Mãe, Doce Mar, João Pinto Coelho
"Mãe , Doce Mar" foi um dos lvros do Clube de Leitura do Livra-te no mês de Fevereiro. Embora já tenha passado algum tempo desde que o li, acho que ainda vou a tempo de partilhar o quanto gostei deste livro. Já conhecia o talento deste autor através do "Perguntem a Sarah Gross" e tinha muita curiosidade em ler outros livros dele. No entanto, este livro foge dos temas habituais que inspiram João Pinto Coelho.
A personagem central de "Mãe, Doce Mar" é o jovem Noah que conhecemos aos 12 anos quando, depois de viver a infância num orfanato, conhece a mãe num aeroporto. Pouco tempo depois, Noah vai viver com a mãe e a sua existência divide-se entre Cape Cod, onde passam o Verão, e Connecticut. A relação entre os dois é feita de silêncios e mistérios como uma estrada que nenhum dos dois consegue atravessar. Na sua existência, repleta de segredos, cruza-se uma personagem peculiar com quem desenvolve uma amizade improvável, Frank O' Leary, um padre jesuíta.
O livro está organizado em várias partes. Em cada uma vamos antevendo alguns momentos do passado destas personagens que, no fim, nos ajudarão a unir as pontas que o autor foi deixando soltas para desvendar o mistério que envolve a existência de Noah.
"Mãe, Doce Mar" é uma história em que percebemos que o amor tem caminhos muito tortuosos, por vezes solitários, e que cada um aprende a lidar com os seus fantasmas de uma forma ou de outra. O final é inesperado mas genial.
A escrita maravilhosa de João Pinto Coelho é um dos pontos fortes do livro mas a forma como ele o desenvolveu é brilhante. É impressionante como, em menos de 200 páginas, o autor nos consegue arrebatar. É possível entregar uma boa história ao leitor de forma sucinta.
Adorei e recomendo vivamente.
"Sim, desisto-me!
A renúncia é a poesia que me prova a eternidade. Talvez Deus seja só isso, o alforge de moedas que largo na beira da estrada ou a queda para o abismo só por querer estar com alguém; talvez seja a outra face, o beijo de dois amantes, a dor impronunciável de uma perda sem remédio.
Ama e faz o que quiseres,
a mais dura das sentenças que deixou Santo Agostinho. Já a encontrei em T-shirts, nas paredes das estações do Metro de Nova Iorque, por vezes atribuída a outros autores mais prováveis, poetas do Underground, Mama Cass, Mick Jagger..., cer- tamente nunca escrita no sentido original.
Ama e quê?
Estúpidos! Já nada há a fazer, se amar for o que eu penso: carregar alguém às costas e subir descalço a montanha por um caminho de vidros, esse açúcar espezinhado com que salgamos as feridas."