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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

"O corpo é que paga", António Variações

Charneca em flor, 13.06.22

Há 38 anos morria, em Lisboa, o  artista português mais surpreendente de sempre. António Variações teve uma carreira musical de, apenas, 2 anos. Sempre que aparece alguém mais fora da caixa é com ele que se compara. As suas canções são apreciadas até hoje mas ele não sabia uma única nota musical. António Variações foi uma pedrada no charco e continua a ser uma referência.

 

Corpo de Mulher, Milhanas

Charneca em flor, 08.03.22

Esta semana a publicação musical da semana mas ainda bem que aasim foi. Assim posso partilhar este música do Agir que a compôs para o Festival da Canção. A jovem e talentosa intérprete Milhanas cantou com muita emoção. Para mim, esta é a vencedora. Como hoje é Dia da Mulher, achei que fazia todo o sentido partilhar este "Corpo de Mulher"

 
"Dá-me um corpo de mulher
Mesmo que o tornem invisível
Rasguei do mundo o meu papel
Nasci não para dar, mas para ser

Laivos de dor, em feridas de sal
Calei a voz, não me vês como igual
Dei mais e mais de mim
Mas nunca chega, não chega pra ti

Tenho um corpo de mulher
Eu sei, tem sido mais difícil
Neguei viver por um anel
Nasci para voar sem me prender

Laivos de dor, em feridas de sal
Soltei a voz, e gritei: sou igual
Dеi mais e mais de mim

Mas nunca chega, não chеga pra ti

Andei, pisei, num chão de vidro
Brasas que queimam se visto a minha pele
Mas reclamei o que me é devido
E a mim sou fiel"
 
Boa semana.

Centenário de José Saramago

Charneca em flor, 16.11.21

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Estátua de José Saramago na sua terra natal

Azinhaga (Golegã)

2017

 

Daqui a um ano assinala-se o centenário do nascimento de José Saramago. Hoje iniciam-se as comemorações com esta Sessão de Abertura no Teatro de São Luiz:

"A escritora Irene Vallejo lerá um Manifesto pela Leitura, seguindo-se um concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Pedro Neves. O programa é composto por As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz, de Joseph Haydn, com leitura de textos de José Saramago pela atriz Suzana Borges."

Ao longo deste ano, as iniciativas serão inúmeras seja através da Fundação José Saramago mas também através de outras instituições. Nos próximos meses, serão reeditadas algumas obras, a leitura dos livros nas escolas será estimulada e também haverá reuniões académicas sobre o tema quer em Portugal quer no estrangeiro. No site da Fundação poder-se-á encontrar mais pormenores sobre as comemorações.

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Eu descobri José Saramago já tarde uma vez que li o meu primeiro livro de Saramago há cerca de 10 anos. Nessa altura, uma pessoa que já tinha lido os livros quase todos emprestou-me "A Jangada de Pedra" e "As intermitências da morte". Fiquei fascinada e muito arrependida por não ter lido mais cedo. Desde essa época para cá já li mais alguns como podem ver aqui.

Sendo assim resolvi encetar a minha própria comemoração e estas são as iniciativas que pretendo realizar:

- Ler mais livros de José Saramago

- Ler os autores, e respectivos livros, que já venceram  o Prémio de Literatura José Saramago*, excepto aqueles que já conheço. Tinha esse projecto quando vi a série "Herdeiros de Saramago" mas como aderi a um clube de leitura acabei por não o realizar.

E, desse lado, há fãs ou curiosos com a obra de José Saramago? Como pretendem assinalar esta efeméride?

P.S. - Pelo que estou a ouvir na reportagem na TSF, a estátua já não está no mesmo local onde estava quando eu estive na Azinhaga. 

 

*Este ano, os responsáveis optaram por não atribuir o prémio uma vez a edição de livros foi reduzida devido à pandemia.

 

Florbela Espanca

8 de Dezembro de 1894 - 8 de Dezembro de 1930

Charneca em flor, 08.12.20

Hoje passam 90 anos sobre o dia que Florbela Espanca escolheu para  morrer, no dia em que fazia 36 anos. Uma alma perturbada mas que foi capaz de elaborar os mais belos poemas. Aqui fica aquele ao qual fui roubar o meu nome virtual.

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Todos nós temos Amália na voz

Centenário do nascimento de Amália Rodrigues

Charneca em flor, 01.07.20
Fiz dos teus cabelos a minha bandeira

Fiz do teu corpo o meu estandarte
Fiz da tua alma a minha fogueira
E fiz, do teu perfil, as formas de arte

Fiz das tuas lágrimas a despedida
Fiz dos teus braços a minha dança
Dei o teu sentido à minha vida
E o grito dei-o ao nascer de uma criança

Todos nós temos Amália na voz
E temos na sua voz
A voz de todos nós

Dei o teu nome à minha terra
Dei o teu nome à minha arte
A tua vida à primvera
A tua voz à eternidade

Todos nós temos Amália na voz
E temos na sua voz
A voz de todos nós

A tua voz ao meu destino
O teu olhar ao horizonte
Dei o teu canto à marcha do meu hino
A tua voz à minha fonte

Todos nós temos Amália na voz
E temos na sua voz
A voz de todos nós

Dei o teu nome à minha terra
Dei o teu nome à minha arte
A tua vida à primvera
A tua voz à eternidade

António Variações

A minha Pátria é a Língua Portuguesa

Charneca em flor, 05.05.20

Hoje assinala-se pela primeira vez o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Foi em Novembro de 2019 que a Unesco aprovou a proposta de instituir esta comemoração:

Na proposta que foi aprovado podia-se ler "o português é a linguagem de nove estados-membros da UNESCO, que é a língua oficial em três organizações continentais e da Conferência Geral da UNESCO e é falada por mais de 265 milhões de pessoas, sendo uma das mais faladas no hemisfério norte".

Na argumentação para a ratificação da proposta, a UNESCO escreve que "é necessário implementar uma cooperação mais abrangente entre os povos através do multilateralismo, aproximação cultural e diálogo entre civilizações, em linha com o que está estipulado na Constituição" desta organização.

Obviamente que, há 6 meses, não era possível imaginar que este dia tivesse que ser assinalado de maneira mais virtual do que presencial. Mesmo assim decorrerão algumas iniciativas como por exemplo:

  • um evento virtual organizado pela Câmara Municipal de Lisboa que contará com a participação de alguns autores lusófonos. Esta iniciativa poderá ser acompanhada no site lisboa5l.pt.
  • Os “Contos do Dia Mundial da Língua Portuguesa”, um concurso literário organizado pelo Instituto Camões, a Porto Editora e o Plano Nacional de Leitura destinado a todos os jovens que estudam Português por esse mundo fora (a Língua Portuguesa é ensinada em mais de 70 países).
  • Espectáculos virtuais como os que vão decorrer em Luanda
  • Da minha língua vê-se o mar é o nome do concerto que a fadista lusodescendente Liliana de Faria dará nas redes sociais do jornal Correio da Venezuela,  a partir de Caracas na Venezuela
  • A Comunidade da Universidade de Coimbra, alunos, antigos alunos, professores e funcionários, publicaram um vídeo muito especial lendo Os Lusíadas assinalando também assim este dia tão especial

 

Seja como fôr e onde fôr, estamos separados pela distância, pela cultura, pela cor da pele, pelo distanciamento social imposto como medida de Saúde Pública mas unidos pela Língua Portuguesa. E essa é a nossa maior riqueza.

Como disse o poeta Fernando Pessoa, "a minha pátria é a Língua Portuguesa".

 

Sophia, 100 anos

Charneca em flor, 06.11.19

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A 6 de Novembro de 1919, nascia aquela que viria a ser uma das maiores poetas da língua portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen. Há 1 ano que o país celebra o dom desta vida que marcou a nossa cultura comum. As celebrações encerraram-se hoje com um espetáculo no Teatro de São Carlos. O Telejornal da RTP 1 também se associou a esta efeméride terminando  o noticiário com a declamação de um poema por Manuel Alegre e Beatriz Batarda. 

Não era tão bonito se o Telejornal termina-se todos os dias com a suavidade de um poema?

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
              
                                             Sophia  de Mello Breyner Andresen
 

Parabéns, Zeca Afonso (2/8/1929-23/02/1987)

Charneca em flor, 02.08.19

 

Se fosse vivo, faria hoje 90 anos. Zeca Afonso foi o autor de algumas das mais belas canções da música portuguesa. É mais conhecido pelo seu activismo, por ser um cantor de intervenção e porque a sua "Grândola, Vila Morena" entrou para a História por ter sido uma das senhas do Movimento das Forças Armadas que levou a cabo a Revolução dos Cravos. Mas nem só de canções de intervenção vive a sua obra que perdura até hoje. É quase impossível ter crescido no pós-25 de Abril e não ter crescido com a sua música. Faz parte do imaginário daqueles que têm, hoje 40/50 anos.

Muitas das suas canções têm letras escritas por ele. Na minha opinião, para além da sua sonoridade típica, os seus poemas são excepcionais. Como este  por exemplo

Dorme meu menino a estrela dàlva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é muito menina
Deixa-a vir também adormecer

 

 

Dia da Língua Portuguesa

Charneca em flor, 05.05.19

Acabei de descobrir que a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa +/- ) dedica o dia de hoje, 5 de Maio, à Língua Portuguesa. Como eu sou apaixonada pela nossa língua, embora também goste muito de outras línguas, achei que fazia todo o sentido destacar este dia neste blogue. Para o efeito vou aconselhar a leitura desta crónica, "A Língua Portuguesa de A a Z", de Marco Neves. Já sigo o Marco Neves no seu espaço Certas Palavras onde escreve brilhantes e divertidos textos sobre as particularidades da nossa Língua bem como de outras Línguas com as quais nos cruzamos.

Fernando Namora, 100 anos

Charneca em flor, 15.04.19

Esta 2a feira, dia 15 de Abril, comemorou-se o centenário do nascimento de Fernando Namora, um médico e escritor português. Embora já não seja muito conhecido pelas gerações mais novas, teve muito êxito sendo o autor português mais traduzido do mundo, antes de José Saramago.

O seu género literário estendeu-se a várias áreas como o romance, a poesia, as crónicas e as narrativas. Uma das suas obras mais conhecida é "Retalhos da vida de um médico" onde o autor relata o que lhe ia acontecendo enquanto médico da província. Esses "retalhos" deram origem a uma série televisiva nos anos 80.

Durante a homenagem que lhe foi prestada na Casa-Museu Fernando Namora, o Presidente da República anunciou que o escritor será condecorado a título póstumo com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.