Desafio dos Lápis de Cor #rosa
A vida em tons de rosa… ou talvez não
Pela manhã, o carro circulava devagar enquanto se aproximava da escola secundária. Sofia seguia em silêncio olhando a sequência de prédios. Mal conseguia abrir os olhos, na verdade. A noite anterior tinha sido passada a chorar.
Quando chegara a casa, depois do idílico fim de tarde na praia, os pais esperavam-na de rosto fechado. A jovem foi sujeita a um interrogatório como se de uma criminosa se tratasse. Nunca, em quase 17 anos de vida, tinha visto os seus pais tão zangados e, muito menos, irados com ela, a filha exemplar. Sofia não resistira muito tempo às perguntas com que os seus progenitores a bombardearam. O relato da sua história de amor, tão doce e puro, transformou-se, aos ouvidos dos seus pais, numa coisa má e sórdida.
Sofia ficou estupefacta quando percebeu que a sua mãe tinha descoberto a sua mentira porque Ana telefonara lá para casa à sua procura. Não conseguia entender porque é que Ana tinha feito tal acto. Seria possível que se tivesse esquecido do que lhe tinha pedido? Dentro da sua cabeça gerara-se uma grande confusão.
Os seus pais proibiram-na de continuar com aquele namoro e Sofia teve que concordar porque o pai ameaçou ir falar com o rapaz. Ela nunca poderia passar por tal humilhação. Para além disso, não estava autorizada qualquer saída que não fosse para a escola ou acompanhada pelos pais. Não passava pela cabeça de Sofia desobedecer aos pais mesmo que fosse por amor. Nunca seria forte o suficiente para lhes fazer frente.
Não foi capaz de jantar e deitou-se assim que pôde. Mas pressentiu que o sono não iria chegar nessa noite. Nem sabia que era possível chorar durante tanto tempo. Chorara por horas e horas. Pela desilusão que dera aos seus pais mas também pela desilusão que ela também tivera com a atitude dos pais para consigo. Apesar de os seus pais serem muito rígidos, nunca imaginara que pudessem ter uma reacção tão violenta perante a sua mentira e sobre a sua descoberta do amor. As lágrimas caiam também pelo fim do seu sonho cor de rosa e por ter que dizer a Tomás que não se poderiam continuar a ver. Nunca mais sentiria a força do seu abraço ou o sabor dos seus beijos. Continuava a não conseguir compreender o que acontecera para a sua melhor amiga lhe ter falhado daquela maneira. Logo a ela que estava sempre a seu lado e que a ajudava em tudo o que podia, apesar de muitos colegas dizerem que Ana se aproveitava do seu bom coração. Caramba, eram amigas. Porque não haveria de a ajudar?
O pai parou o carro à porta da escola e despediu-se dizendo:
- Vê lá como te comportas. Já percebeste que tudo se sabe.
Sofia acenou com a cabeça e saiu do carro em silêncio. Ao levantar a cabeça fez-se luz na sua cabeça. Finalmente, compreendeu que Ana telefonara para sua casa, propositadamente, para a prejudicar. A poucos metros estava Tomás encostado à sua brilhante moto azul-cobalto. Junto dele, estava Ana, insinuante, conversando com ele com um ar apaixonado. Nem reparou se Tomás correspondia à inusitada atenção. Naquele instante, as lentes cor-de-rosa com que via o mundo quebraram-se de forma irremediável.
Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes Concha, A 3a Face, Maria Araújo, Peixe Frito, Imsilva, Luisa de Sousa, Maria, Ana D, Célia, Gorduchita, Miss Lollipop, Ana Mestre, Ana de Deus, Cristina Aveiro, bii yue e os brilhantes José da Xá e João-Afonso Machado