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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

História da Menina Perdida, Elena Ferrante

Charneca em flor, 23.10.20

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Já foi em 2016 que encontrei esta brilhante saga escrita pela misteriosa Elena Ferrante. Depois de me ter apaixonado pela história de Lina e Lenú, apressei-me a encomendar os restantes livros da tetralogia. Li os primeiros 3 livros de forma quase sequencial mas este "História da Menina Perdida" estava guardado como uma preciosidade em que não se quer tocar. Calhou pegar nele, agora. 

Através dos 4 volumes acompanhamos o crescimento e o desenrolar da amizade entre Lina e Lenú. A maneira como estão escritos faz com que pareça que estamos dentro desta história em vez de sermos meros espectadores. A escrita de Elena Ferrante é tão envolvente e cativante que dei por mim a ler até altas horas da madrugada o que já não me acontecia há muito tempo. 

Neste livro acompanhamos, em grande parte, a vida adulta das 2 mulheres e o seu caminho em direcção ao fim da vida. A amizade entre Lenú e Lina continua a ser determinante nas suas vidas embora haja sempre um conflito entre aquilo que Lenú conseguiu, enquanto escritora com algum sucesso, e aquilo que Lina poderia ter sido se tivesse aproveitado a sua inteligência inata. Percebemos como a vida pode ser surpreendente por bons e maus motivos e como um momento dramático modifica a vida das pessoas para sempre. 

Como pano de fundo ainda podemos observar ambiente político e social italiano e um pequeno vislumbre do crime organizado napolitano.

Elena Ferrante, em cada livro, transporta-nos para a Itália de uma maneira tão real que nos sentimos a calcorrear as ruas empedradas das cidades onde a história se vai desenrolando com principal relevo para a cidade de Nápoles. 

Elena Ferrante nunca se quis dar a conhecer porque diz que os livros falam por ela. Acredito que isso seja real e imagino, sempre, que Elena Greco é um pouco daquilo que Elena Ferrante será. Presumo que seja napolitana porque só isso explica que fale da sua cidade com tamanha paixão.

"Eu própria não consigo acreditar. Terminei esta história que me parecia que nunca mais terminava. Terminei-a e reli-a pacientemente, não tanto para melhorar a qualidade da escrita, como para verificar se pelo menos numa ou noutra linha era possível encontrar a prova de que Lila entrara no meu texto e resolvera dar o seu contributo para a sua redação. Mas tive de concluir que todas estas páginas são só minhas. Aquilo que Lila tantas vezes ameaçou que faria - entrar no meu computador -, não o fez, talvez nem fosse capaz de o fazer, foi uma longa fantasia minha de senhora idosa que nada percebo de redes, cabos, ligações, trasgos eletrónicos. Lila não faz parte destas palavras. Só aqui está aquilo que eu fui capaz de fixar. A não ser que, de tanto imaginar as coisas que ela teria escrito, e como, eu já não seja capaz de distinguir o que é meu e o que é dela."

Lotaria Literária #43

Charneca em flor, 12.02.20

"Não havia uma educação, não havia um hábito, só a minha habitual vontade de não fazer má figura."

História do Novo Nome

Segundo volume da saga A Amiga Genial

Elena Ferrante

Relógio d' Água

ISBN 978-989-641-544-0

A saga d' "A Amiga Genial" é composta por 4 volumes. Ainda me falta ler o último. Para mim, são absolutamente brilhantes. A minha análise a este segundo volume está aqui.

"História do Novo Nome", Elena Ferrante

Charneca em flor, 27.09.16

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Como dizia aqui assim que cheguei à última página de "A amiga genial" fiquei cheia de saudades das brilhantes personagens de Elena Ferrante. Não descansei enquanto não comprei os outros volumes da série. Resisti a lê-los compulsivamente porque aquilo que Elena Ferrante escreve deve ser saboreado com calma. Quando fiz a minha viagem à Escandinávia até deixei Lila e Lenú por cá por isso só agora é que acabei este segundo volume. Ler Elena Ferrante é desligar-me de tudo. Debruço-me sobre esta história e caio lá para dentro. Transporto-me para Nápoles, para a Amalfi, para Ischia (uma ilha onde os napolitanos costumam passar férias) e para Pisa e não ouço nada do que se passa à minha volta. Agora Ferrante aborda a fase da adolescência destas 2 amigas. A vida de ambas evolui de maneira muito diferente. Enquanto Lila permanece ligada ao bairro, Lenú vai-se afastando conforme vai avançando nos estudos. Os acontecimentos da vida de ambas acabam por afastá-las de modo quase irreversível mas os laços que as unem nunca se chegam a desfazer por completo. 

Este volume começa onde acaba o anterior, numa festa de casamento. A maneira desastrosa como acaba esta festa condiciona a relação entre os recém-casados. E daí se parte para uma viagem vertiginosa pelas sentimentos de todas as personagens.

 

"Na primavera de 1966, Lila, num estado de grande agitação, confiou-me uma caixa de metal que continha oito cadernos. Disse que não podia continuar a tê-los em casa, receava que o marido os lesse. Levei a caixa comigo sem fazer comentários , à parte algumas piadas irónicas à grande quantidade de cordel que lhe amarrara em volta. Naquela fase as nossas relações eram péssimas, mas parecia que só eu as considerava como tal. Ela, as poucas vezes que nos víamos, não manifestava qualquer embaraço, era afectuosa, nunca deixou escapar uma palavra hostil.

Qaundo me pediu que jurasse que nunca abriria a caixa por motivo nenhum, jurei. Mas assim que entrei no comboio desatei o cordel, tirei os cadernos para fora, comecei a ler. "

"A Amiga Genial" de Elena Ferrante

Charneca em flor, 30.05.16

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Este fim-de-semana terminei este "A Amiga Genial". E fiquei tal e qual como diz no fim da sinopse da contra-capa: "A Amiga Genial tem o andamento de uma grande narrativa popular, densa, veloz e desconcertante, ligeira e profunda, mostrando os conflitos familiares e amorosos numa sucessão de episódios que os leitores desejariam que nunca acabasse.". Fechei o livro e encerrei as personagens lá dentro sem saber o que lhes vai acontecer (pelo menos até comprar o livro que se segue a este que felizmente a autora teve a boa ideia de escrever). Este livro entra, sem sombra de dúvida, para os livros da minha vida. Elena Ferrante transportou-me para aquelas ruas do bairro de Lila e Lenú. Fez-me sentir na pele de Lenú com quem partilho muitos dos sentimentos que povoaram a minha infância e adolescência. Elena Ferrante merece todo o prestígio e fama que tem. Entendo um pouco da sua relutância em aparecer. Os livros falam por si, não são precisos mais artifícios. 

"A Amiga Genial" inicia uma série de 4 livros da autora italiana. E como tudo começa na infância, é também por aí que começa esta tetralogia. Nas primeiras páginas, uma Lenú já idosa sabe que a sua amiga Lila desaparecera de casa sem deixar rasto. Para contrariar essa vontade de desaparecer da amiga, Lenú recua 60 anos para nos descrever como se conheceram num bairro pobre dos arredores de Nápoles, como se tornaram amigas inseparáveis, como cresceram. À volta delas, desenrolam-se acontecimentos típicos da Nápoles dos anos 40/50 do século XX. A primeira parte do livro apresenta-nos o nascer da amizade entre as 2 crianças e a sua interacção com a escola. Lila é, naturalmente, brilhante, é atrevida, corajosa mas fisicamente desajeitada. Lenú tem que se esforçar mais para obter os mesmos resultados escolares, é tímida mas bonita. São como as 2 faces da mesma moeda. Completam-se. Com a adolescência, as suas vidas tomam caminhos diferentes e elas parecem afastar-se, psicologicamente sobretudo. No entanto, Lenú e Lila nunca se afastam completamente. Aquilo que parece separá-las, une-as irremediavelmente.

 

Uma excelente história, muito bem escrita por uma autora muito talentosa. Recomendo.

 

"Começara a estudar grego ainda antes de eu ir para a escola secundária? Fizera-o sozinha, quando eu ainda nem pensava em tal coisa, e no Verão, que era tempo de férias? Fazia sempre as coisas que eu havia de fazer, primeiro e melhor do que eu? Fugia de mim quando eu a seguia, mas entretanto ia na minha peugada para me passar à frente?

Tentei não me encontrar com ela por uns tempos, fiquei zangada.

(...)

Talvez eu devesse apagar Lila de mim como se fosse um desenho no quadro, pensei, e foi, creio, a primeira vez. Sentia-me frágil, exposta a tudo, não podia passar o meu tempo a segui-la ou a descobrir que ela me seguia, e de uma maneira ou de outra sentir-me diminuída. Mas não consegui, fui logo procurá-la."

 

A amiga genial e misteriosa

Charneca em flor, 05.05.16

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Finalmente este livro veio morar cá para casa. Já o tinha pensado comprar e também o tinha procurado no catálogo online da biblioteca da cidade onde trabalho. Os exemplares da biblioteca estavam todos emprestados. Hoje aproveitei o feriado municipal para fazer umas compras e est' A amiga genial saltou-me para as mãos. A curiosidade por este livro tem origem em vários factores. Em primeiro lugar, tenho lido críticas muito boas sobre a Elena Ferrante. Em segundo lugar a história passa-se em Itália, o meu país preferido (depois de Portugal) e onde já fui várias vezes. Em terceiro lugar, é impossível ficar indiferente a todo o mistério que envolve a figura de Elena Ferrante. A autora nunca aparece, não dá entrevistas e muito menos vai a sessões de autografos. Nem sequer vai às apresentações dos seus próprios livros. Ninguém sabe qual é o seu verdadeiro nome. Já comecei a ler mas ainda é muito cedo para expressar uma opinião.Ficará para depois.