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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Manual para mulheres de limpeza, Lucia Berlin

Charneca em flor, 30.08.20

manual-para-mulheres-de-limpeza.jpgHá uns anos, num dia de aniversário, senti-me atraída pelo magnetismo deste olhar de Lucia Berlin e foi inevitável comprar este "Manual para mulheres de limpeza". Depois deixei-o na prateleira até agora. Até porque o livro tem mais de 500 páginas por isso quando ia pegar nele, assustava-me e desistia.

No entanto, ouvi, num podcast, alguém a falar desta obra e resolvi dar-lhe uma oportunidade. Afinal tinha uma pérola, ou melhor, um colar de pequenas pérolas na prateleira e não sabia. Como se trata de um livro de contos lê-se muito bem e nem se repara no tamanho. 

Lucia Berlin era uma escritora norte-americana que nasceu no Alasca em 1936 e faleceu em 2004. Embora tenha publicado inúmeros contos ao longo da vida, só recentemente é que teve o devido reconhecimento dos leitores e da crítica.

A autora teve uma vida cheia e tumultuosa. E foi precisamente na sua vida que se inspirou para escrever os seus contos que abordam alguns dos aspectos mais duros da natureza humana. Embora Lucia também escreva sobre o amor e sobre as emoções, debruça-se sobre o alcoolismo, a toxicodependência ou a violência. Mesmo quando as situações são dramáticas, Lucia consegue introduzir uma nota de humor ainda que subtil mas utiliza uma linguagem muito acessível. As histórias de Lucia são tão bem escritas que se tornam tão vívidas, mas tão terra-a-terra ao mesmo tempo, que nos sentimos envolvidos nas situações quase como se também fôssemos uma das personagens. 

Resumindo, "Manual para mulheres de limpeza" é uma colectânea de contos de qualidade literária notável e que vale muito a pena ler.

"Nunca vi os corvos a deixarem a árvore de manhã, mas todas as noites, cerca de meia hora antes de anoitecer, começam a acorrer vindos de todos os pontos da cidade. Pode ser que haja alguns pastores que paira  às voltas no céu, a chamarem outros ao longo de quarteirões, para que venham para casa, ou talvez cada um deles reúna elementos atrasados antes de se esconderem na árvore. Tenho-os observado bastante, seria de pensar que, nesta altura, já soubesse dizer. Mas só vejo corvos, dezenas de corvos, a voarem vindos de longe e de todas as direcções e cinco ou seis a sobrevoar em círculos como no aeroporto O'Hare, a crocitar e crocitar, e, depois, numa fracção de segundo, tudo fica silencioso e não se vê corvo algum. A árvore parece um acér comum. Ninguém diria que há tantos pássaros lá dentro."

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