O Homem Duplicado, José Saramago
"O Homem Duplicado" foi o 6o livro de José Saramago escolhido para a Leitura Conjunta de Saramago. Sendo que o objectivo inicial era a leitura de 12 livros em 2022, ano do centenário do escritor, vamos a meio da iniciativa.
Parti para este livro sem nenhuma expectativa uma vez que não fazia ideia do que tratava do livro. Ou melhor, pelo nome percebia-se que alguém descobre um duplo mas, para além do título, não sabia mais nada.
A personagem central desta obra é o pacato professor de História, Tertuliano Máximo Afonso. Após um colega lhe surgir um filme, descobre um actor que é, em tudo, igual a si próprio. Esta descoberta perturba-o de tal forma que a busca pela identidade deste "duplo" passa a dominar, quase por completo, a sua existência.
Espero não estar a ofender a memória de José Saramago ao dizer que, na minha opinião, este livro se poderá considerar um thriller psicológico pela maneira como ele estruturou a história. José Saramago conta uma história muito interessante mas o que torna o livro mais cativante é a maneira como o autor analisa a natureza humana. Saramago tinha um talento enorme para olhar para as pessoas e perceber aquilo que são capazes de fazer quando são colocadas perante uma situação limite e destabilizadora.
Embora eu tenha tido alguma dificuldade em progredir na leitura penso que isso não se deveu ao livro mas ao meu próprio estado anímico. Nem sempre encontramos o livro certo na altura adequada.
"O Homem Duplicado" tem, para além de tudo, 2 pormenores que tornam o livro ainda mais especial. Um dos pormenores a que me refiro é o facto de o autor ir lançando pequenas pistas, muito dissimuladas, ao longo do livro e que fazem sentido no final do livro. O outro pormenor foi uma referência a um dos meus livros preferidos de Saramago. Ao que parece há referências a outras obras mas que eu ainda não li. De onde se concluí que, quando conseguir ler todos os livros que Saramago escreveu, tenho que voltar a ler tudo outra vez para encontrar todas as referências .
"Acaba de lhe ocorrer agora mesmo, e for como se uma bênção retardada tivesse fi-
nalmente descido do chuveiro, como se um outro banho lustral, não o das três mulheres nuas na varanda, mas o deste homem só e fechado na precária segurança da sua casa, compassivamente, no mesmo escorrer da agua e da espuma, o libertasse das sujidades do corpo e dos temores da alma."
"Levará consigo um espelho de tamanho suficiente para que, retirada enfim a barba, as duas caras, ao lado uma da outra, possam comparar-se directamente, em que os olhos possam passar da cara a que pertenciam à cara a que poderiam ter pertencido, um espelho que declare a sentença definitiva. Se o que está à vista é igual, também o resto deverá ser, não creio que seja necessário porem-se em pelota para continuar com as comparações"