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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Manual de sobrevivência de um escritor, João Tordo

Charneca em flor, 28.08.20

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O subtítulo deste livro, o pouco que sei sobre aquilo que faço, diz muito sobre aquilo que eu acho que norteou o autor durante a escrita desta obra. Poderia pensar-se que escrever uma espécie de manual para aspirantes a escritores seria uma sobranceria do João Tordo mas eu senti mais como um exercício de humildade do que como a exaltação do seu talento. 

João Tordo parte da sua vida e das suas características pessoais para explicar a dedicação, o esforço e a entrega que são necessários para se chegar a ser escritor. Para além disso, o autor fala da importância de ler muito e refere alguns dos livros que o influenciaram e que foram preponderantes para que ele enveredasse pelo caminho da escrita. Na sua descrição do ofício da escrita também utiliza palavras de outros escritores tornando este livro, igualmente, num manual de leitura.

No que me diz respeito, este livro fez-me perceber que nunca escreverei um livro. Sim, em tempos sonhei com isso mas já desconfiava que não tinha aquilo que é preciso para tal empreitada. Com esta leitura, tive a certeza daquilo que já tinha intuído. No entanto, sei que este livro fará de mim melhor leitora. Não é por perceber aquilo que está por trás de um livro que ele perde a  magia. Saber como é difícil e duro ser escritor faz-me valorizar ainda mais aquilo que tenho nas mãos quando pego num livro.

Esta obra trouxe-me um novo problema, fiquei com vontade de ler mais obras de João Tordo. Só li os 3 primeiros livros que publicou, "O livro dos homens sem luz", "As três vidas" e "O bom Inverno". Já tenho pouco espaço para acomodar mais livros. 

Quanto ao "Manual de sobrevivência de um escritor", acho que vou voltar a ele, de vez em quando. Talvez um dia volte a ter vontade de ser escritora*.

"Portanto, tu queres ser escritor.

Dentro de ti habitam as vozes. É questão de lhes dares ouvidos. Por vezes, elas surgem de maneira fortíssima e eficaz, tão poderosas que não tens outro remédio senão encher a página em branco."

"Neste sentido, os bons romances aliam a arte à técnica. Vão abaixo da superfície das coisas, mergulham mais fundo do que os princípios, conceitos ou estruturas em que estão assentes. Porém, tal como na música jazz, convém saber os acordes antes de improvisar. Daí que ler como escritor, tendo uma noção mínima da construção narrativa, seja tão importante. Retira algum prazer inocente à leitura, é certo, mas ensina-nos muitíssimo sobre a forma. Sem forma (que a técnica ajuda a construir), a prosa permanece, de facto, privada: pode estar repleta de boas ideias e de excelentes palavras, mas não comunica com eficiência."

 

*"Faz a ti próprio esta pergunta à maneira de Rilke: Preciso de escrever? E, caso a resposta seja positiva e sincera, então podes chamar a ti próprio 《escritor》, mesmo que nada tenhas publicado."

 

 

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