis de Cor, da Fátima Bento.