1984, George Orwell
Neste mês de Setembro, o tema proposto pelo clube #umadúziadelivros foi "um livro com apenas uma palavra no título". Inicialmente, pensei em ler o livro "Bela" de Ana Cristina Silva e, talvez, ainda consiga lê-lo mas acabei por pegar neste "1984" para que fosse o livro mais importante deste mês.
Esta obra, de 1949, do britânico Orson Orwell é considerado um clássico da literatura europeia. A minha edição é a que está na imagem com uma belíssima capa de autoria do artista português Vhils.
"1984" é uma obra de ficção política mas também pode ser considerada uma distopia. Nesta história o mundo está dividido em 3 grandes potências, Oceânia, a Eurásia e a Estásia. Na Oceânia, a sociedade é dominada pelo Grande Irmão e pelo Partido e organizada em 3 estratos, o Partido Interno, o Partido Externo e os "proles". Estes pertencem ao nível mais baixo da sociedade e estão fora da influência do Partido. Os membros do Partido são constantemente vigiadas através de um telecrã que, não só vigia, mas também difunde as mensagens que o Partido emite. O Partido determina todos os aspectos da vida dos seus membros, seja o trabalho, a habitação, as relações amorosas e até os pensamentos. O Partido domina tudo desde a informação, a arte, a literatura até ao próprio passado chegando a reescrevê-lo várias vezes.
Presumo que o autor tenha criado esta "sociedade" a partir daquilo que se conhecia sobre os regimes totalitários que emergiam na Europa naquela época, principalmente o regime comunista, o fascismo espanhol, italiano ou português ou mesmo o Nazismo que já tinha terminado aquando da publicação do livro. No entanto, a distopia imaginada pela mente brilhante de Orwell tem um certo paralelismo com aquilo que vivemos hoje com a utilização massiva da Internet e das redes sociais. Aderimos, voluntariamente, a uma espécie de "Grande Irmão" que parece vigiarmos até os pensamentos no sentido em que uma determinada pesquisa faz com que sejamos bombardeados com outras publicações subordinadas ao mesmo tema, por exemplo. Ou a criarmos a nossa bolha nas redes sociais que nos faz acreditar que todas as pessoas pensam da mesma maneira e que concordam connosco.
"1984" é um livro importante para compreendermos a sociedade em que vivemos mas também para termos um vislumbre do que é viver sob o jugo de um regime totalitário baseado na existência de uma única pessoa/Partido. No entanto, não é um livro para qualquer pessoa. Não quero com isto dizer que é um livro para um certo tipo de intelectuais mas que o leitor que pega neste livro deve ter algum interesse e conhecimento em Política e em História mas tem que ter uma visão abrangente e clara da sociedade em que quer viver. Para mim "1984" pode ser uma perigosa arma na mão de alguns negacionistas e chalupas que pululam por aí.
"Lá fora, mesmo através da janela fechada, o mundo parecia frio. Em baixo, na ruam pequenos remoinhos de vento lançavam poeira e papéis rasgados em espirais e, ainda que o sol brilhasse e o céu se mostrasse de um azul severo, parecia não haver cor em nada, exceto nos cartazes afixados por toda a parte. O rosto de bigode negro mirava, sobranceiro, de cada canto e esquina. Havia um na fachada da casa mesmo em frente. O GRANDE IRMÃO ESTÁ A VIGIAR-TE, dizia a legenda, enquanto os olhos escuros fixava profundamente os de Winston."