Depois de uma leitura muito intensa nas primeiras semanas de Outubro, resolvi pegar neste "Adeus, Futuro" para terminar o mês. Este livro reúne as crónicas publicadas por Maria do Rosário Pedreira no jornal Diário de Notícias durante um ano e meio, entre o ano de 2018 e o ano de 2020.
Para quem não conhece Maria do Rosário Pedreira, ela é uma das mais importantes figuras do meio literário português. Embora já tenha publicado livros infantis, um romance, contos e livros de poesia, Maria do Rosário Pedreira tem na carreira editorial a sua principal actividade. A ela se deve a descoberta de inúmeros escritores portugueses contemporâneos. O seu enorme talento para brincar com as palavras levou-a também a escrever letras para canções maioritariamente para fado tendo entrado nesse mundo pela mão de Carlos do Carmo.
A pequena frase que dá título ao livro era a frase que a autora utilizava para terminar as crónicas mas não se pense que se tratam textos saudosistas. Nada disso. No entanto, a autora parte de histórias do seu passado, ou de relatos que lhe chegaram de outras pessoas, para analisar a sociedade actual naquilo que tem de bom e de menos bom. Já conhecia algumas crónicas porque Pelas suas palavras, percebe-se que Maria do Rosário é uma pessoa atenta ao mundo que a rodeia. Não concordo com tudo aquilo que escreve embora reconheço que estas crónicas me levaram a reflectir sobre coisas nas quais não costumo reparar ou dar importância. No entanto, às vezes também me questiono sobre o rumo que a humanidade vai tomar nos anos vindouros.
"Eu sei que se desvalorizou o prestígio de falar bem em público (basta ouvir alguns dos nossos políticos...) e que os jogos, as séries em streaming, as redes sociais e o YouTube têm arrancado cada vez mais jovens à leitura: se, nos anos oitenta, estes usavam cerca de mil e quinhentas palavras no seu quotidiano, o número baixou actualmente para cerca de trezentas palavras (e algumas são 《fogo》, 《bué》, 《fixe》, ou simples muletas como 《meu》 ou 《tipo》). O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que nem sequer é o mais completo de sempre, tem 228 mil entradas, e o mais modesto Priberam, que pode consultar-se gratuitamente online, tem, mesmo assim, 115 mil. Se os nossos adolescentes não usam mais de trezentos vocábulos e a leitura não parece atraí-los para corrigir a situação, que irá acontecer-lhes no dia em que começarem a faltar-lhes os nomes para as coisas? Adeus, futuro."