Desafio dos Lápis de Cor #vermelho
15 anos depois
Sofia dava os últimos retoques no seu visual. Enquanto olhava a sua imagem reflectida pelo espelho, meditava no percurso que fizera até chegar ali.
Embora visitasse os pais com frequência, há muito que deixara de viver com eles. Quando entrara para a faculdade, fora viver com a tia Rosário. Ao libertar-se do amor sufocante dos progenitores, tornara-se numa jovem completamente diferente. A pouco e pouco foi fazendo novas amizades e embrenhou-se a vida universitária. Continuava a ser uma aluna de excelência o que não impedia de ir às festas. Tal como qualquer outra jovem, conheceu um ou outro rapaz com quem namorou. De vez em quando pensava que tinha encontrado o amor da sua vida mas, quando as coisas não corriam de feição, voltava a pensar em Tomás. Mesmo sabendo que cada um deles tinha escolhido o seu próprio caminho.
Embora fosse alguns fins de semana a casa, não tinha o hábito de conviver com os antigos colegas . Apenas se encontrava com Helena. Fora assim que seguira, à distância a vida de Tomás. Por ironia do destino tinha acontecido com Ana e Tomás aquilo que os seus pais tinham temido que acontecesse consigo. Ana e Tomás tinham sido pais de um menino, antes de completarem 20 anos.
Os livros e a escrita continuaram a fazer parte da sua vida embora a sua formação nada tivesse a ver com literatura. Aliás, andava sempre com um caderno onde apontava os seus pensamentos, aquilo que lhe ia acontecendo, as histórias que nasciam no seu íntimo, os seus poemas… A sua colecção de cadernos era famosa entre os seus amigos mas não os mostrava a ninguém.
No seu último ano de faculdade, participara no programa Erasmus e viajara até Milão. A experiência de viver no estrangeiro foi tão enriquecedora que, com um interregno para fazer os exames para finalizar o curso, nunca mais deixou de trabalhar no estrangeiro. Depois de viver e trabalhar países europeus, sentiu-se preparada para realizar um sonho antigo, escrever um livro. Durante 2 ou 3 anos, todos os tempos livres eram ocupados a escrever e a estruturar a sua história. Nada disse à sua tia Rosário porque ela tinha amigos na área editorial. Aquilo que conseguisse, seria por si, pelo seu talento. Sofia tornara-se uma mulher segura e decidida, apostada a vencer fosse em que área fosse graças ao seu esforço.
E foi esse propósito que a conduzira aquele momento preciso da sua existência. Submetera o seu manuscrito a um prémio literário destinado a jovens escritores desconhecidos com menos de 35 anos. Com surpresa, viu o primeiro prémio atribuído ao seu romance. Quando a organização lhe perguntou pelo melhor lugar para receber o prémio e lançar o seu livro, viu nisso a melhor oportunidade para fechar um círculo e voltar à pequena cidade onde crescera.
Sofia sorriu ao olhar naquilo que o espelho lhe devolvia. Naquele dia, ela seria o centro das atenções e com aquele vestido vermelho-sangue sentia-se segura e poderosa, bem diferente daquela adolescente que quase se colava às paredes para que ninguém desse pela sua presença.
Um toque de baton, igualmente, vermelho e estava pronta para o seu momento de glória.
O auditório municipal onde a cerimónia ia decorreu estava à cunha. Toda a gente queria ver a filha da terra. Na primeira fila, os pais e a tia distribuíam sorrisos para a direita e para a esquerda.
A cerimónia decorreu com os elogios da praxe e os discursos emocionados habituais naquelas ocasiões. De seguida seria a sessão de autógrafos. Sofia perdeu a conta a quantos livros assinou e quantas pessoas cumprimentou. A mão já estava dormente mas não queria defraudar as expectativas de quantos ali tinham vindo. Então, viu-o. Levantara a cabeça para perceber se ainda restavam muitas pessoas e reparou num homem que lhe parecia familiar. Era alguém que segurava o seu livro aberto, como se já estivesse a lê-lo enquanto esperava. Sentindo-se observado, ele levantou os olhos do livro e cruzou o seu olhar com o de Sofia. Aqueles olhos cor de avelã eram inconfundíveis, não podia ser outro. Tomás aguardava o seu autógrafo. Nesse momento, Sofia sentiu-se ruborizar ao ponto do seu rosto reflectir o tom do seu vestido. O rosto ardia de tão vermelho que devia estar. Naquele instante, voltou a ser a adolescente tímida que era há 15 anos.
Participam neste Desafio da Caixa de Lápis de Cor da Fátima Bento, as brilhantes Concha, A 3a Face, Maria Araújo, Peixe Frito, Imsilva, Luisa de Sousa, Maria, Ana D, Célia, Gorduchita, Miss Lollipop, Ana Mestre, Ana de Deus, Cristina Aveiro, bii yue, os brilhantes José da Xá e João-Afonso Machado.
Agora também com a participação especial da nobreza na pessoa a talentosa e divertida Marquesa de Marvila