Lições de Química, Bonnie Garmus
Os meses de Verão têm sido propícios para as leituras. No mês de Julho, para além dos que já partilhei e dos que ainda falta analisar, li também "Lições de Química" por sugestão da Joana da Silva do Clube do Livra-te. Este é o romance de estreia da californiana Bonnie Garmus.
A acção decorre nos Estados Unidos da América nos anos 60 do século passado. A personagem central é Elizabeth Zott, uma mulher que tenta singrar num mundo masculino. Ela foi uma brilhante aluna do curso de Química mas tem muita dificuldade em afirmar-se no mundo da investigação por ser mulher. As contingências da vida levam-na a abandonar a química para se tornar uma estrela de televisão através de um programa de culinária. Elizabeth olha para a culinária como uma ciência e é assim que procede no seu programa televisivo tornando-se extremamente popular mas incomodativa para muitos sectores da sociedade. Elizabeth aproveita a sua presença no espaço público para estimular as mulheres que a vêem a seguirem os seus sonhos mesmo que isso as leve a desafiar as convenções sociais. No fundo, é uma história de empoderamento situada numa época muito longínqua da definição desse conceito.
Bonnie Garmus construiu personagens muito interessantes ainda que com algumas características inverossímeis mas isso não me incomodou minimamente. Afinal, ficção é ficção. Adorei o cão Seis e Meia, um bom exemplo de como os cães podem ser inteligentes, só lhe faltava falar embora os leitores lhe conseguissem "ler" os pensamentos. Elizabeth Zott tem uma personalidade muito rígida e, algumas vezes, pensei que seria bom que ela cedesse nalgumas coisas para bem de todos mas a sua atitude é compreensível perante a sua história de vida. Adorei a parte científica da história ou não fosse essa a minha área de formação académica.
Resumindo, adorei a leitura deste livro que tem amor, empenho, luta por uma vida melhor, drama, humor e até ciência, tudo na medida certa. Gostei mesmo muito mas talvez não lhe tivesse dado aquele final embora tenha feito algum sentido. Eu teria-lhe dado um outro twist mas ainda assim "Lições de Química" foi um dos meus livros favoritos do ano.
"Era a mesma coisa para ele. Se alguém lhe tivesse perguntado, Calvin teria dito que Elizabeth Zott era a coisa mais preciosa do mundo para ele, e não por ser bonita, e não por ser inteligente, mas porque ela o amava e ele a amava com um certo tipo de plenitude, de convicção, de fé, que sublinhava o quão eram devotados um ao outro. Eram mais do que amigos, mais do que confidentes, mais do que aliados e mais do que amantes. Se as relações são um puzzle, a deles estava resolvida desde o primeiro momento - como se alguém sacudisse as peças da caixa e as visse cair todas na posição exata, encaixando umas nas outras, totalmente montadas, numa
imagem que fazia perfeito sentido. Eram a inveja de todos os casais."