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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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A Viagem do Elefante, José Saramago

Charneca em flor, 22.02.22

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"A Viagem do Elefante" e o Monte Branco (Alpes)

O grupo de Leitura Conjunta de Saramago escolheu, para o mês de Fevereiro, "A Viagem do Elefante". Li esta edição mais antiga que pertenceu ao meu sogro, já falecido, o que tornou a leitura ainda mais especial.

Numa das primeiras páginas do livro, o autor explica que resolveu escrever este livro depois de numa viagem à Áustria, a Salzburgo, se ter deparado com algumas imagens de madeira entre as quais figurava a "nossa" Torre de Belém. A pessoa que o acompanhava contou-lhe que o Rei português D. João III oferecera, como presente de casamento, um  elefante indiano ao Arquiduque da Áustria, Maximiliano II. O pobre animal viajara desde Lisboa até Viena atravessando grande parte de Europa incluindo os Alpes. Partinda deste facto histórico, do qual não existem muitos registos, Saramago aplicou toda a sua mestria e imaginação para construir mais uma história fascinante em que os protagonistas são o elefante Salomão e o seu cornaca mas também a organização social portuguesa e europeia da época.

José Saramago escreveu este livro com a saúde num estado muito debilitado. O autor chegou a temer falecer antes de o terminar. 

Não sei dizer aquilo que mais me fascinou, se a imaginação que Saramago aplicou na "reconstrução" da viagem do elefante ou a sua acutilância na análise das contradições da sociedade da época mas que continuam presentes.  Saramago utilizou o exemplo desta atribulada viagem para mostrar como os ditames de quem nos governa, ou comanda, nos podem conduzir a caminhos íngremes e difíceis de percorrer como aconteceu com o elefante.

Achei admirável que um homem de quase 90 anos ainda mantivesse as suas capacidades intelectuais intactas a ponto de ser capaz de escrever um romance que tem tanto de divertido como de denunciador dos males da sociedade. E ainda ser capaz de piscar o olho aos seus leitores mais assíduos ao colocar uma referência a um dos seus livros mais icónicos.

"A Viagem do Elefante" proporcionou-me bons momentos e levou-me a viajar por essa Europa fora, sentada no dorso do elefante. É impossível não ficar apaixonada pelo Salomão, pelo seu cornaca e pela relação tão estreita que havia entre eles.

"Não se pode descrever. Realmente, o maior desrespeito à realidade, seja ela, a realidade, o que for que se poderá cometer quando nos dedicamos ao inútil trabalho de descrever uma paisagem, é ter de fazê-lo com palavras que não são nossas, que nunca foram nossas, repare-se, palavras que já correram milhões de páginas  e de bocas antes que chegasse a nossa vez de as utilizar,  palavras cansadas, exaustas de tanto passaram de mão em mão e deixarem em cada uma parte da sua substância vital."

 

"as intermitências da morte", José Saramago

Charneca em flor, 31.01.22

IMG_20220129_154226.jpgUm dos livros que me acompanhou neste mês de Janeiro foi "as intermitências da morte" de José Saramago. Tratou-se de uma releitura por causa da minha participação num "clube de leitura " dedicado aos livros de José Saramago uma vez que, este ano, se comemora o centenário do nascimento do Prémio Nobel da Literatura português.

Um facto interessante de reler um livro, quase 12 anos depois do primeiro contacto  com esta história, é reparar em pormenores que me escaparam nessa altura. Como é óbvio, já não sou a pessoa que era em 2010 uma vez que amadureci como pessoa e como leitora. José Saramago construíu uma história muito interessante e divertida apesar da morbidez do tema. Como é expectável, o autor, através desta história, passa importantes mensagens políticas e sociais bem como a crítica à Igreja como era seu apanágio. Será que gostaríamos de viver nesta realidade em que não se morria mas que se continuava a envelhecer e a adoecer? Seria agradável ficar num limbo entre a vida e a morte? Que implicações sociais e económicas teria esta situação? Mais um livro que me fez pensar apesar de também me proporcionar momentos agradáveis.

Para quem nunca leu Saramago, este é um bom livro para começar.

"É a todos os respeitos deplorável que, ao redigir a declaração que acabei de escutar, o senhor primeiro-ministro não se tenha lembrado daquilo que constitui o alicerce, a viga mestra, a pedra angular, a chave de abóbada da nossa santa religião, Eminência, perdoe-me, temo  não compreender aonde quer chegar, Sem morte, ouça-me bem, senhor primeiro-ministro, sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja."

 

 

Centenário de José Saramago

Charneca em flor, 16.11.21

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Estátua de José Saramago na sua terra natal

Azinhaga (Golegã)

2017

 

Daqui a um ano assinala-se o centenário do nascimento de José Saramago. Hoje iniciam-se as comemorações com esta Sessão de Abertura no Teatro de São Luiz:

"A escritora Irene Vallejo lerá um Manifesto pela Leitura, seguindo-se um concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Pedro Neves. O programa é composto por As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz, de Joseph Haydn, com leitura de textos de José Saramago pela atriz Suzana Borges."

Ao longo deste ano, as iniciativas serão inúmeras seja através da Fundação José Saramago mas também através de outras instituições. Nos próximos meses, serão reeditadas algumas obras, a leitura dos livros nas escolas será estimulada e também haverá reuniões académicas sobre o tema quer em Portugal quer no estrangeiro. No site da Fundação poder-se-á encontrar mais pormenores sobre as comemorações.

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Eu descobri José Saramago já tarde uma vez que li o meu primeiro livro de Saramago há cerca de 10 anos. Nessa altura, uma pessoa que já tinha lido os livros quase todos emprestou-me "A Jangada de Pedra" e "As intermitências da morte". Fiquei fascinada e muito arrependida por não ter lido mais cedo. Desde essa época para cá já li mais alguns como podem ver aqui.

Sendo assim resolvi encetar a minha própria comemoração e estas são as iniciativas que pretendo realizar:

- Ler mais livros de José Saramago

- Ler os autores, e respectivos livros, que já venceram  o Prémio de Literatura José Saramago*, excepto aqueles que já conheço. Tinha esse projecto quando vi a série "Herdeiros de Saramago" mas como aderi a um clube de leitura acabei por não o realizar.

E, desse lado, há fãs ou curiosos com a obra de José Saramago? Como pretendem assinalar esta efeméride?

P.S. - Pelo que estou a ouvir na reportagem na TSF, a estátua já não está no mesmo local onde estava quando eu estive na Azinhaga. 

 

*Este ano, os responsáveis optaram por não atribuir o prémio uma vez a edição de livros foi reduzida devido à pandemia.