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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Os Memoráveis, Lídia Jorge

Charneca em flor, 11.05.20

Já tenho comentado várias vezes que leio poucos livros escritos por mulheres principalmente mulheres portuguesas. Essa constatação incomoda-me por isso tenho feito o propósito de comprar mais livros de autoras. Foi o que aconteceu quando comprei este "Os Memoráveis" de Lídia Jorge. Adquiri-o na Feira do Livro, penso que deve ter sido mesmo no ano de lançamento, 2014. Tinha lido um excerto na revista "Ler" que me aguçou a curiosidade. Acabei por não o ler nessa altura porque o ofereci ao meu sogro, entretanto falecido, no aniversário. Há uns meses, acabei por pegar nele e tinha o objectivo de o ler antes do aniversário do 25 de Abril. Acabei por me atrasar mas aqui estou eu.

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E o que é que a Revolução dos Cravos tem a ver com este livro? Tem quase tudo. O fio condutor da história é, precisamente, uma investigação jornalística sobre alguns protagonistas da nossa Revolução com o objectivo de contar a verdadeira História antes que caia no esquecimento. Este tema agrada-me especialmente porque a Revolução dos Cravos sempre me fascinou. Eu sinto um grande orgulho por ter nascido em 1974 já que esse ano ficou marcado na nossa história. Em criança acompanhava o meu pai nos festejos locais que assinalavam a data. O 25 de Abril faz parte da minha história pessoal apesar de não o ter vivido.

Depois deste enquadramento, vamos ao livro. Lídia Jorge escreveu esta história de forma muito peculiar. A trama desenrola-se em torno de uma fotografia que retrata um jantar que se realizou no ano seguinte ao da Revolução, em pleno Verão Quente., reunindo alguns dos protagonistas dos eventos de Abril de 1974. A autora nunca identifica claramente os protagonistas, assim temos que perceber a quem ela se refere e conseguir ler nas entrelinhas, ou seja, é preciso algum conhecimento e enquadramento histórico para entrarmos no enredo. Este livro também nos faz perceber que os nossos heróis são pessoas como nós que foram especiais num dado momento das suas vidas. Qualquer um de nós pode ser herói. Em "Os Memoráveis" somos levados a reflectir sobre como é que a nossa sociedade evoluiu desde 1974 até ao século XXI e o que é que fizemos com o legado da Democracia que os Capitães de Abril nos deixaram.

Lateralmente ao fio condutor, acompanhamos a relação entre a jornalista responsável pela reportagem, Ana Maria Machado, e o seu pai, também ele jornalista, bem como o reencontro com os seus antigos colegas de curso e o confronto com as suas próprias memórias.

No geral, gostei de ler este romance porque me fez olhar de outra forma para a nossa história recente. Talvez volte a ler Lídia Jorge. Quem sabe.

"Eu conhecia a fotografia desde sempre, e julgava reproduzi-la com precisão,  mas afinal guardara dela uma recordação imperfeita. Havia fixado manchas em vez de rostos, e nem me lembrava da mesa. Agora o que me surpreendia era a nitidez dos contornos. As feições dos fotografados emergiam, debaixo do vidro, marcadas sob forte efeito de luz. Um contraste branco-preto intenso apresentava relevos e sombras que eu não havia registado. O próprio movimento e a destreza resultante da composição do grupo surpreendiam-me."

 

Lotaria Literária #11

Charneca em flor, 11.01.20

"Ou havia alguma coisa de mais profundo, e por isso menos palpável, que tinha a ver com o novelo indestrinçavel que estaria escondido no interior de si mesmo?"

Os Memoráveis

Lídia Jorge

Dom Quixote

ISBN 978-972-20-5436-2

Este livro está na casa onde vivia o meu falecido sogro. Inicialmente comprei-o para mim, numa Feira do Livro, mas acabei por oferecê-lo ao meu sogro no seu aniversário.