Passa-palavra #vento
Vento Nocturno
É noite e estou sozinha. Não consigo adormecer.
Um medo irracional invade-me enquanto oiço o vento a uivar lá fora. Já há muito que o vento desencadeia em mim, um pânico inexplicável. Obviamente que eu sei que o vento é fenómeno natural e até consigo perceber quais são as condições atmosféricas que desencadeiam as tempestades de vento. Só que conhecer a teoria científica não me deixa mais descansada, antes pelo contrário.
Nestas noites recordo-me de um filme que me marcou muito. Não sei se era um filme de terror mas a verdade é que me assustou-me muito. Ainda me arrepio quando me lembro das cenas em que o vento agitava as folhas das árvores como prenúncio de uma desgraça iminente. Com o vento que sopra lá fora temo que também me aconteça algo de terrível.
O plátano que existe junto à minha janela abana tanto que chega a bater no vidro. Ai, meu Deus, que a janela ainda se vai partir.
O meu coração bate aceleradamente. De repente, a campainha toca e eu assusto-me com o meu próprio grito. Não me consigo mexer. Eu não vou abri, nem pensar. A campainha volta a tocar desta feita de modo muito mais insistente.
Só nessa altura é que eu acordo e me dou conta do sítio onde estou. Estou na farmácia e é noite de serviço. Eu adormeci e estava a ter um pesadelo. Quase que tropeço ao levantar-me para atender o utente que volta a tocar desalmadamente.
Chego ao postigo de atendimento com dois tomates maduros no lugar das bochechas. Peço desculpa pela demora, carregada de vergonha, e tento compensar o utente executando o atendimento com rapidez e competência.
Finalmente volto a recostar-me no sofá. Olho pela janela, para a escura madrugada. Não existe nenhum plátano junto à janela. A fantasia e a realidade confundem-se na minha cabeça. Fecho os olhos para descansar mais um pouco. Ainda faltam algumas horas para terminar o meu turno.
O vento volta a uivar lá fora. Eu abro os olhos alarmada. Será que não foi um pesadelo?!
Mais uma participação no desafio #passa-palavra da Mula e da Mel.