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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Eco, Carolina Deslandes

Charneca em flor, 20.09.21

Carolina Deslandes é uma das artistas mais surpreendentes do panorama musical português. Escreveu algumas das mais bonitas canções dos últimos anos. Nunca tem medo de arriscar. Já disse que era um amor para a vida toda para depois chegar à conclusão de que "fomos quase tudo, foi por um triz". Em Novembro, apresentou a curta-metragem "Mulher", de sua autoria, no Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra As Mulheres, através da qual pretendia chamar a atenção para a problemática da violência doméstica.

Na última semana, volta a surpreender apresentando a música "Eco" na conceituada plataforma digital internacional, Colors. Como já nos habituou, uma letra brilhante na qual apela à empatia. Espero que gostem. 

Boa semana.

Silêncio

Do silêncio eu faço um grito

E o corpo todo me dói

Deixai-me chorar um pouco

Não escrevas empatia
Se não queres saber
Olha pra Palestina
E pras casas a arder
Olha pra Colômbia
E pro apelo à liberdade
Pra polícia, pra milícia
Para a agressividade

E queres falar do quê?
Da loja que fechou
Da festa que alguém cancelou
Da roupa que não compraste
E ‘tás a falar do quê?
Das amigas que não viste
Quando a tristeza insiste
Em pintar a cidade?

Não te vale o hashtag
Se a alma é pequena
Não há cardinal que salve
Nem clout que roube a cena
O sangue corre nas ruas, bombas que caiem do céu
De famílias como a tua, que ninguém socorreu

Não me ouças, não me sigas se tu não te importas
Eu vim pra abrir ao pontapé todas as portas
Vim pra falar de genocídio, de racismo ao microfone
Há quem se esconda no cinismo, eu meto a boca no trombone
E rezo a Deus, acendo a vela e pergunto
Porque é que nos deste a terra se não governaste o mundo?
Porque é que nos deste a guerra e a vontade de querer tudo?
Porque é que quem sofre berra e quem governa é surdo?

Abraço os meus filhos esta noite com firmeza
Agradeço a paz e a comida na mesa
E só penso em quem ficou sem nada
Na sopa dos pobres, na sopa da mágoa
Não escrevas empatia só pra aparecer
Ser empático é comparecer
É sofrer por ver alguém sofrer,
É a ferida no corpo do outro que insiste em doer

Que insiste em doer
Que insiste em doer
Que insiste em doer

Silêncio
Do silêncio eu faço um grito

O corpo todo me dói

Deixai-me chorar um pouco

Silêncio
Do silêncio eu faço um grito
O corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco

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