Desafio dos Lápis de Cor #preto
Noite Escura
Sofia abrira os olhos mas, à sua volta, só via a mais negra escuridão. Aquela noite ia ser a mais longa da sua vida, sentia-o. Não conseguia dormir. O seu coração estava tão negro como o quarto com a desilusão que tinha sofrido.
Na tarde de domingo tinha conhecido aquele que acreditara ser a sua alma gémea. A conversa prolongara-se durante algumas horas com tal intensidade que parecia que se conheciam desde sempre. Tomás contara-lhe tudo sobre a terra donde vinha. Sofia falara-lhe da sua grande paixão, os livros. Ele acompanhara a casa para ela lhe emprestar alguns livros e despediram-se com um beijo no rosto. Mas tinha sido mais do que um beijo de amizade. Os lábios de Tomás aproximaram-se tanto dos lábios de Sofia que lhe tocaram no cantinho da boca. Um beijo quase inocente mas tão carregado de sensualidade que ela sentira as borboletas na barriga de que os romances falavam.
- Vemo-nos na escola? – perguntara Tomás, em tom de promessa ao que Sofia concordou com o olhar. Mas a semana já ia a meio e ainda não se tinham cruzado. A timidez da jovem não lhe permitia ter a iniciativa de ir procurá-lo como as amigas aconselhavam. Assim, de dia para dia, Sofia ia ficando mais triste, com a alma cada vez mais negra. A sua insegurança fazia acreditar que Tomás só tinha querido divertir-se à sua custa. Ele devia ter percebido a sua falta de jeito para lidar com rapazes e nunca tinha feito intenção de a procurar na escola.
A noite continuava mais escura que o habitual. Sofia sabia que era noite de lua nova mas achava estranho que a iluminação da rua não entrasse pelas frestas das persianas. Foi, então, que reparou que o seu rádio-despertador não exibia o horário. Agora percebia aquela estranha negritude que combinava com o seu estado de espírito.
De repente, ouviu um barulho que a assustou. Será que tinha ouvido bem? O som vinha da sua varanda, parecia que uma pedra tinha lá caído. Só havia uma maneira de descobrir, abrir as persianas e espreitar lá para fora. Às apalpadelas, lá conseguiu chegar até à janela. Fazendo o menor barulho possível, levantou as persianas. Nesse momento, como por magia, as luzes da rua voltaram a brilhar e Sofia descobriu um pequeno embrulho. Era uma pedra da calçada embrulhada num papel. Olhou para a rua que parecia tão silenciosa como era habitual. Não se via vivalma. Pelo canto do olho, tivera o vislumbre de um blusão preto que dobrava a esquina mas quando virara para lá o rosto já não conseguira descortinar ninguém.
Novamente deitada na cama, e esperando que os pais nada tivessem escutado, desembrulhou aquilo que parecia um bilhete. Escrito a tinta preta, começava assim:
“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez a tua rosa tão importante”*
Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes Concha, A 3a Face, Maria Araújo, Peixe Frito, Imsilva, Luisa de Sousa, Maria, Ana D, Célia, Gorduchita, Miss Lollipop, Ana Mestre, Ana de Deus, Cristina Aveiro, bii yue e o brilhante José da Xá
*"O Principezinho" de Antoine Saint-Exupéry foi um dos livros que Sofia emprestou a Tomás
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