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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

"Bela", Ana Cristina Silva

Charneca em flor, 07.01.22

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A figura de Florbela Espanca sempre me fascinou. Como já partilhei aqui, um dos seus poemas serviu de inspiração para o nome blogosférico, Charneca em Flor.

Através dos seus poemas, tive o primeiro contacto com a poesia. Florbela Espanca escreveu sobre o amor, a dor, o sofrimento e, com este romance, consegui compreender a razão para que Florbela tivesse escrito da maneira como escreveu.

Já li outros livros de Ana Cristina Silva mas, para mim, este é o meu preferido. A autora conseguiu transmitir a existência perturbada de Florbela Espanca de forma magistral. Gostei muito da maneira como o romance foi estruturado e da relação estabelecida entre as várias personagens. Ao longo da história, senti uma imensa empatia por "Bela" e sofri com ela. Comparando a condição feminina de hoje em dia com a época em que "Bela" viveu, percebe-se que, apesar de tudo, já foi percorrido um longo caminho. Muito do que "Bela" vivenciou foi influenciado pelo facto de ser mulher. A sociedade não foi capaz de a compreender.

Recomendo vivamente a leitura deste livro.

"Aquele instante marca uma fronteira, um sinal que levou à criação de uma nova história para a minha vida. Tinha descoberto que as palavras poéticas podiam sarar feridas. No dia seguinte,  o meu pai voltou a partir e eu passei a sonhar com os lugares imaginários onde ele me poderia levar quando fosse mais crescida. Para sobreviver à madrinha, nas minhas fantasias, renascia poeta e o meu destino  cruzava-se com versos incendiários lançados à multidão."

 

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Florbela Espanca

Charneca em flor, 21.03.21

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar-se? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em míticos arroubos?
Ou monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastros?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?

Florbela Espanca, Charneca em Flor

 

Neste Dia Mundial da Poesia podia escolher muitos outros poemas, alguns mais contemporâneos, mas Florbela Espanca é, para mim, sempre novidade.

Hoje e sempre, leiam poesia. A prosa fala ao coração mas a poesia enriquece a alma.

Florbela Espanca

8 de Dezembro de 1894 - 8 de Dezembro de 1930

Charneca em flor, 08.12.20

Hoje passam 90 anos sobre o dia que Florbela Espanca escolheu para  morrer, no dia em que fazia 36 anos. Uma alma perturbada mas que foi capaz de elaborar os mais belos poemas. Aqui fica aquele ao qual fui roubar o meu nome virtual.

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Lotaria Literária #112

Charneca em flor, 21.04.20

"Meus nervos, guizos de oiro a tilintar

Cantam-se n'alma a estranha sinfonia

Da volúpia, da mágoa e da alegria,

Que me faz rir e que me faz chorar!"

Poema Nervos de oiro de Florbela Espanca

366 Poemas que falam de Amor

Vasco Graça Moura

Quetzal

ISBN 978-989-722-265-8

Hoje não abri o livro ao calhas, fui mesmo à procura do poema marcado com o n° 112. Não fazia ideia que era um poema da minha musa inspiradora, Florbela Espanca.

Os versos que te fiz

Charneca em flor, 21.03.19

Deixa dizer-te os lindos versos raros 
Que a minha boca tem pra te dizer! 
São talhados em mármore de Paros 
Cinzelados por mim pra te oferecer. 

Têm dolências de veludos caros, 
São como sedas brancas a arder... 
Deixa dizer-te os lindos versos raros 
Que foram feitos pra te endoidecer! 

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda... 
Que a boca da mulher é sempre linda 
Se dentro guarda um verso que não diz! 

Amo-te tanto! E nunca te beijei... 
E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei 
Guardo os versos mais lindos que te fiz! 

Florbela Espanca

 

Hoje, 21 de Março, é o Dia Mundial da Poesia. E quem melhor para assinalar este dia senão Florbela Espanca, a inspiração para o meu alter ego, Charneca em Flor?

Tenho para mim que ler poesia de vez em quando, ou mesmo, todos os dias devia ser obrigatório por lei. Talvez ajudasse a construir um mundo melhor e com pessoas mais tranquilas.

Se Tu Viesses ver-me, Florbela Espanca

Charneca em flor, 21.03.17

O dia já vai adiantado mas ainda vou a tempo de partilhar um poema neste que é o Dia Mundial da Poesia. Escolhi Florbela Espanca, a poetisa alentejana que me serviu de inspiração ao escolher o meu nickname, Charneca em Flor. O soneto que escolhi pertence, precisamente, ao livro que leva o título de Charneca em Flor

 

Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

 

Bons poemas, hoje e todos os dias 

 

A Tua Voz de Primavera, Florbela Espanca

Charneca em flor, 21.03.15

Para comemorar o Dia Mundial da Poesia, escolhi este poema da minha poetisa preferida (a ponto de ter inspirado o nome que escolhi para a blogosfera). Aproveitem este início envergonhado da Primavera para ler um bom livro de poesia. Num poema, as palavras tornam-se música, sonho e fantasia

 

 

A Tua Voz de Primavera

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo desejo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"