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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Longa Pétala de Mar, Isabel Allende

Charneca em flor, 11.09.20

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Isabel Allende conseguiu a proeza de me fazer ficar acordada até tarde a ler. Já não me acontecia há muito tempo. Há imenso tempo que não li um livro desta escritora latino-americana. A "Longa Pétala de Mar" é o seu amado  Chile. Isabel Allende nasceu no Perú embora a sua família fosse chilena. A escritora viveu no Chile entre 1945 e 1975, o seu pai, diplomata, era primo do Presidente Salvador Allende deposto por um golpe de estado em 1973. Como era filha de um diplomata e também enteada de outro diplomata contribuíu para a fuga segura de indivíduos perseguidos pelo regime de Pinochet a ponto de ela própria ser ameaçada. Tal como tantos chilenos partiu para o exílio na Venezuela indo, mais tarde, para os Estados Unidos. Neste livro nota-se bem a influência desta experiência na escrita deste livro.

"Longa Pétala de Mar" atravessa um largo período do século XX começando em 1938 durante a Guerra Civil Espanhola e segue até 1994. Ao longo do livro acompanhamos a história de 2 espanhóis, Roser e Victor Dalmau, cujo fim da Guerra Civil empurra para o exílio para o Chile fazendo parte dos refugiados que embarcaram no Winnipeg. Este navio foi fretado pelo poeta Pablo Neruda para os levar para "a longa pétala de mar, de vinho e de neve"  como ele chamava, poeticamente, ao seu país. Ao longo deste romance acompanhamos a relação destes 2 amigos (Roser é viúva do irmão de Victor, morto em combate na Guerra Civil Espanhola), as vidas que cabem dentro de uma só existência bem como as pessoas que vão fazendo parte da sua história. 

Isabel Allende continua a possuir um enorme talento para construir personagens fantásticas e uma história arrebatadora ao mesmo tempo que nos ensina muito sobre a História do século XX. Com a leitura desta obra temos oportunidade de enfrentar muitos fantasms da Humanidade que, infelizmente, voltam a aparecer nalguns pontos do mundo como sejam as condições em que vivem os refugiados, a violência de uma guerra fraticida como é uma guerra civil ou a injustiça da perseguição por motivos políticos.

Embora a história seja verdadeiramente cativante só tenho a apontar algo de que não gostei tanto. A autora pretendeu abranger um grande período de tempo o que provocou grandes saltos temporais na narrativa. Ou seja, senti que o livro perdeu com essas lacunas. Mas isso resultaria num livro maior. Será que nos dias de hoje ainda há muitas pessoas que apreciem livros com 500 ou 600 páginas?!

 

"Aquele dia 4 de Agosto de 1939 ficaria para sempre gravado na memória de Víctor Dalmau, de Roser Bruguera e de mais dois mil e tantos espanhóis que partiam para esse país longo e afilado da América do Sul, que se aferrava às montanhas para não se precipitar no mar, e sobre o qual pouco ou nada sabiam. Neruda havia de defini-lo como uma 《longa pétala de mar, de vinho e de neve》, com uma 《cintura de espuma negra e branca》, mas isso não teria sido suficiente para dar a conhecer àqueles desterrados o destino que os esperava. No mapa, o Chile afigurava-se-lhes sinuoso e remoto."