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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Se isto é um homem, Primo Levi

Charneca em flor, 07.06.21

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O autor de “Se isto é um homem", Primo Levi, era um químico, italiano e judeu que sobreviveu à vida num campo de concentração nos últimos anos da 2ª Guerra Mundial. Esta obra é um impressionante relato na primeira pessoa daquilo que se passou num dos mais negros períodos na História da Humanidade. Primo Levi viveu num dos campos de concentração de Auschwitz durante pouco mais de 1 ano. Essa experiência levou-o a escrever este livro em que a descreve de forma realista, objectiva e rigorosa sem cair na tentação do compreensível melodrama. Com ele sentimos humilhação, fome, frio, cansaço extremo, medo, resignação ou mesmo vergonha por aquilo em que se tornou para conseguir sobreviver ao campo. Porque para o regime nazi não foi suficiente exterminar seres indesejáveis – embora a maioria fossem judeus, também havia pessoas com outras origens – nas câmaras de gás. Aos presos que tinham condições para trabalhar, o regime “matava" de outra forma, através da humilhação destruía-se aquilo que torna um indivíduo num homem fazendo emergir os seus instintos mais primitivos.

Quem quiser, verdadeiramente, perceber o que foi o Holocausto tem aqui uma das melhores fontes de conhecimento. Esqueçam os livros que povoam os escaparates das nossas livrarias ostentando Auschwitz ou Birkenau no título. O Holocausto e o extermínio de judeus e outros seres humanos não foi uma fantasia de um qualquer escritor mais ou menos talentoso. Aconteceu e isso não se pode negar. Se o negarmos, abrimos a porta à sua repetição. Por melhor que um escritor investigue, aquilo que escrever nunca se conseguirá comparar aquilo que escreveu quem o sentiu na pele.

“Se isto é um homem" é um livro que fere a nossa sensibilidade e que nos faz pensar, “como é possível que um ser humano tenha feito isto a outro ser humano?”. No entanto, ainda bem que o li. A literatura deve servir para nos desassossegar e para alimentar em nós a empatia por quem nos rodeia, mesmo que seja alguém muito diferente de nós.

“Então, pela primeira vez nos apercebemos de que a nossa língua carece de palavras para exprimir esfa ofensa, a destruição de um homem. Num ápice, com uma intuição quase profética, a realidade revelou-se-nos: chegámos ao fundo. Mais para baixo do que isto, não se pode ir: não há nem se pode imaginar condição humana mais miserável. Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos escutarão e, se nos escutassem, não nos perceberiam. Tirar-nos-ão tem o nome: se quisermos conservá-lo, teremos de encontrar dentro de nós a força para o fazer, fazer com que, por trás do nome, algo de nós tal como éramos, ainda sobreviva.”

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